É profissionalismo ou ação entre amigos? (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, foram-se já quinze dias desde a eleição da chapa Mário Bittencourt / Celso Barros.

Eu gostaria, mas não tinha qualquer esperança, de ver a nova gestão apresentando um plano emergencial para tirar o Fluminense do atoleiro financeiro em que se encontra.

Assim como a outra candidatura, a chapa Mário e Celso sempre afirmou que colocar os salários em dia era prioridade. Não me lembro, no entanto de ter visto alguém apresentar um plano articulado para essa finalidade.

Eu esperava que num clube que precisa dar ao mercado sinais de que pretende profissionalizar sua gestão, o primeiro passo do presidente fosse apresentar um CEO. Não temos um de verdade desde que o Marcos Vinícius Freire saiu.

Eu gostaria, ainda, de ter tido notícias imediatas e práticas sobre o projeto de revitalização do estádio das Laranjeiras. Esse projeto é, ao mesmo tempo, um redutor de despesas e um multiplicador de receitas, algo de que o Fluminense precisa muito.

A quem ignora esse fato, apesar de todo esforço feito pela Gestão Abad para equilibrar entradas e saídas de recursos, o Fluminense continua muito dependente da venda de atletas para pagar as contas e as parcelas da dívida. Sem contar com as penhoras.

Não é por outra razão que nós não conseguimos pagar salários em dia. Não é por outra razão que o time dos maus costumes tem a petulância de fazer proposta pelo Pedro, que recebemos propostas indecorosas o tempo todo.

Diante de tudo isso, a primeira preocupação da atual gestão tem sido, ao que tudo indica, mexer em cargos de confiança nas categorias de base. Aliás, vamos ser mais claros, porque as coisas precisam ser ditas como elas são. Empregar apoiadores de campanha.

Duílio, Aílton, Marcão e Cadu vão sempre ter um lugar na parte boa das minhas memórias. Jamais vou esquecer a atuação do Duílio na final do Estadual de 1984. Jamais esquecerei as atuações apaixonadas do Marcão ou o Aílton colocando o Charles Guerreiro para dançar balé antes de usar a barriga do Renato para fazer vir ao mundo um dos mais antológicos gols de todos os tempos no futebol interplanetário.

Eles, podem, inclusive, ter qualificação técnica para os cargos. Agora, essa história de DNA tricolor é papo para boi dormir. Já viu alguma empresa contratar alguém por causa do DNA? Contrata-se por competência técnica, após um processo seletivo extremamente rigoroso. Assim são as empresas vencedoras que eu conheço. Assim deveria ser o Fluminense.

Quando eu vejo contratações por afinidade fico extremamente desesperançoso de que venhamos a, finalmente, dar o tão sonhado passo para a profissionalização da gestão do Fluminense. Não há afinidade entre a prática da nomeação política e a profissionalização.

Eu tenho visto o pessoal confundindo muito cargo de confiança com homem com homens de confiança. Cargos de confiança são aqueles em que os empossados precisam ter capacidade de decisão e qualificação para isso, além de poder de liderança. Homens de confiança são de confiança de alguém, aquele a quem se reportam, para executar suas políticas e ampliarem o controle desse grande chefe sobre os departamentos. Não há aqui a preocupação com a produtividade e a qualidade dos processos, mas com o controle.

Numa organização profissional o controle é feito por meio de processos gerenciais e não de pessoas chave em cargos chave. Ou seja, a visão que leva a esse tipo de decisão é amadorística.

Reparem que eu não estou entrando no aspecto ético, que pode até ser discutido. Há quem possa falar em apadrinhamento e outros deslizes éticos e morais. Não é esse o caminho da minha análise. Eu falo de rigor empresarial, que é o que o Fluminense precisa.

Apesar disso, espero que todos façam um grande trabalho. Só não vou dizer que queimem a minha língua, porque o que está em questão não é isso. Eu queimaria minha língua se a gestão Mário Bittencourt, ao final de três anos e meio, entregasse um Fluminense funcionando como uma empresa, com critérios claros e inalienáveis de contratação, governança, transparência, com parcerias sólidas com investidores, dinheiro em caixa, dívida sob controle, receitas ampliadas, fluxo de caixa saudável e dependência zero da venda de atletas para o pagamento de despesas. São todas coisas que estão interligadas.

Olha que eu não estou nem pedindo títulos. Eles só virão se tudo isso aí acima acontecer antes. Então, não tem como colocar a carroça na frente dos bois, porque carroça não puxa boi. Eu não estou pedindo medalhões nem time de galácticos, só o que eu quero é que o Fluminense tenha futuro. Nosso futuro está ameaçado.

Repito: eu não teria coragem de apresentar uma candidatura à presidência do Fluminense caso não tivesse um plano muito bem estruturado e engatilhado para enfrentar essa questão tão urgente e ameaçadora que é a nossa situação econômico-financeira.

Por isso que eu tanto critiquei essa eleição de condomínio, que é anunciada no dia X para ser realizada no dia X + 30, sem qualquer debate aprofundado dos problemas do Fluminense, sem educar e esclarecer a torcida sobre os problemas e as soluções. Nós demos três anos e meio de mandato a Mário Bittencourt e Celso Barros numa eleição de condomínio.

Continuo torcendo para que tudo dê certo para o Fluminense, mas eu preciso de motivos para acreditar nisso. O que eu estou vendo até agora é um mais do mesmo piorado. Até mesmo a boa ideia do pacote de cinco ingressos veio amarrada num aumento do preço do ingresso. Mais fácil colocar o ingresso a R$ 30,00 e tentar recriar no torcedor o hábito de ir ao estádio. Esse é o primeiro passo para fazer com que, amanhã, ele vá espontaneamente procurar um plano de sócio, porque sairá ganhando.

Infelizmente, amigos, amigas, começou mal. O carro ficou parado na largada, o que me lembra muito o segundo mandato do Peter. Que Deus nos livre de tal flagelo.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

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