Mamãe é flamenguista. Uma autêntica torcedora, que conhece futebol, vibra com o time, acorda a vizinhança quando o time está no ataque. Um gol é celebrado com um grito inigualável. Aprendi a torcer com ela. Não foi pequeno seu empenho e de boa parte da família para que eu me tornasse mais um rubro-negro. Camisas, placas com o escudo, pressão de todos os lados. Porém eu estava predestinado a ser tricolor. Não tinha como ser diferente. Entre nós sempre houve um respeito muito grande com os resultados alheios. Claro que eu seco o time da Gávea o quanto posso, mas em silêncio, às escondidas.
É um ato de cumplicidade entre eu e meu pai, que só comentamos entre nós as falhas do “clube de remo”.
Domingo passado foi dia das mães e também dia de Fla-FLU. Era dia dela, que cuida de mim até hoje e vela meu luto sempre que o Fluminense perde. Eu sabia que venceríamos. Algo em mim dizia que não poderia ocorrer resultado contrário. Saí da casa de Sepetiba por volta de 15h para poder ver o jogo sozinho no apartamento onde moro. Era um ato de respeito. Lá eu pude gritar sem culpa. Por mensagens eu me comunicava com meu pai e tínhamos a completa noção de que naquele dia dedicado às mães, deveríamos comemorar em silêncio. Eu optei por fazer barulho à distância.
Se hoje sou um apaixonado por futebol e não consigo me controlar de tanta emoção, é a ela que devo isso. Da mãe herdei a paixão por torcer, do pai o amor pelo clube de Laranjeiras. Ela engenheira química, eu jornalista e ator. Ela flamenguista, eu tricolor. Ela me abrigou no ventre e hoje vivemos sob o mesmo teto. Nossos corações são pintados de cores diferentes, mas entre nós prevalece o amor mútuo. Onde para muitos existem desavenças, para nós impera o respeito.
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