O que os olhos não veem, o coração não sente… ou sente?
Precisei estar fora do país, a trabalho, por poucos dias. Esse período coincidiu com o jogo de volta do Fluminense, pela semifinal da Libertadores, lá na bela Porto Alegre. Na noite da última quarta-feira, o Flu jogava pela sua vida e pela reparação da história que, diga-se de passagem, ainda não aconteceu.
Enquanto o Fluminense jogava eu voava, completamente desconcentrada de qualquer outra coisa que não fosse o Beira-Rio. Nem enquanto o avião sacolejava na passagem pelo Uruguai e pelo instável sul do Brasil, o pensamento se descolou daquele jogo tão acompanhado de incertezas e receios.
Quando o avião pousou em Guarulhos e finalmente pude ter alguma notícia, havia se passado pouco mais de 70 minutos de jogo, o Flu perdia por 1 a 0 e Enner Valencia havia perdido dois gols dignos da galeria do Inacreditável Futebol Clube.
Contudo, da minha casa vinha a notícia:
– Nesse momento o Flu está melhor!
De algum grupo de WhatsApp, eu lia:
– JK não pode ficar fora desse time
E eu sofria entre a vontade de abrir o celular, ver as notícias e o desejo de esquecer e me concentrar no deslocamento naquele aeroporto lotado, confuso, mal sinalizado e enorme. As filas nos afligiam, na imigração uma espécie de operação tartaruga. Por poucos não perdemos a conexão que nos levava de volta para casa.
Enquanto isso, minha mente continuava voando. Nem por um segundo, nem mesmo com a ameaça de perder o próximo avião, nem diante dos pés inchados e doloridos eu tirava o pensamento de Porto Alegre.
À medida em que o tempo passava, além do cansaço, uma tristeza ia tomando conta de mim. Perguntei para a minha família.
– Quanto está o jogo?
– Continua 1 a 0, mas vamos empatar.
Passaram-se longos 60 segundos e perguntei de novo. Antes que a minha pergunta fosse lida, vejo a mensagem:
– Empatamos!!! 1 a 1.
Àquelas alturas havíamos, finalmente, chegado ao portão de embarque para Brasília. Após filas, caminhadas, desinformação e idas e vindas a outros portões.
Sem haver onde se sentar, fiz de uma pilastra a escora perfeita, botei meu celular para carregar, baixei a cabeça para descansar e limpar o suor. Passados longos 90 ou 120 segundos, fui ver se o celular estava carregando e quando abri o aparelho:
– Gol do Flu! Cano! 2 a 1!
Minha resposta, àquelas alturas:
– Ai, Jesus… falta muito pra acabar? Ah, meu Deus…
Era só o que eu conseguia dizer. Aquilo que era cansaço e tristeza se transformava em cansaço e alegria explosiva.
Comigo, na viagem, um amigo tricolor. Escorado em outra pilastra, a quatro metros de distância, olhou para mim que, naquele momento, fazia o duplo L. Gritei contidamente:
– Viramos!!! Cano!!!
A vibração naquele momento era enorme, mas contida por uma multidão que nada queria saber de jogo. Todos queriam chegar às suas casas.
E nós, que havíamos chegado da terra de Germán Cano, que tínhamos falado do Fluminense nos eventos, no táxi e nos restaurantes, estávamos diante de uma explosão.
Explosão de felicidade e regozijo.
Chegamos em casa, naquela noite, por volta das três da manhã. No dia seguinte a labuta começaria às nove horas. Precisava dormir um pouco. Mas como dormir sem ver as notícias, os melhores momentos, os gols, as fotos, as entrevistas?
Aliás, como dormir até novembro, quando estaremos diante de algo cujo adjetivo ainda não sei escrever?
Sou uma pessoa emocionada. Tenho muitas paixões. Mas o Fluminense exagera no seu poder de mexer comigo.
Te amo, meu Flu!!! Te amo, Cano!!!
Perfeito, Cláudia Barros!