Diante de tantos dias difíceis para o mundo e o Brasil, bem como para o Fluminense que não engata a marcha, veio o Natal e, com ele, a lembrança de uma feliz coincidência para esta época.
Dois dos maiores goleiros da história do clube, Félix e Marcos Carneiro de Mendonça, fariam aniversário em plena celebração natalina. Félix na véspera, 24, e Marcos no dia 25. Separados por mais de quatro décadas de distância temporal no nascimento, ambos foram responsáveis pela fama que o Fluminense tem como uma escola de grandes goleiros, ainda que não tenham começado suas carreiras nas Laranjeiras, mas assim que vestiram as três cores se tornaram símbolos do nosso escudo.
Marcos era do America e veio para ser o primeiro grande ídolo do Fluminense e do futebol carioca, não o primeiro grande goleiro – o Flu tinha tido o tetracampeão Waterman entre 1906 e 1909. Chegou e fez história. Foi o primeiro goleiro da Seleção Brasileira, o primeiro campeão dela, foi tricampeão pelo Fluminense e se tornou uma lenda como discreto sex symbol das arquibancadas tricolores – as torcedoras eram loucas por ele e alguns rapazes mantinham a discrição que a homofobia impunha à época. Com sua fita roxa prendendo o calção e sua camisa com o gigantesco escudo do Fluminense, Marcos foi um goleiro tão marcante que ainda é falado 100 anos depois de seu tricampeonato tricolor. Mais tarde, foi presidente do clube e novamente campeão em 1941, no histórico Fla-Flu da Lagoa. Por sua casa, o Solar dos Abacaxis no Cosme Velho, vários amigos de sua filha Bárbara Heliodora – a principal profissional da crítica teatral no Brasil e uma das maiores especialistas em Shakespeare no mundo – eram tricolores de coração, como os super atores Sergio Britto, Ítalo Rossi e Fernanda Montenegro. Não bastava honrar o Fluminense: Marcos o semeou pela vida brasileira.
A tarefa de Félix não era nada fácil quando chegou ao Fluminense em 1968: preencher a lacuna deixada anos antes por ninguém menos do que Castilho, o maior ídolo da história tricolor. Mas o goleiro já vinha calejado, com 30 anos de idade, e acabou se tornando um monstro em três cores: pentacampeão carioca, tricampeão da Taça Guanabara e, de quebra, foi o goleiro titular daquela que, para muitos, é a maior seleção de todos os tempos – a campeã em 1970 no México. Não existe torcedor do Fluminense na faixa de 55 a 60 anos que não tenha em Félix um ídolo supremo. Foi um goleiraço no Flu e na Seleção, ainda que tenha contado com a eterna má vontade da imprensa esportiva, o que no fim pouco importa porque não adianta brigar com os números e os fatos. A Félix coube a transição de uma era de ouro para o Fluminense, entre meados da década de 1960 até a metade dos anos 1970, quando o clube era respeitado nacional e internacionalmente.
Enquanto torcemos para que o Fluminense atual decole no Brasileiro e se liberte de seus bastidores abjetos, a lembrança recente do aniversário de dois heróis tricolores em plena época de Natal é um bálsamo. Estejam onde estiverem, que Marcos Carneiro de Mendonça e Félix ajudem o Flu a se libertar de amarras históricas. Que os ídolos do passado sirvam de inspiração para o confronto de logo mais diante do líder São Paulo.