Dia das Crianças: meu amigo Wendel (por Paulo-Roberto Andel)

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Em algum lugar de 2011, eu estava no Engenhão em alguma partida da Libertadores, no populoso setor sul, quando o pequenino Wendel caminhava trazido por seu pai. Então pedi para tirar uma foto. Éramos um pátio de fraternidades.

Pequenininho, com todo o mundo à frente, cabelinho partido, a mãozinha inteira segurando o dedo do pai, nem precisei pedir a imagem ao modelo. Ao ajeitar a câmera, imediatamente ele levantou a cabeça e ficou olhando, tentando descobrir as pequenas coisas do mundo. O olhar da curiosidade que só as crianças possuem.

Pequenininho e ali vivendo uma grande época: o Flu tinha acabado de ser campeão brasileiro, lutava pela Libertadores, ainda faria uma bela campanha no Brasileiro depois da confusão pela espera de Abel.

Nestes segundos eternizados desta foto, lembro de ter visto este menininho com alegria e pensado imediatamente no menino que eu fui um dia. Aquele do cachorro-quente Geneal; do refrigerante vendido em tanques com os ambulantes vestidos de branco, com capacete, parecendo astronautas; daquele mar de gente cantando junto e se abraçando, se respeitando mesmo em tempos brabos de ditadura que eu nem sabia. O Maracanã de verdade, dos grandes jogos das cinco horas da tarde.

O Wendel era muito novinho e ainda não falava. Estava ali como uma criança feliz ao lado do pai, com seu camisão tricolor. Ele e seus olhos de futuro, encarando o meu sorriso e o sinal manual de tchau. Deixei um abraço, pai e filho seguiram felizes, o Fluminense foi atrás de suas mil e uma noites.

Cinco anos passam rápido demais, mas toda vez que revejo essa foto eu fico muito feliz. Embora tenha dezenas e dezenas de fotografias da infância, mesmo tendo ido a vários jogos dos quais ainda me lembro, não tenho imagens registradas no estádio. As fotografias da memória e da alma ficaram para sempre, felizmente.

Espero que meu amigo Wendel esteja bem. Que cresça feliz e que tenha o Fluminense sempre por perto, mesmo que alguns homens de ocasião sejam dignos da indiferença. O escudo, as cores, as jogadas, o gol, tudo isso compõe um mosaico de imagens duradouras e intransferíveis. Que brinque com seu game, com seus botões e uma bola colorida, que tenha apreço à sua camisa, que persiga para sempre o Fluminense como o garoto que eu fui um dia. Que a infância só lhe sopre alegrias e que seja um eterno viver.

Pedro Bial disse certa vez que o futebol é o nosso único caminho para a Terra do Nunca, a esperança da eterna infância onde podemos até fazer coisas terríveis. Tem toda razão o poeta.

Já adulto, aprendi que Bob Dylan, o maior artista estadunidense vivo, saiu da casa dos pais para sempre depois de ter lido “On the Road”, o clássico de Jack Kerouac. O Fluminense foi, para todos os garotos da minha geração, uma uma espécie de interminável livro dos dias – o nosso “On the Road”. Éramos as crianças de colo da Máquina, jogadas para o alto a cada grande apresentação daquela equipe monumental. Lemos aquele livro de três cores em plena alfabetização e nunca mais deixamos de relê-lo a cada dia, cada semana, cada jogo, cada renascer.

Que o Wendel seja tão feliz em sua vida como eu fui com o Fluminense. Ele e todas as crianças que têm a missão de perpetuar esse eterno presente em que vivemos. As crianças tricolores, da leveza, da paixão e da vitória. Sua foto me emociona demais porque, na impossibilidade de ter meu pai de volta me puxando pela mão, meu grande consolo é testemunhar que o bom futuro acaba repetindo o bom passado.

Não se trata apenas de títulos, conquistas, vitórias ou goleadas. Não se trata apenas de vencer. Existe algo muito acima disso tudo, que muitos chamam amor e outros simplesmente vida.

Que todas as crianças, tricolores e de todos os times, absolutamente todos, sejam mais felizes nesta terra de indiferenças. É preciso cerrar ódios e injustiças.

Esteja onde estiver, Wendel é o Fluminense do amor numa foto. Um digno amigo, um correto irmãozinho. O futuro que vale a pena. O futuro do Fluminense é o amor. Somos fortes. O amor é a grande força da vida. O resto é perda de tempo.

Um feliz 12 de outubro.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: rap/wendel

2 Comments

  1. Lindo texto, Andel
    Me fez lembrar da minha primeira ida ao então maior do mundo levado pela mão por meu pai pra ver super ezio jogar. Não deu pra não lembrar e pra não se emocionar.

  2. Legal!
    Feliz Dia das Crianças para o Wendel e todas as criancinhas!!
    Saudações Tricolores

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