A banda, o educador Rubem Alves e o Flu (por Marcus Vinicius Caldeira)

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Chico Buarque de Holanda é um dos maiores compositores de música popular do mundo. Um gênio, tanto em letras como em melodias. E além de tudo, é torcedor do Fluminense. Perfeito.

Rubem Alves foi um dos maiores educadores que esse país já teve, além de ter sido filósofo, psicanalista, escritor, teólogo… Mas, onde deu gigantesca contribuição foi mesmo no campo da educação, questionando a educação tradicionalista, o excesso de preocupação com o saber científico em detrimento da capacidade do educador em promover e despertar nas crianças em idade escolar a curiosidade e estimular descobertas, questionamentos e exercício de pensar e formular. Não sei para qual time torcia. Tampouco interessa. Infelizmente, nos deixou em 2014.

Mas o que tem a ver Chico Buarque, Rubem Alves e o Fluminense?

Lendo um dos livros do grande educador, ele dá uma interpretação magistral sobre a letra de “A banda”, na qual eu nunca tinha parado para pensar. Rubem Alves sempre pensou em educação com forma de fazer um povo, mas um povo movido por ideias. Gostava de citar o sociólogo Émile Durkheim, que dizia que um povo não é meramente uma massa de indivíduos, dos territórios que ocupam, das coisas que usam, dos movimento que realizam. Dizia Durkheim que eles são feitos das ideias que tem de si mesmo.

Em “A banda”, nos diz Rubens Alves, essa questão do povo ser feito das ideias que o move está bem representada. Que na música, antes da banda passar estava cada um com sua questão individual e que todos pararam para ver a banda passar (foram atrás de um sonho, um ideal, uma ideia e nessa hora, os indivíduos viraram um povo, na hora que a banda passou):

“O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas
Parou para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor”.

Pois bem, o Fluminense de hoje é um pouco isso. Cada um no seu canto, cada um com sua verdade, cada um com seu ódio, com sua frustração, sua solução para ser campeão de tudo, seu conhecimento sobre marketing, sobre como gerar receita para o clube… Somos tudo e não somos nada.

Somos como o faroleiro que contava vantagem e parou. Todo mundo sabe tudo de tudo e fica no seu mundinho opaco destilando ódio e verdades. Cada um do seu lado, cada um com sua dor e sem ter uma banda para passar e unir todo mundo, até porque muitos não querem, porque só conseguem superar seus fracassos “atirando” nos outros.

Todo mundo é culpado por isso.

Vivemos um mundo de redes sociais, que como disse o genial Umberto Eco, deu voz uma legião de imbecis. Nosso querido médico Michael Simoni que o diga. Ele escreve um post e logo em seguida tem de apagar porque vem uma horda de zumbis com suas verdades. No fundo ele se diverte, e eu também, embora seja triste.

Esta semana um destes veio espinafrar nosso querido Paulo Andel por conta do texto dele sobre o queridíssimo Mauricio Lima que por sinal adorava o Andel e o PANORAMA. O que passa na cabeça de um sujeito desse?

Há pouco tempo eu era o “bambambã”, um cara bacana por conta de ter contribuído para eleição do Abad e fui recém chamado de “filho da puta e vendido” por um, porque fiz um contraponto e vou seguir fazendo. Como diria o mesmo Chico Buarque, em “Vai passar”, é o estandarte do sanatório geral passando.

Em fim de ano melancólico no futebol, vejo gente do staff do clube tirando fotos na Sala de Troféus, no CT, num “joselitismo” sem fim, totalmente “no sense”. Vieram de outro mundo e não dimensionaram o que é um clube de futebol e a paixão louca que desperta. No fundo não tem problema, mas no momento, fica no seu canto e deixa as vaidades para quando a situação estiver melhor.

Enquanto isso, a torcida quer “matar” Abad (que está tentando acertar as contas do clube, de forma exagerada, ao meu ver, mas com nítida intenção correta) e mira suas baterias em Marcelo Teixeira, que tem pouca culpa (aliás, se não é ele em Xerém estaríamos fu..), já que veio uma ordem top down de não contratação. Tudo errado.

Em verdade, hoje, a torcida do Fluminense, os atores políticos (e eu me incluo nisso), a gestão, blogueiros, sites de noticias, os jogadores, são que nem o final da música do Chico:

“Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou..

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor”.

Isso jamais poderá dar certo.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#JuntosPeloFlu

Imagem: cald