Não é preciso dar dois treinos para se saber isso (por Paulo-Roberto Andel)

Publicado originalmente no Facebook do autor em 20/08/2020

Tava muito cansado ontem e passando mal, então me poupei de falar. Continuo me poupando. É agosto, tudo pesa.

Não é preciso ser muito inteligente para saber que a fanfarronice que toca e cerca o clube é incapaz de colocá-lo em seu devido lugar. E nem é por ontem não. Falo de um contexto geral, de uma década perdida. Tudo que aí está não é novo, não é de ontem nem da eleição de 2019. Trata-se de um longo processo de apequenamento do Fluminense, que passa pelo desprezo à sua história em todos os sentidos. É apenas mais do mesmo.

Viramos um meme, uma hashtag. O ponto e não a reta. No dia seguinte ninguém mais se lembra e la nave va. Aí vem uma vitória e boboides começam a dizer “Chupa, secadores!”, como se algum torcedor do clube tivesse interesse em suas derrotas, num eterno campeonato da lacração babaca, que leva do mofo ao fétido.

Perde de novo, as pedras voam nos céus das redes sociais e, de semana em semana, vamos nos arrastando, quem sabe rumo ao décimo terceiro lugar? Afinal, segundo a FluPateta a maior desgraça da história do clube – os rebaixamentos de vinte e tantos anos atrás – é justificativa plena e absoluta para se tolerar todas as sandices desta década de 10. Afinal, lutar cinco vezes contra o rebaixamento em sete temporadas, jogando quase 300 partidas, é um exemplo de gestão, uma performance maravilhosa. Enquanto esse discurso mofado permanece, outros times que foram rebaixados bem depois do Flu se recuperaram, remodelaram seus estádios, conquistaram grandes títulos e alguns foram até campeões mundiais.

O problema maior não é perder do Bragantino. Esse é o retrato momentâneo. Há muito mais em jogo. É ter a certeza de que completaremos oito anos sem títulos importantes. É saber que disputamos duas finais contra o Flamengo e não tivemos a menor chance de título. É a ausência de relevância no cenário nacional. É a condição de figurante, se muito. É chegar a cada novembro e dezembro e não comemorar nada, mas sentir alívio e buscar renovar as forças para a porrada no ano seguinte.

É a desesperança.

O contrário do que foi vivido pela torcida em grande parte da história tricolor.

Os exemplos são muitos, mas me atenho aos nomes de Francisco Horta e Manoel Schwartz. Chega a ser engraçado que no pior momento da Era Horta, em seu último ano, com muitas críticas, a “baba” do Fluminense tivesse Wendell, Edinho, Pintinho, Doval, Rivellino, Marinho Chagas e outros, enquanto a esperança atual para virar jogos seja o Caio Paulista – que deve ser um bom rapaz, nada a favor de apedrejamentos virtuais, apenas uma referência nominal.

Desculpem o desabafo. Sou do tempo em que se comemorava vitórias e títulos, não o pagamento da folha salarial do elenco (que é obrigação). Do tempo em que o clube valorizava sua torcida e não uma claque particular. Torcida não é claque. Eu torço pelo Fluminense, não sou torcedor do presidente, do vice e do “gestor” seja lá quem for. Quero mais é que dê certo, mas o mais incrível é que, depois de dois títulos brasileiros quase consecutivos, a maionese – sem trocadilhos – desandou.

Antigamente era o Villela, o Graúna, o Castro Gil. Agora é a lacração do tuíte, a picocelebridade, o discurso de valentia oca que não se sustenta com a realidade, a legião dos puxa-sacos tentando sobreviver.

O técnico vai mal? Vai. Claro que vai. Mas e o anterior? E o anterior? E o outro anterior? E os dez anteriores? Sinceramente, alguém pode acreditar que oito anos de fracasso são culpa exclusiva dos treinadores?

E o jogador? Os jogadores? Alguém sabe dizer quantos jogadores o Flu teve nesses oito anos? E desses, quantos não emplacaram seis meses? E quantos acionaram o clube, até mesmo alguns que sequer entraram em campo? E quantos mostraram que não tinham a menor condição de vestir a camisa tricolor?

A culpa é de quem trouxe, não é?

Se o clube é incapaz de atrair grandes patrocinadores e investidores, a culpa é de quem? Da torcida é que não é. E a dívida? Da torcida também não é.

O problema do Fluminense é muito mais embaixo, é estrutural, vem de longe e não será resolvido com entrevistas bravateiras, promessas de campanha abortadas e claque. Não é preciso dar dois treinos para se saber isso; basta raciocinar, refletir e não se deixar levar como massa de manobra.

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Paulo-Roberto Andel, escritor, estatístico, cronista, torcedor do Fluminense há quase meio século presente nas arquibancadas, sócio do clube, editor do Panorama Tricolor e autor de 16 livros sobre o Tricolor das Laranjeiras.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

#credibilidade

1 Comments

  1. O Fluminense NÃO olha para trás pelo menos 8 anos Se o fizesse não cometeria os MESMOS ERROS.
    Concordo contigo
    Saudações Tricolores!!❤️

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