Amigos, amigas, Germán Cano enguiçou na largada e ficou para trás na corrida da artilharia da temporada. Foram seis jogos sem balançar as redes, dois deles, é bem verdade, sem sequer ter entrado em campo. O jejum já começava a preocupar, até porque o artilheiro parecia andar jogando com o freio de mão puxado. Pois é! Mas sempre chega a hora de sermos lembrados da vida real. E nela Cano faz muitos gols. Foram cinco nos dois últimos jogos, mostrando que, se o Fluminense não voltou inteiro das férias, o argentino goleador está de volta.
O primeiro de Cano foi com sua marca registrada. Posicionou-se atrás da defesa vascaína e aproveitou o desvio de Keno, que não conseguiu o domínio, para bater de primeira, sem chance para o arqueiro adversário. O segundo foi uma dessas obras de arte que fazem com que o Maracanã seja o que é. Tinha que ser num clássico. E tinha que ser no último lance, porque nada mais fazia sentido após o golaço do meio de campo. Adiantado, o goleiro tentou chegar na bola, mas só ajudou a valorizar esteticamente a obra prima de Germán.
Felizes daqueles que estiveram no Maracanã na noite de ontem. Aliás, num jogo que surpreendeu do início ao fim e trouxe notícias contraditórias para ambos os lados. O torcedor cruzmaltino deve ter ido para casa com a cabeça do tamanho de um condomínio. Não só pela derrota e por ter visto seu ex artilheiro balançando a rede duas vezes pelo maior rival. A dor mais dura foi a de ter visto o time superior ao adversário durante praticamente todo o jogo. O resultado não foi só injusto com o Vasco, foi cruel.
Quem esperava por um massacre tricolor viu mesmo foi a estrela do goleiro Fábio brilhar. Foram pelo menos duas grandes defesas, que impediram um resultado mais justo no Maracanã. O Fluminense só foi superior no jogo durante os minutos que antecederam o primeiro de Cano, convertido aos 20 minutos. Dali em diante, jogo equilibrado, até que o Fluminense se encolheu no final e levou um tremendo sufoco antes do lance final, do golpe de misericórdia nas pretensões vascaínas.
A quatro rodadas do final da fase classificatória, na sexta posição e com dois clássicos na agenda, o Vasco pode pagar caro por não ter transformado a exibição de ontem em pontos. Dificilmente encontrará um Fluminense tão disposto a facilitar as coisas novamente. E tudo começou com o desconforto na coxa de Ganso, que acabou poupado no clássico. É aqui que a gente entra naquela boa e velha discussão. Tem que se preocupar com o resultado ou com fazer testes e preparar o time para quando a temporada pegar fogo?
A verdade é que uma coisa não necessariamente impede a outra, mas priorizar a preparação me parece bem razoável, ainda mais com um time que se reapresentou a duas semanas da estreia no Flamengão 2023. Arthur tem 17 anos e não está preparado para assumir um papel de protagonismo no time profissional. Ironicamente, podemos dizer que essa é uma ótima razão para Diniz escalá-lo num clássico, com Maracanã cheio e muita pressão. Não se aprende a nadar fora da água, mas Arthur acabou se tornando um peso a mais para os demais carregarem. Já não bastasse David Braz, que vez ou outra entregava a bola para os adversários. Guga, improvisado de lateral esquerdo (até quando vai isso?), também se enrolava constantemente. Como todos atuavam pelo lado esquerdo e era por ali que o Fluminense insistia em atacar, o saldo do primeiro tempo foi sairmos de campo sem termos molestado o goleiro adversário.
Com a entrada de Lima no lugar de Arthur, o Fluminense foi aos poucos se encontrando. Quando saiu o gol de Cano, aos 20 minutos, o Flu já chegara algumas vezes com perigo. Logo após o gol, Diniz tirou Keno e colocou Yago. O Fluminense perdeu a ofensividade que o levara ao primeiro gol e convidou o Vasco a jogar no nosso campo. O gol de Cano, já no último lance da partida, foi um consolo para quem teve que aturar um jogo que mais parecia uma reunião de condomínio, em que bola rolando era um plus.
Espero que duas semanas treinando e uma sequência de jogos tragam o nosso Fluminense de Fernando Diniz de volta, pois estamos com saudade daquele futebol que arrancava suspiros da plateia. O que vimos até aqui também arranca suspiros, mas de tédio e preocupação.
Saudações Tricolores!