Quando se vê a história de uma pessoa e sobretudo de uma instituição ser ignorada, tem-se um convite à reflexão.
Quando, porém, percebe-se os que fazem atualmente o clube mais tradicional deste país cometem sequencias afrontas a própria história e natureza, não há outra reação senão um profundo pesar.
Ao surgir o verde de nossa tão companheira esperança na nova camisa, não percebi que ele e o sentimento que tal cor traduz seriam mero contraste às atitudes que a cercariam.
Minha ainda, infelizmente, pouca vivência interna ao nosso clube não me permite saber de onde ao exato surgiu a ideia de, ao termos disponível em páginas gloriosas de nosso passado a sentença vigorosa e ambiciosa “Vencer ou vencer”, lançar-se mão de um incompreensível “Vencer ou ganhar” em letras garrafais. Até que ponto os responsáveis por isso, sejam pessoas do clube ou de nosso fornecedor, se interessam de fato pela instituição à qual estão vinculados eu não sei. Penso que muito pouco – eufemismo que só o verde da esperança e a velha fidalguia permitem-me lançar mão ainda.
Não bastasse, o quê de incoerência persiste. Talvez, aliás, não se tratasse de um quê, mas de um oceano de contradições no qual a nova camisa parece ter tido como pia batismal. Em um cenário de deficiências no elenco, estrutura física do clube em dias questionáveis, receitas apertadas e um número de sócios que ainda custa a decolar, ver quem dirige o clube dizer que será com aquela camisa que venceremos o Brasileirão foi perceber(tardiamente, é verdade) o quão nosso presidente parece desconexo à realidade do Fluminense. Se ele acertar o palpite, será esplêndido, mas meus pés cravados no chão custam a acreditar.
Não sou tomado por desesperança, se esta for a impressão. Sou – ainda que com vinte e poucos anos – calejado por memórias recentes, de erros que se repetem perigosamente, com semelhantes ou até os mesmos personagens compondo tragédias ora definitivas ora com uma ponta de comédia no fim por mero acaso de um destino que anda por aí a tocar as cordas do universo.
Não há pensamento de inferioridade. É preocupação em essência, ao perceber que tal desconexão entre discurso e realidade traduz algo que pouquíssimas vezes se fez presente em nossos dias e quando esteve nunca nos levou a lugar algum: a falácia, que (quase)sempre é hábito do outro lado, dos desertores e de sua infundada soberba.
Sempre fomos de sentir com inteligência. Na última semana, porém, entre falácias e escorregões, Peter pensou com “emoção” demais e profissionalismo de lado. E os do anúncio? Nem de pensar se deram ao trabalho.
Certa vez, pontual em um instante do tempo mas com a atemporalidade que sempre lhe coube, Nelson nos disse: “”Está morrendo o nosso passado e insisto: um dia acordaremos sem passado.”.
Parecem querer recolher e queimar as páginas de nosso passado – em vários contextos e inclusive na acepção mais física da palavra. Felizmente, as arquibancadas de Laranjeiras emanam história. E as memórias daqueles que de fato as têm como parte de si são imperecíveis e inquebrantáveis como rochas: tudo e todos passarão, mas elas ali seguirão, sustentando nossa vocação à eternidade frente a, felizmente, efemeridade de alguns.
Saudações tricolores.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: ematos
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