“No Fla-Flu é o Ai, Jesus”
Hino do Flamengo
Lamartine Babo
Quando era pequena, meu pai já não gostava de me levar ao estádio, pois dizia que não era lugar de menina. Em Fla-Flu então, ele afirmava que conseguiria correr com meus irmãos no caso de uma briga, mas que comigo não dava pra garantir. Não é a toa que cresci com uma péssima imagem deste tal de Flamengo.
Cresci com o trauma. Meus irmãos me zoavam porque eles sabiam o que era o clássico dos clássicos e eu não. Dentre os Fla-Flus que a idade não me permitiu ir, o mais sofrido por estar ausente certamente foi o do dia 25/06/1995, no fabuloso gol de barriga de Renato Gaúcho.
Cresci e meu paizinho que eu tanto amo pagou a língua, pois se dizia que estádio não era lugar para meninas. Hoje ele sabe que segui seus passos, sendo rata de arquibancada dentro e, muitas vezes, fora do Rio.
Lembro do meu primeiro Fla-Flu. De fato, fiquei encantada com tantos gritos, sinalizadores, cantos, bandeiras e o êxtase de ambas as partes.
Neste 2015, quando o campeonato carioca começou, fui olhar a tabela para saber quando teríamos o primeiro clássico contra o Flamengo. Ao saber que seria só em abril, fiquei um tanto decepcionada. A ansiedade pelo embate é sempre uma data muito esperada.
Não vou negar que meu “anti-flamenguismo” é o meu segundo time. Porém, admito que nós e a urubuzada somos os astros do maior clássico do mundo. Sim! Por maior que tenha se tornado a liga europeia, nada ultrapassa o Fla-Flu. Sendo assim, tenho que engolir o meu desafeto sendo estrela de uma linda festa junto com o meu Tricolor.
O Carioca 2015 pode estar sem graça e morto, como esse Euricão do Roubinho está. Mas é fato que os mesmos têm que engolir nosso protagonismo da maior festa do futebol carioca.
Falando do meu sentimento quando antecede esses jogos, devo dizer que o Fluminense pode estar em qualquer lugar da tabela, o campeonato pode ser qualquer um e o jogo até mesmo um amistoso. Para mim, um Fla-Flu é sempre um confronto do que eu mais amo contra o que eu menos gosto no futebol.
Fico nervosa e o clima é de final de campeonato. Ir ao estádio sem olhar com marra para um urubu na rua é quase impossível. Inclusive, poderia escrever um livro sobre as vezes que passei sufocos por mexer com flamenguistas que não deveria.
Hoje estou mais tranquila em relação a implicâncias desnecessárias, mas o sentimento ao adentrar o estádio é o mesmo. Para mim, estão ali o bem contra o mal, o céu contra o inferno e por aí vai…
Longe de ser elitista. Abomino certas piadinhas em relação aos torcedores tricolores e os rubro-negros. Eu falo é de bom senso, estética e gosto apurado.
Eu falo é que não dá pra comparar Chico Buarque com Buchecha.
Sim. Eu quero ganhar todos os Fla-Flus que eu for para o resto da minha vida.
Mas por agora, ganhar amanhã, encaminhando a classificando e dando um chocolate de páscoa na mulambada, é algo que me deixará feliz à beça!
Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Posso chorar se ele não ganhar
Mas se ele ganha, não adianta
Não há garganta que não pare de berrar
Skank, “Uma partida de futebol”, 1996
Panorama Tricolor
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Imagem: Ziraldo
#SejasóciodoFlu