A principal manchete esportiva de vários jornais do Rio de Janeiro de ontem, dia 17 de novembro de 2014, tinha conteúdo muito semelhante àquele que O Globo estampou em sua primeiríssima página: “Flamengo vence e entra de ‘férias’.” Isso, naturalmente, porque, com os três pontos conquistados no final de semana, o Flamengo, segundo os cálculos dos matemáticos, livrou-se do rebaixamento. Vejam aí a capa de O Globo:
http://www.netpapers.com/capa-do-jornal/o-globo/17-11-2014
Chamo a atenção para uma matéria relacionada ao Flamengo não porque me importe o Flamengo em si, mas porque, como todos devem imaginar, a situação tem relação direta com o caso Lusamengo, que a imprensa brasileira tentou e ainda tenta (com dificuldade, agora) transformar em Lusanense. Para estabelecer essa relação, proponho seguir, neste caso, o ensinamento de Assis: recordar é viver.
Ano passado, fechada a 35ª rodada do Brasileirão, o Flamengo estava com 45 pontos, quatro acima do Coritiba, a primeira equipe na zona de rebaixamento. O Fluminense tinha 42 pontos então. Nesta edição 2014, a primeira equipe na zona de rebaixamento, a Chapecoense, tem apenas 36 pontos contra 47 do Flamengo. Considerando a menor diferença de pontos para a zona de rebaixamento em 2013, o Flamengo “entrou de ‘férias’” apenas na 36ª rodada, quando chegou a 48 pontos.
Tudo parecia garantido, mas o Brasileirão de 2013 ensinou uma lição aos clubes brasileiros mais desatentos: ninguém pode entrar de férias antes do fim do campeonato. De férias, não se trabalha, por definição. Os jogadores, por contrato, ainda são obrigados a ir a campo, junto com a comissão técnica. Mas um descuido na parte administrativa pode levar um jogador suspenso a campo e…
… com o perdão da palavra: pode dar merda.
Deu ano passado. Depois da 36ª rodada, o Flamengo só veio a ganhar mais um ponto na partida final, contra o Cruzeiro. Partida essa em que, como hoje qualquer um sabe, o Flamengo escalou um jogador irregular, talvez porque alguém da diretoria estava de férias, relaxadão, tranquilão. Como disse o André Santos numa entrevista histórica que a mídia até hoje tenta esconder: criou-se “um pequeno probleminha”. Recordar essa é viver e rir um bocado:
O resto da história, todos sabemos. Não fosse pelo “descuido da Portuguesa” (palavras de Assef Filho), o Fla estaria na série B. Não fosse pela imprensa, teria sido alvo de um inquérito seríssimo ainda em 2013 e, possivelmente, estaria hoje na Série D junto com sua amiga de todas as horas, a Portuguesa.
O mais inacreditável é que a mesma imprensa que, na época, teve de se mobilizar para salvar o Flamengo, hoje, como se nada tivesse acontecido, simplesmente declare que o clube está de “férias” once again, ao mesmo tempo em que tenta apagar os vestígios de um possível crime de grandes proporções cometido no final do ano passado.
E olha que a operação-abafa tem cobrado caro da imprensa em termos de credibilidade. A última “notícia” cômica sobre o caso foi a “divulgação” (com cara de plantadona) da declaração que a secretária da Portuguesa teria dado ao MP-SP. Nesta declaração, a senhora teria afiançado que, antes da sexta-feira, o então presidente do clube, Da Lupa, teria dado ordem para esconder a citação da CBF para o julgamento de Héverton. Isso, presumidamente, indicaria que a tramoia foi feita antes de sexta, de modo que não poderia ser o Flamengo.
Se a secretária declarou mesmo isso, é muito provável que seja uma mentira deslavada, por duas razões. Primeiro, porque não faria sentido para nenhum clube comprar a Portuguesa antes de sexta, pois todos os possíveis beneficiados (Vasco, Flu e Coritiba, por exemplo) dependeriam de outros resultados. A prova cabal, contudo, é: a Portuguesa mandou um advogado para representá-la no julgamento de Héverton, o competentíssimo doutor Sestário. Se era para esconder o caso, que diabos doutor Sestário foi fazer no julgamento?
A torcida do Flu não tem alternativa: temos de nos mobilizar, agora de uma forma inusitada. Temos de impedir que o Flamengo entre de férias ou, pelo menos, temos de cobrar que a imprensa, a CBF, o STJD e a justiça comum informem a diretoria rubro-negra que as férias não envolvem o departamento jurídico. Isso porque, quando eles entram de férias, somos nós (TODOS) que trabalhamos! E, principalmente, somos nós, os tricolores, que sofremos.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: humorcombobagem.com