Fluzão de pai para filho (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, sinceramente eu não me lembro quando foi que me tornei tricolor. Tenho fotos antiquíssimas já com o uniforme verde, branco e grená, fotos de quando eu era bebê mesmo, de modo que não é muito incorreto afirmar que, se não nasci efetivamente tricolor, tornei-me torcedor do Fluminense ainda sem sabê-lo. Minhas memórias mais distantes são de acompanhar meu saudoso pai assistindo a reprises dos jogos do Fluminense no antiquíssimo programa Stadium, da TVE (hoje TV Brasil). Ali, mesmo sem saber os nomes famosos de jogadores que são decantados pelos mais velhos do que eu, já admirava as cores e o futebol apresentado pelo Fluminense. A partir desse momento, sempre acompanhei o time, embora tivesse demorado um pouco para que eu criasse interesse genuíno, já que não tinha o costume de ouvir os jogos no rádio: gostava mais de vê-los na televisão, e as transmissões não ocorriam com a mesma frequência, nem era tão fácil acompanhá-las devido ao horário.

Assim, embora eu tenha visto muitas partidas na segunda metade da década de 80, ainda era muito criança e não tinha uma noção vívida do que era o Fluminense. Isso começou a mudar com o “advento Super Ézio”. As narrações de Januário de Oliveira são a minha memória mais cara, e o termo criado para o super artilheiro tricolor jamais será esquecido. Tanto isso é verdade que, quando Ézio faleceu, eu passei um dia inteiro de luto, e nos dias seguintes ainda estava triste. Nunca o conheci pessoalmente, mas saber que um símbolo do amor que eu e meu pai compartilhamos veio a falecer foi um choque no meu inconsciente. Sabe, amigos… super heróis deveriam ser eternos. Com Ézio e com a primeira partida presencial num estádio de futebol, uma vitória sobre a molambada em 1990, de que já falei em outra coluna, passei a ser tricolor “de fato”. Já era um adolescente na década de 90, então acompanhei a época de vacas magras, que teve seu ponto alto no gol de barriga de Renato e no quase de 95.

E aí veio o teste final, os anos de chumbo. Se eu não tivesse criado uma identificação tão grande com o Fluminense, provavelmente teria desistido de torcer. Posso afirmar, sem medo de errar, que talvez nenhum time com o tamanho do Fluminense consiga se reerguer depois de cair tão fundo. Entre 1996 e 1999, fomos literalmente ao inferno. Os tricolores que, como eu, foram forjados nessa época, estão preparados para tudo. Vocês, jovens leitores, que não imaginam pelo que passamos, sugiro que pesquisem, para terem uma noção de como o Fluminense é titânico. Depois dos anos 2000, aparentemente o meu interesse (e o de meu irmão, também tricolor) pelo Fluminense superou até mesmo o interesse de meu pai. Lembro-me de só ter ido a três jogos do Flu na minha vida inteira sendo levado por meu pai. Ele sempre alegava que tinha medo da violência e não gostava de arriscar, por isso preferia ver ou ouvir o jogo em casa. Como passamos aperto no Fla x Flu em que ele me levou, o entendia.

Mas agora o pai sou eu, queridos. De 2000 pra cá muito aconteceu ao Fluminense e a mim. O Fluminense tornou-se campeão da Copa do Brasil, bateu na trave tristemente na Libertadores e na Copa Sul-Americana e faturou dois Campeonatos Brasileiros, sem contar a Primeira Liga. Eu tornei-me professor, casei-me, fui morar em outro lugar, passei a escrever pro Panorama Tricolor e, agora, observei com encanto o nascimento de mais um tricolor, meu filho Ícaro. A responsa agora é minha, sou eu que devo ensinar os valores que um dia meu pai me ensinou, e muito mais, não só a ele, mas ao meu sobrinho Yan, que com certeza nos acompanhará aos estádios daqui a alguns anos. Minha sobrinha Maria Clara já sabe o que é o Fluzão. E assim o Fluminense vai se perpetuar, pois cada nova geração certamente estará mais apaixonada e engajada que a anterior, garantindo ao Tricolor a perenidade que lhe é merecida.

Curtas:

– Como podemos ter superávit e atrasar salários? Alguém aí me explica?

– Quando achamos que o dinheiro do Diego Souza finalmente viria, tomamos uma talagada pela sacanagem feita com o Cavalieri. A diretoria merecia, o Fluminense, não.

– Muito bom ter visto o Richarlisson ser convocado pro lugar do Pedro, que infelizmente se machucou. Merecia muito.

– Não dava mesmo pra vender o Sornoza, né? Mas fico bastante preocupado com essa aparente confirmação de que não vamos contratar mais meias.

– Datas do confronto pela Copa Sul-Americana confirmadas: dias 20/09 e 04/10. Vamos dia 20 provavelmente sem Pedro (espero estar errado), mas para o jogo da volta ele precisa estar recuperado. Vamos com tudo pela vaga!

Panorama Tricolor

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