“Elephas” nada mais é do que uma espécie de elefante. A partir disso, acredito que o gabarito da piadinha do título esteja dado. Sim, estou me referindo aos elefantes brancos criados como palcos para a Copa do Mundo de 2014. É óbvio que para recebermos a competição, precisávamos de um bom número de estádios modernos. Mas quando se fala em Copa do Mundo (e em Jogos Olímpicos também), sempre é citado o legado. O problema é o uso que se faz dele.

Eis a lista dos nossos novos estádios:

– Arena Amazônia, Manaus.

– Arena da Baixada, Curitiba.

– Arena Fonte Nova, Salvador.

– Arena Pantanal, Cuiabá.

– Arena Pernambuco, Recife.

– Arena de São Paulo, SP.

– Estádio Beira-Rio, Porto Alegre.

– Estádio Castelão, Fortaleza.

– Estádio das Dunas, Natal.

– Estádio do Maracanã, RJ.

– Estádio Mineirão, BH.

– Estádio Nacional de Brasília (Mané Garrincha), DF.

Adianto que não vou entrar na querela de obras superfaturadas ou de uso de verba pública. Peço a você que analise racionalmente a lista acima e conclua o que será feito com cada um desses estádios após a Copa. Todos ficaram (ou estão ficando) lindíssimos e foram construídos com material excelente, além de ser eco sustentáveis. Até aí, ótimo. Mas se você fez a análise que pedi, percebeu que alguns serão naturalmente bem utilizados pelo futebol local. Porém, também percebeu que parte será completamente subaproveitada.

Claro que o discurso de cada um dos responsáveis é que existe um planejamento para, além de jogos, shows e eventos. Mas e o custo de manutenção? Quantas dessas localizações estão no circuito musical de grandes nomes ou mesmo estão acostumadas a receber grandes eventos que já não possuem local próprio?

Como nasci e morei em Brasília até 2011, utilizarei o Mané Garrincha como exemplo. Após receber uma merreca na despedida do Neymar, o GDF já anunciou que pretende cobrar 15% da renda bruta dos jogos realizados, mais os custos da manutenção. Pois bem, após esse primeiro momento e com a liberação do Maracanã, quantos jogos você acredita que Fluminense, Flamengo, Vasco e Botafogo farão lá por livre e espontânea vontade? De Brasiliense, Brasília, Gama, Ceilândia e companhia, aquilo não vive. Obviamente, a CBF “gentilmente” orientará que mais jogos aconteçam lá. Forçando os times a viajarem e afastando-os da torcida.

Como todos os times grandes do Brasil contam com uma torcida nacional, é óbvio que muita gente ficará feliz (eu ficaria se ainda morasse lá). Mas com os preços que estão sendo cobrados, por quanto tempo vocês acha que a arquibancada seguirá enchendo?

O nosso clássico vovô com o Botafogo poderia sim acontecer no Maracanã, mas muito se falou no Mané Garrincha e acabou na Arena Pernambuco. Sabe qual foi o último clássico nacional jogado em Recife? Foi um Fla-Flu em 1947. Até aí muito legal, né? Ter um jogo assim novamente. Mas acontece que a bola vai rolar ao mesmo tempo que o jogo do Santa Cruz, que tem a segunda maior torcida local. Ou seja, alguém vai ter menos torcedores.

Não digo que deveríamos ter feito menos estádios e nem digo que não seja interessante fazer alguns (eu disse alguns) jogos em outros Estados. Porém um dos defeitos da CBF e dos nossos governos é não saber (ou não querer) planejar. A Seleção voltará a fazer seus amistosos fora, pois leva muito dinheiro nisso. Os grandes times não estarão tão dispostos a viajar várias vezes e mandar seus jogos fora do Estado. As localidades com futebol deficitário dificilmente conseguirão valer a pena sua utilização.

Então, com o tempo, a tendência é que os estádios e arenas subutilizados comecem a sofrer com a falta de manutenção ou mesmo com a troca do material atual para algo mais barato, mais fácil de ser mantido. Seguindo assim os grandes e majestosos elefantes brancos poderão se tornar carcaças sem marfim.

Para ser sincero, eu torço muito para estar errado. Mas realmente temo pelo futuro. A foto que você vê ilustrando a coluna é um dos legados olímpicos da Grécia. Para não ver algo assim por aqui, tudo o que peço é que, agora que já está tudo quase pronto, haja um planejamento honesto e bem-feito.

ST!