Amigos, eu fui sábado ao Laranjal. E em solo sagrado, vi nossa equipe sub-17 vencer o Atlético-PR no jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil. Cheguei aproximadamente aos 20 minutos da primeira etapa, quando o jogo estava empatado em 1 x 1 e vi, ainda no primeiro tempo, o segundo gol da nossa molecada de ouro. A insistência e a perseverança minha e de aproximadamente 2 mil tricolores que compareceram e prestigiaram nosso time de garotos foi premiada, no apagar das luzes, com um pênalti a nosso favor que foi assinalado pelo árbitro e convertido pelo jovem Gérson. Com o resultado de 3 x 1, nos classificamos para as semifinais.
O grande fato da tarde pra mim, além da apoteose tricolor no fim do jogo, foi ter a possibilidade de me reencontrar com o Flu (quase não pude acompanhar os jogos in loco este ano) e com as Laranjeiras. Nesse reencontro, acabei tendo um momento de reflexão sobre o nosso tricolor e tudo que o cerca. No intervalo, enquanto aguardava o reinício do jogo, sentei-me (após ter ficado de pé o tempo todo) e pude reparar o quão maltratadas estão as arquibancadas populares. Olhei pros degraus deteriorados sob minha cabeça no exato instante em que nosso time descia para os vestiários.
Pensei no quanto de história já tinha presenciado nesse estádio – hoje acanhado e maltratado pelo tempo – e em como é lamentável seu atual estado de conservação. No instante em que nossa prata da casa voltava do subsolo das sociais para o campo e em que ainda tinha na mente o pensamento sobre a nossa casa tricolor, não tive como não associar essa situação (nosso time de garotos promissores resgatando o jogo pra nossa torcida na nossa casa) com tudo que estamos passando hoje em dia fora das quatro linhas.
Essa dicotomia do novo com o antigo (nosso time de jovens no nosso estádio tradicionalíssimo, porém antiquado) naquele momento me pareceu mais que coincidência. Estamos vivendo um momento em que o Fluminense tenta caminhar para o futuro através de escolhas acertadas (investimento na divisão de base, programa sócio-torcedor agregando tricolores para a política e também para a composição do fluxo de caixa do clube, recuperação do nosso museu e outras intervenções na sede, pagamento a todos os funcionários, obtenção do CT profissional, entre outras) e, ao mesmo tempo, se vê vítima do antigo, do atraso.
O atraso? Sim, o atraso existente em nossas instituições. O personalismo em que se dá aos amigos tudo e aos inimigos a lei, a falta de isenção (e o claro conflito de interesse entre a atuação profissional e a paixão clubista), a falta de isonomia, o gritante desrespeito à coisa pública que ocorre quando se faz uso da estrutura pública (logo, daquilo que é de todos e de cada um) para conceder benefícios a uns e impor dificuldades a outros.
Se o Flu de hoje fosse o que, apesar dos pesares, venceu a Copa do Brasil e disputou duas finais continentais, eu certamente não iria me sentir tão confortável para escrever essas linhas, uma vez que éramos muito parecidos com tudo isso, do ponto de vista político e administrativo. Mas hoje vejo o esforço dantesco que nosso clube faz para saltar do século XX (quase XIX) para o século XXI e não há como não me indignar com tudo que se passa conosco nas altas esferas do poder, sobretudo porque o tricolor não quer privilégios, ao contrário, ele só quer tratamento igualitário.
Saí feliz pelo resultado conquistado em campo pela garotada sensacional de Xerém, mas muito preocupado com tudo que se passa conosco devido ao modus operandi imundo daqueles que usam de instrumentos públicos, a seu bel-prazer, contra os incômodos e/ou indesejáveis (no caso, nós).
Rafael Rigaud
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Foto: reprodução
http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=1184&idProduto=1216