Fico impressionado como muita gente sequer imagina como funciona uma SAF, diante das notícias do suposto 1 bilhão na Portuguesa de Desportos.
Uma SAF não compra um clube! Ela pode pagar para usar a marca do futebol. Se for algo pago à vista (e normalmente nunca é), esse valor entra para abater a dívida do clube social e não para contratarcatletas do elenco, como alguns torcedores incautos acham. Esses valores normalmente aliviam o passivo de curto prazo do clube social e podem, até por negociação, ser reduzidos.
Ao longo da SAF, o investidor pode por um “acordo de acionistas” prévio se comprometer em investir um valor no time, mas isso é difícil de acompanhar e ele vai fazer basicamente através do fluxo de caixa que vai gerar pela própria SAF, obviamente aliviado da dívida que deixou ao clube social e que, pela lei, terá que repassar 20% da receita ao próprio clube (que só pode ser usada para abater as dívidas e não para outro uso), mais 50% dos dividendos (lucro), que normalmente nos primeiros anos será 0 (zero).
O caso da Portuguesa inclui um ativo, que é um estádio e seu terreno, que o investidor vai vender em parte, monetizar e parte investir no remanescente do estádio em uma operação imobiliária.
Fazer paralelo com o Flu é um equívoco.
Primeiro, nosso passivo é um absurdo (possivelmente superior a 1 bilhão), devido a uma gestão que beira a ser temerária.
Segundo porque o estádio de Laranjeiras e a sede são tombados e não podem ser utilizadas em especulação imobiliária. Até o uso de excedente de gabarito (que requer lei municipal específica) teria que ser aprovado para serem os valores reinvestidos no próprio conjunto arquitetônico, que está muito ruim.
Portanto cada SAF é um modelo distinto (que deve seguir as regras da Lei) e é feita uma customização societária para a situação de cada clube, porém fica mais difícil modelar quanto maior a dívida, como no caso do Fluminense.
Há porém uma questão básica de compliance e puramente ética que é: quem negocia a SAF pelo clube social não pode ser contratado ou gestor da parte compradora, que é a nova empresa/SAF e, portanto, se estranha muito a especulação de que o atual presidente do clube poderia assumir a gestão da futura SAF tricolor.