Divisor de águas
Chegou o dia do primeiro jogo que mostrará o que o Fluminense tem para a temporada. Mesmo com toda a depreciação dos estaduais e, mais especificamente, do Campeonato Carioca, o clima de decisão exige preparação técnica, tática e psicológica.
Não tenho a menor dúvida de que o Fluminense tem condições de ganhar do Vasco. Mais, de ser campeão em cima do Flamengo. No entanto, uma coisa é potencial, outra é chegar e fazer. Independentemente da participação na Série A do Brasileiro, que começa no próximo dia 19, a campanha de 2013 abalou qualquer confiança. Então, mais do que o lado técnico e tático do time tricolor, preocupo-me com o aspecto psicológico. Uma sequência de resultados ruins pode trazer mais consequências trágicas.
Para o embate de logo mais, Renato Gaúcho tem um problemão: Jean. Não só pelo jogador que sai, mesmo porque nem está em grande fase, mas por quem está no estoque de reposição: Rafinha e Wagner. O garoto tem futuro, mas ainda não tem presente. Foi, inclusive, vítima de 2013. Wagner tem entrado bem e marcado gols, no entanto, uma coisa é jogar os finais contra adversários mais fracos e desgastados; outra é correr no mesmo patamar físico. E quando isso aconteceu, não teve atuações destacadas, mas sempre é dia para começar. Característica por característica, Rafinha tem um estilo mais próximo de Jean, além disso, tem menos ímpeto ofensivo do que Wagner. Torço para que Wagner entre, mas aposto em Rafinha.
Públicos
5.977, 3.625, 4.643, 608, 9.348, 375. Média pouco superior a 4 mil. Esses números são os pagantes nos últimos seis jogos do Flamengo no Campeonato Carioca. Não, não é motivo de gozação. Pelo contrário, o momento é de pânico. Isso é péssimo para todo mundo, pois todos estão no mesmo barco. Pior: se o Flamengo for campeão carioca, todo mundo achará que tudo está uma maravilha. E mais ladeira abaixo…
Racismo
Ontem, no jogo contra o Espanyol, Neymar e Daniel Alves foram vítimas de racismo. A torcida do adversário do Barcelona jogou bananas no gramado. Até quando? Considerando-se as “punições” impostas, até sempre. A Conmebol multou o Real Garcilaso em US$ 12.000. Essas federações devem esfregar as mãos quando isso acontece: quanto mais racismo, mais dinheiro no cofre.
Caminho perigoso
Por falar em Neymar, está se cristalizando, na Europa, um paradigma contra o jogador que, também, aconteceu no futebol brasileiro: o cai-cai. Só que lá, a coisa tem tomado uma proporção perigosa, pois está desenvolvendo uma ira dos adversários. A associação da situação de jogo com o objetivo de ludibriar a arbitragem tem consequências mais agressivas lá do que aqui. Neymar está despertando um sentimento de ódio nas torcidas e nos jogadores adversários. Onde isso vai dar?
Falta de memória ou imbecilidade
Nos últimos dias, ouvimos mais do que vimos a tentativa de reedição de uma Marcha famosa lá de 64. A de agora foi a Marcha contra a Família, Deus e Liberdade. Só pode. Muito se ridicularizou a participação: 700 e poucos em São Paulo e alguns gatos pingados em outros centros. Ao contrário, acho um número absurdo. Não pela proporção, é claro, mas é muita gente com tanta titica na cabeça. Inadmissível um único ser que seja querer de volta um período negro da nossa história. O que isso tem a ver com futebol? Ainda, com o Fluminense?
Em 1984, presenciei uma dos atos públicos mais marcantes na minha vida. Talvez, tenha sido a única ocasião que eu vi duas torcidas rivais unirem-se para uma coisa em comum. Foi na final do Campeonato Brasileiro daquele ano e as torcidas foram a do Fluminense e a do Vasco. Em 2013, escrevi, aqui no Panorama Tricolor, uma série contando a história daquele torneio. A seguir, minha narração sobre os momentos que antecederam o início do jogo:
“Faltando alguns minutos para começar o jogo, não se enxergava o campo. A opacidade chegou ao limite quando o Fluminense entrou em campo. Bandeirões imensos, encharcados de talco, eram levantados do chão e aumentavam a densidade do ar. Nem mais um palmo à frente do nariz se via. Era só áudio, não tínhamos imagem. Os gritos, naquele momento, eram desencontrados. Gritava-se de tudo, não se via nada.
Aos poucos, discerne-se daquela miscigenação sonora o hino nacional vindo da banda lá no gramado. Abruptamente, o som muda-se para “1, 2, 3, 4, 5, 1000, queremos eleger o Presidente do Brasil. 1, 2, 3, 4, 5, 1000…”. O coro, que começou tímido, quase que com o medo paranoico da, ainda, ditadura, ganhou força, encorpou-se, tomou conta da arquibancada. Gritavam o norte, o sul, o leste, o oeste. No começo, 10 mil. Depois, 50 mil. No fim, 130 mil. O estádio gritou por democracia. Até hoje, ouço aquele coro”. – 1984 – Capítulo 16 – O torcedor e o jogo (junho/2013).
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: google
É… E mais um campeonato carioca se v ai e o FLU fica sem nada… Pior, ter que torcer pra vascu pra não deixar os urubu se distanciarem na briga pela maioria de títulos carioca.
E essa zaga??? Fluminense sobre de regressão: ataque bom, meio campo ruim e zaga horrível!!!!
Perfeito, Mauro. Concordo com todos os pontos do texto.