O futebol vem perdendo cada vez mais com esta relação. Não é tampouco uma parceria.
Hoje é uma dependência perigosa.
Quarta feira passada, cerca de 7.500 heróis testemunharam Vasco e Botafogo, um dos grandes clássicos do futebol brasileiro, numa noite fria e chuvosa, às 22h. Estas pessoas saíram do estádio, com chuva, por volta da meia-noite de um dia útil, provavelmente tendo de estar em seus trabalhos cedo pela manhã. Correndo também o risco de não conseguirem pegar a última composição ativa do metrô, que para de circular por volta de meia-noite, mesmo com trem extra. Os jogos atrasam, o metrô atrasa e o cidadão paga a conta… sem contar os jogos contra times de menor investimento – aí o heroísmo aumenta. O próprio Fluminense sofreu neste campeonato com isso: pouco público em rodadas anteriores, compreensível por vários fatores.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os esportes são feitos para a TV e seus comerciais. Baseball, futebol americano, hockey e basquete têm dezenas de interrupções por partida – a festa dos patrocinadores. Esta é a principal razão pela qual o nosso futebol, amado mundialmente, não “pegar” por lá. A quantidade de intervalos é insuficiente. A federação americana consultou a FIFA para fazer intervalos de 10 em 10 minutos (pra agradar às TVs) mas não colou.
A diferença é que os eventos transmitidos por lá estão sempre lotados. Os horários são combinados com a TV para aproveitar ao máximo a possibilidade de transmissões ao vivo e estádios ou ginásios lotados. O chamado Monday Night Football (a última partida isolada da rodada do futebol americano) acontece há incríveis 40 anos. Uma peculiaridade: o horário do jogo depende do local onde este é realizado. Os Estados Unidos têm quatro fusos horários. Então, um jogo em San Franscisco, por exemplo, tem de ser realizado no fim da tarde (18h na costa oeste, 22h na costa leste). Imagine a nossa TV forçando a realização do jogo às 22h – duas da manhã em Boston e NY…
Completando este quadro, há a seguinte pergunta sem resposta: por que Vasco e Botafogo jogam, nos dois turnos – se não estou louco em vários campeonatos seguidos -, em meio de semana se os clássicos (seis para cada carioca) são, com certeza, os jogos de maior interesse para o público. Quem monta esta tabela? Qual o interesse por trás de se esvaziar esta partida?
O Vasco não jogou neste final de semana. O Botafogo também não. Duas partidas que tem muito pouco a decidir no campeonato. No entanto, semana que vem, o Atlético recebe o Flamengo para um jogo fundamental para o campeonato e o rebaixamento. Ambos terão a vantagem de saber o que seus adversários fizeram no fim de semana anterior. Mudar jogos de data em cima da hora mostra o amadorismo com que o campeonato é levado.
Estão matando a galinha dos ovos de ouro. Espero que percebam isso a tempo.
José Augusto Catalano
Panorama Tricolor/ FluNews
@PanoramaTri
Imagem: uol.com.br
Contato: Vitor Franklin
Fico pensando tb o qto a fórmula de pontos corridos tem culpa nisso tb…
Agalinha já morreu e esqueceram de enterrar. Futebol virou um grande negócio para os grupos que dominam a televisão no mundo. Não têm fronteiras e invadem o esporte em todos os países. No Brasil, horários e dias dos jogos são decididos pelas emissoras e o torcedor que se vire. Os clubes brasileiros, protagonistas dos espetáculos e sujeitados a uma falta de visão e planejamento dos cartolas, continuam de pires na mão, vendendo atletas para balancear suas finanças e perdendo vigorosamente público nos estádios. A motivação vai diminuindo e o público, sem dinheiro para pagar os altos preços dos jogos, vai sumindo e se acostumando com o confortável e seguro sofá. Jogadores brasileiros são artistas sem platéia.