“O Brasil é uma República Federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus. Depois todos morrem”. A sentença implacável de “Serafim Ponte Grande”, livro do irretocável Oswald de Andrade em 1933, nunca foi tão onipresente. E, talvez, pelo fato da vida ser tão difícil é que buscamos algum sentido no futebol, essa doce paixão irresistível, cheia de falhas e, por isso mesmo, humanidade.
Do Odair eu falo mais tarde no programa. Sinceramente, já deu no saco. Vá com Deus, seja feliz e faça bom proveito de seus milhões. Nenhuma mágoa, exceto pelo monte de bobagens que falou no final, fazendo papelão de menino de recados. Marcão é o treinador, vou torcer por ele mas, se insistir com essa papagaiada de Caio Paulista e Felippe Cardoso, a opinião será a mesma.
Queria falar do Farid. Faleceu. Um personagem que, por décadas, apoiou o clube e certamente só não foi adiante por causa do enorme preconceito contra seu sobrenome – afinal, o Fluminense teve muitos dirigentes respeitáveis desde o tempo de Dico Maradona. Mas não importou: Farid estava lá e apoiou, inclusive com dinheiro – o vil metal que poucos bilionários têm coragem de tirar do bolso, mas que muitos emergentes têm verdadeira obsessão pela posse – e o que mais tem sido a disputa política do clube do que uma briga de emergentes que querem ser nobres?
Certamente muitos vão agradecer hoje porque Farid, como se diz nas rodas populares, chegou junto e não deixou na pista. Muita gente, amigos meus inclusive. E com sua morte, fico a pensar em quanta gente ajudou e trabalhou pelo Fluminense em seus bastidores, longe dos likes e compartilhamentos, longe dos impulsionamentos, tudo muito antes dessa era de picocelebridades.
Nenhum clube conquista um grande título sem o grande trabalho de muita gente. É que nem no finalzinho do filme: já parou para ler os créditos de todo mundo que trabalhou para viabilizar a obra? Pois é.
Para chegar até aqui, o Fluminense atravessou um século com o esforço de muita, muita gente. Muita coisa que jamais virá à tona, muitos grandes tricolores que foram decisivos fora das quatro linhas para o sucesso dentro delas – e nenhum desses gigantes é um tuiteiro bocó.
Aos parentes e muitos amigos de Farid, um abraço e força. A seguir, as palavras emocionadas de nosso companheiro Owerlack Junior, amigo pessoal:
“Farid Abrão David, grande tricolor e amigo nos deixou nesta noite de sexta.
Ainda sentidos pela pancada da perda do nosso “Chapinha” Ubirany do Fundo de Quintal, vem mais esta batida forte.
Farid tinha um coração do tamanho dele. Ajudava sem olhar quem e, às vezes, sem saber até porquê. Daí a entrar para a política foi um pulo. Foi deputado estadual por vários mandatos e prefeito de Nilópolis por três vezes, ainda o era atualmente.
Mas ele era assim, uma criatura doce que não combinava com a aura que circundava o nome da poderosa família que colocou o nome de Nilópolis e da Beija Flor no mapa mundi.
Além da política, Farid tinha outras duas paixões. A Beija Flôr de Nilópolis, onde foi presidente por 18 anos e o Fluminense, clube para o qual torce toda a família, e que junto com seu irmão Anízio, muito ajudou financeiramente nos piores momentos, custeando reformas, pagando prêmios e salários.
O time tricampeão de 1983, 1984, 1985 era presença constante nos churrascos na casa da família. A Beija Flor tinha uma ala só dos jogadores, capitaneada pelo radialista Pierri Carvalho.
O título de 1995 seria improvável, não fosse a ajuda nas contratações, salários e, sem trocadilho, nos bichos.
Farid era presença constante nos treinos, jogos, viagens do Fluminense.
Na final do estadual de 1985, jogo do tri contra o Bangu, estávamos nas cadeiras especiais eu, meu pai, Farid, Seu Anízio, Capitão Guimarães. Mais acima, Castor de Andrade e dois seguranças. O homem forte do Bangu não quis ficar junto e lembro do Farid gritando para ele: “O Castor fica aqui porque para você hoje, o que der na cabeça é da banca”. Castor era tricolor.
Mesmo nas épocas onde a grana não faltava no futebol, ajudavam a pagar funcionários e outras despesas.
Os tempos são difíceis, as perdas são cruéis. Nos consolam as boas lembranças.
Siga em paz, Farid. Saudações Tricolores.”