A fita métrica, a fita métrica. Ora, direis, ouvir estrelas. Mas eu digo: a fita métrica. Tudo porque o Careca insistia na tese de que o seu era maior. Vamos aos fatos: diante da ciência não existe bazofia. A fita métrica. Ele foi mais longe: quem ganhar, leva. Estávamos só eu e ele – a mãe havia saído, de maneira que só tinha eu e ele: eu e Careca, Careca e eu. Tinha também a mesa de botão à nossa frente. Os meus eram de galalite. Pensei duas vezes: uma roleta russa. Do Careca, eu já tinha ouvido boas. Além do mais, sangue negro. Em um minuto, mil imagens. Se eu perdesse? Recuar agora era entregar o jogo. Mas aceitar suas condições também o era. Tentei renegociar, cortando a segunda cláusula. “Está com medo”, e riu como se me visse entre a cruz e a espada. O tempo passava. De repente, o Careca saiu do quarto. E voltou em seguida, radiante, com a fita métrica. Tudo tramava contra: a mãe que havia saído, filho único, órfão de pai. Estava solto no mundo, apanhava e levantava. E me vinha novamente aquela velha sensação: “tô fodido”. Até então, o Careca tinha sido legal: colocou na mesa de negociação suas cláusulas, ficou de saco cheio e arriou o short. Eu olhei os botões à minha frente: meu orgulho. Vice-campeão do torneio de Jacarepaguá, reunindo competidores da zona oeste e adjacências. Uma forma de fazê-los mais escorregadios, era esfregar vela e depois passar flanela. O filho da puta tomava um sacode de 5X0. E o pau do Careca subindo: valha-me Deus, uma vara. Reparei que o dito-cujo era mais escuro que sua pele amulatada. Eu tinha dois beques postados em cada canto do gol, aos quais chamava Galhardo e Altair, minha humilde homenagem ao grande time tricolor da década de 60. Nada disso precisava acontecer e eu poderia a essas horas estar em casa assistindo na televisão o meu seriado preferido: Nacional Kid. O pau do Careca foi aumentando à medida que se masturbava e, a certa altura, pegou a fita métrica e mediu: 22 cm.
Vinte e dois centímetros. Era uma marca e tanto. E ele ria, altaneiro, orgulhoso de si. Meu time de botão que me deu tantas alegrias. Fui arriando o calção bem devagar, convicto de que me seria impossível bater a marca: 22 centímetros. Meu time era formado por dois zagueiros, três no meio de campo e cinco no ataque. Era um 2-3-5 inesquecível. Não como o carrossel holandês porque sou do tempo em que cada jogador respeitava sua faixa de campo. E fui tocando punheta até quanto pude, sob o olhar atento e lúbrico do filho da puta. 18 centímetros. Mais um pouquinho. Até machuquei minha piroca cor de rosa na esperança de alcançar a marca. 18,20 cm. Fim de linha.
Naquele instante, a mãe do Careca chegava com as compras: fui salvo pelo gongo. A tarde estava linda. Eu sempre sou salvo pelo gongo. E voltei pra casa, ileso. Devedor mas ileso.
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Imagem: pra yt/Divulgação
E, até hoje, deve o botão ao Careca.
Belo texto, Skylab.
Abraço!
Parabéns pela estreia skylab. Que venham muitos e muitos posts!