Editorial – O adeus amarrotado de Marcelo

Não bastasse o péssimo resultado de sexta no Maracanã, veio a rescisão contratual de Marcelo com o Fluminense, semanas depois de virar nome de campo em Xerém.

O motivo público seria o desentendimento com o treinador Mano Menezes, com fofocas de desaforos.

Os outros motivos possíveis podem ser vários, todos difíceis de detectar numa gestão estapafúrdia e sem o menor sinal de transparência, ainda que sugiram o óbvio: relações corporativas.

Uma coisa é certa: Marcelo foi peça fundamental na decisão do Carioca 2023, em sua estreia. Com seu golaço, ajudou a demolir o rival. E também colaborou na conquista da Libertadores 2023, embora não tenha sido protagonista e, portanto, abaixo de John Kennedy, Arias, Cano, André, Nino e Fábio.

Com pouco mais de 60 partidas em quase dois anos, teve momentos de brilho técnico e também falhou, inclusive na final do Mundial Interclubes. Há tempos estava no banco, da mesma maneira que estava no futebol grego quando veio para o Fluminense. Lenda no Real Madrid, talvez tenha tido dificuldades para encerrar a carreira, algo que acontece com quase todos os jogadores de futebol.

Apesar de ser tido como um apaixonado tricolor, Marcelo não demonstrou nenhuma vontade em colaborar como meia, insistindo em disputar a lateral mesmo sem as condições ideais. E, para o público, o que foi ventilado é que Marcelo não tinha boa relação com Mano, e que isso justificaria sua indisciplina à beira do campo, que contou com a reação imediata do treinador.

Ninguém tem o direito de esculhambar ninguém, ainda mais quando há uma relação de hierarquia. Valeu para Castilho, Didi, Telê, Rivellino, Assis e vale também para Marcelo. O jogador não tem garantia de titularidade no contrato, menos ainda tempo de permanência em campo. Ganso, que fez o mesmo com Oswaldo de Oliveira, deveria ter sido punido à época, e o próprio Oswaldo – que debochou de torcedores – foi justamente demitido, o que não aconteceu com Fernando Diniz e seu assistente pateta.

Marcelo está na galeria dos campeões do Fluminense para sempre e a torcida tricolor é grata por isso. Isso não o torna imune a condutas disciplinares, nem o torna o maior lateral esquerdo tricolor de todos os tempos, num clube que já teve Altair, Branco, Marinho Chagas e Marco Antônio, três desses campeões mundiais pelo Brasil. Mas é uma pena que saia dessa maneira e logo num momento em que o Fluminense ainda luta contra o rebaixamento.

Talvez todo esse desfecho fotografe bem a bagunça que virou o clube criador das diretrizes do futebol brasileiro.