Sem desculpas para o castelo de mentiras no Fluminense (por Paulo-Roberto Andel)

Domingo, cinco da tarde.

Flamengo e Vasco decidem a vaga para a final do Campeonato Carioca.

Nesta segunda-feira o Fluminense inicia sua disputa contra o Botafogo. Mas nem parece que haverá o jogo, tamanha a decepção causada pelo, digamos, “conjunto da obra” tricolor. E por mais que conquistar o título estadual seja importante, e é, não terá como apagar a humilhação suprema diante do Olimpia.

Humilhação suprema sim.

Não adianta fingir, ficar de conversinha fiada de “foco” na Sul-americana porque não fomos parar nela por mérito e sim por demérito, incompetência, arrogância e muita, mas muita mentira. Não foi uma conquista e sim um rebaixamento moral. Ah, a Sula tem times tradicionais? Sim, todos com colocações atuais medíocres em seus campeonatos nacionais – se estivessem brilhando, teriam ido para a fase de grupos da Libertadores.

Com o aparelhamento de alguns sites, blogs, “influêncis” e robôs anônimos que pululam no Twitter e Facebook, simpatizantes desse engodo chamado de gestão tricolor manipulam a opinião pública, criando lendas do Boitatá que subitamente são promovidas a verdades absolutas, prato pronto para desinformados e ingênuos. É assim há muito tempo mas piorou muito de 2019 para cá. Desde então, viramos campeões do quinto lugar no Brasileiro, campeões do sétimo lugar no Brasileiro, campeões da vaga à repescagem na Libertadores e, nas horas vagas, comemoramos – ou melhor, comemorávamos – os recordes pessoais de Fred. Ah, sim, as contas estão sendo magistralmente administradas e logo, logo, todos veríamos o Fluminense saneado. Segundo as palavras do pretenso economista que ocupa o cargo transitório de presidente do clube, em nove ou seis anos tudo estaria resolvido.

Como temos visto, é um mar de mentiras que não se sustentou com uma semana. Bastou vazar a desastrosa negociação de Luiz Henrique para que o Fluminense mal tivesse dinheiro para fretar um avião. O mais incrível é que tal sentença veio também do presidente do clube. Bom, nem tão incrível, vindo de um faz-tudo. O que impressiona é a bipolaridade da análise de conjuntura econômica que cerca o clube: ou estamos num processo de reconstrução (…) ou não temos um tostão e precisamos rifar jogadores jovens.

O exército da gestão repete o tempo inteiro a falácia de reconstrução. Uma pergunta é inevitável: o que esse pessoal já construiu para repetir essa ladainha? Gestão, reconstrução, negociação, quem é que cuida disso? Hoje, quem no Fluminense tem currículo e trajetória de grandes números? Se tem, fica difícil saber, pois o que aparece publicamente é apenas a verborragia oca em coletivas de cartas marcadas que vão do nada para lugar algum.

Como cereja podre do bolo solado, o clube emitiu uma nota oficial com texto tão chinfrim, mas tão chinfrim, que parecia ter sido redigido por um palerma. Cabe a reprodução de um trecho da pérola jornalística:

Só um completo paspalho se dirigiria a sócios e torcedores com o trecho de frase “Já dissemos com todas as letras”. Que letras? Mais uma vez: o que as pessoas que hoje dirigem o Fluminense têm de especialização em Economia, Administração ou Engenharia Econômica para debochar da inteligência dos leitores com esse tipo de afirmação? Outra sentença estúpida: “A maioria entende”. Que maioria? De onde? Maioria dos covardes que apoia o descumprimento da promessa do voto on line? Maioria dos picaretas que, fabricando falsas notícias positivas, age como traidora do Fluminense? A maioria da nota é uma panelinha que, a troco de vaidades e vantagens pessoais, vende publicamente o Fluminense que simplesmente não existe.

Todos os grandes clubes do mundo já passaram por crises, sofreram grandes derrotas ou eliminações. A revolta que tomou centenas de milhares de tricolores não é “apenas” pela perda de Luiz Henrique, nem “apenas” pela catastrófica eliminação diante do Olimpia, mas principalmente porque descobrimos que, enquanto as manchetes estampavam os delírios de SeleFlu e nova Máquina Tricolor (uma insanidade) no começo de fevereiro, a verdade é que nosso jogador mais promissor do momento estava sendo rifado por merreca, tudo em nome da “emergência”.

Havia emergência para se contratar Cristiano da Moldávia? Willian Bigode e Felipe Melo? Nathan, que mal joga?

Não custa lembrar que, meses atrás, às vésperas de estrear na fase de grupos da Libertadores 2021, o Fluminense anunciou cinco contratações em um dia. Houve quem celebrasse a “inteligência do clube”. Cinco jogadores que chegaram sem qualquer resistência de seus clubes de origem. Destes, três já foram embora.

O silêncio que abraça o Fluminense antes de um clássico decisivo contra o Botafogo não é em vão. Ele foi costurado pela mistura de mentiras, empáfia e fracasso que se desenhou desde o sábado retrasado. São muitos anos ouvindo mentiras de dirigentes enquanto as narrativas brigam com os fatos.

Nem o consolo do Carioca espanta o silêncio.

Ninguém aguenta a farsa de foco na Sula.

Ninguém aguenta mais o castelo de mentiras que se transformou a gestão do Fluminense, com exceção de seus minions e legionários de um modo geral.

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Neste sábado, PANORAMA e CANTINHO fizeram uma live de mais de dez horas, com a presença de várias personalidades das arquibancadas, da política e da cultura tricolor.

A reação extremamente positiva de milhares de tricolores nos serviu como ânimo para continuar a batalha.

A reação raivosa das Marias Presidência deixou evidente que estamos no caminho certo.

Reitero: este espaço é livre para se ouvir todas as correntes políticas do clube. Todas, e não se exclui o presidente de forma alguma. Será uma honra entrevistá-lo e fazer as perguntas cujas respostas são o anseio de milhares de tricolores.

No entanto, caso o presidente não tenha interesse por esta oportunidade, não posso me considerar um repórter fracassado. Afinal, já entrevistei Maria Bethânia, Bibi Ferreira e Gilberto Gil, isso para falar de apenas três tricolores de maior alcance.

Ah, sim, cada escritor tem o presidente que merece.

Foto: Erica Matos