Numa revista Placar do provável ano de 1979, durante uma crise tricolor, o jornaleiro e grande torcedor Pasquale Amato declarou algo como “É um momento difícil do Fluminense, existe uma panelinha difícil de desfazer”. Tempos difíceis, pós-Máquina, três anos em branco até que a vice-lanterna na Taça Guanabara de 1980 (disputada com seis times) significou uma ação ousada e forte: um time com nove jogadores advindos da base (incluídos os experientes Edinho e Rubens Galaxe), mais dois reforços modestos: o desacreditado (craque) atacante Cláudio Adão e o jovem meia Gilberto. Meses depois, o Fluminense seria o grande campeão carioca em cima do Vasco cheio de craques.
Um exemplo antigo e simples de como o time das Laranjeiras saiu de um momento dramático para uma vitória imortal.
Terminado o ano de 2013, todos sofremos o mais ignaro, covarde e opressor ataque midiático da história do futebol brasileiro. Torcedores foram agredidos, bombardeados, xingados. As manchetes ridicularizavam o clube diariamente, tentando criar um factoide para encobrir a nítida sujeira da rodada 38, esquecida pela mídia à medida que os maus fatos pareciam cada vez mais claros, nenhum deles ligado ao Fluminense.
Esperava-se que a dor da torcida fosse um incentivo ao bem remunerado time tricolor para uma jornada de muita luta neste ano. Do caos para a glória.
Não aconteceu.
Por mais que Renato e Cristóvão sejam treinadores questionáveis por N motivos – e são -, fica cada vez mais claro que o maior dos problemas do Fluminense está dentro das quatro linhas. E chama-se falta de comprometimento.
Antes dos dois treinadores mencionados acima, ano passado tivemos Abel, Luxemburgo e Dorival Júnior. Todos fracassaram.
Desde aquele 3 x 2 inesquecível contra o Palmeiras, vivemos um pequeno campo dos sonhos em quatro ou cinco jogos deste campeonato brasileiro, em partidas que a torcida aplaudiu mesmo nas derrotas ao reconhecer o esforço e o talento da equipe. Por coincidência, apenas, foram partidas na ausência do jogador mais caro e badalado do time: Fred.
Depois do pequeno grande sonhos, planos exagerados: a conquista do penta, a briga contra o Cruzeiro. Nada se concretizou. A cada rodada, o sonho rateou aos poucos até que vieram as dez últimas rodadas e uma única vitória, trajetória parecida com a de 2013.
Perder é do jogo. Ser goleado, idem. Por mais doloroso que seja, ser rebaixado também faz parte do que acontece em campeonatos do mundo inteiro. Alguém perde, alguém cai.
Inaceitável é perder sem lutar.
Arrastar-se.
Conformar-se com derrotas num ambiente de trabalho que custa quase três milhões de reais por mês.
O time perdendo, alguns jogadores andando, outros com cansaço como se tivessem corrido uma maratona.
A derrota do Fluminense não foi apenas nos 90 minutos de ontem no Beira-Rio, mas bem antes. Trata-se de um longo processo. Pensem em jogadores que não estão nem aí se o clube teve 40 milhões indevidamente bloqueados na Justiça. Ou em jogador que faz gol e manda a torcida se calar. Jogador que é substituído e fica na linha de fundo, ignorando o banco. Jogador que chama torcedor de vagabundo e só comemora com seus bajuladores. Jogador que se recusa a aquecer para uma eventual substituição.
Puderam refletir?
Falando da derrota contra o Inter, os colorados nem precisaram correr muito ou jogar um grande futebol para vencer a partida. Fizeram o feijão com arroz. Tiveram à disposição um misto de marcação frouxa com a incrível linha burra na defensiva tricolor. Acertaram a trave, perderam trezentos gols, bateram cem escanteios e 99% das sobras, diante de um Fluminense cansado, apático, entediado (como pode?) e até alheio ao jogo. A rigor, foi a pior partida tricolor no ano, a ponto do inesperado empate ter acontecido no fim do jogo – único acerto de Fred -, mas não ter sido mantido um minuto sequer. Os gols do Inter, com os artilheiros entrando livres pelo meio da área, falam por si.
Difícil entender porque Rafinha e Fernando, ambos bem ultimamente, foram sacados do jogo, entrando no decorrer do tempo. Rafinha entrou no meio, depois virou lateral. A insistência do ataque trenzinho do Corcovado + Cristo Redentor no segundo tempo supera os limites do razoável. Conca é a única referência de criatividade do meio; quando vai mal, a coisa desanda. Para salvar o caos, mais uma atuação segura de Marlon, joia.
Mas perdemos antes, bem antes. Reitero: todos os jogadores campeões de 2012 merecem respeito pelo passado, o que não pode significar titularidade vitalícia arrastando-se em campo.
Minha tristeza pelas crianças tricolores que acompanharam essa exibição deprimente, sem alma, descompromissada. Decadente.
Em tempo: o Inter do “burro” Abel briga pela Libertadores. O Flamengo do “burro flamenguista” Luxemburgo é capaz de correr e golear o líder Cruzeiro. O Palmeiras do “burro” Dorival segue na luta firme contra o rebaixamento e em recuperação.
Cristóvão, ao evitar substituições extraterrestres, ajudaria. Mas nem de longe é o único culpado. É apenas o mais fácil de ser demitido, para a alegria de Celso Barros. De resto, há os que esperam as miragens de 2012. É democrático. Sinceramente, gostaria de ver de Fred a mesma opulência midiática de outros momentos de 2014 por ora – é o artilheiro, a estrela da investidora, o herói de muitos e deveria dar o exemplo, ora cobrando de seus companheiros, ora fazendo autocritica a respeito de sua péssima fase, camuflada por alguns gols que não foram decisivos.
Faltam seis pontos contra a tragédia e, se a racionalidade prevalecer, mudar tudo em 2015. O primeiro palco de drama é o Maracanã do sábado que vem, contra o Criciúma. Quem dera tenhamos em campo uns 20% da garra que nossos rivais locais tem demonstrado.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
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Algo semelhante acontece ! Time nao tem nenhum compromisso com a vitoria ! Vergonhoso !