De volta para o futuro (por Walace Cestari)

Uma onda retrô invadiu o futebol brasileiro pós-Copa do Mundo. Olhando para o banco de reservas de várias equipes do nacional, pensaremos estar nos idos dos anos noventa. Luxemburgo no Flamengo, Felipão no Grêmio, Levir Culpi no Atlético Mineiro… Enfim, os 7 x 1 sofridos pelo Brasil anunciaram que o país do futebol precisava de mudanças, mas uma das consequências imediatas parece mesmo ter sido a de despertar a saudade.

Obviamente, não se diz aqui que tais profissionais não possuem um grande currículo ou que não possam resolver os problemas para os quais foram contratados, apenas há uma constatação de que o futebol brasileiro parece recusar-se a enxergar algo diferente de si mesmo e que anda em círculos, esperando soluções mágicas de pés talentosos que andam cada vez mais raros nos gramados nacionais.

Não é absolutamente necessário que haja uma nova safra de treinadores para que o futebol seja oxigenado com novas maneiras de ver o futebol, montar e treinar equipes ou soluções interessantes focadas no jogo em si, não no patrocinador da chuteira ou na cor do cabelo do garoto-craque-propaganda. Entretanto, não enxergo que os medalhões de sempre estejam preocupados em se atualizar, em buscar o que se produz de estudos táticos, técnicos e de preparação no futebol. O estado da arte da ciência futebolística é ignorada pela maior parte dos boleiros do país pentacampeão.

E a imprensa “morde-e-assopra” faz seu papel de não se comprometer. Em um momento, todas as críticas ao modus operandi nacional, em seguida o louvor aos mesmos nomes e às mesmices táticas. Lá estamos novamente buscando garimpar meninos talentosos e confiando que o dom individual de alguns resolverá o problema de clubes, atolados em más gestões e perdidos taticamente em campo.

Em um cenário como esse, dois trabalhos merecem destaque, por se colocarem na contramão da mesmice nacional e na busca pela aproximação do que se faz em outros campos. Marcelo Oliveira comanda um Cruzeiro de passes rápidos, de trocas frequentes de posição, em que nomes não são mais importantes que o jogo coletivo. Velocidade, compactação e alto poder ofensivo dão a tônica de um trabalho que, apesar de eliminado na Libertadores, somente agora chega à maturidade e cria um futebol envolvente, belo de se ver e – como se percebe pela tabela – eficientíssimo.

Cristóvão Borges é outro desses destaques. Tal qual Marcelo Oliveira também não é badalado, nem tem peso de medalhão. Tem a fala mansa de quem sabe ouvir mais do que se promover e, mais, sabe enxergar o que há de bom sendo feito e como aplicá-lo a seu grupo. É claro que dirão que o elenco do Fluminense e do Cruzeiro são superiores à média nacional, como se isso realmente bastasse. Lembremo-nos que praticamente essa equipe passou por momentos dificílimos no ano passado e salvamo-nos da degola na última partida contra o Bahia.

Mais que elenco, é noção de coletivo o que temos hoje de diferente. O Flu gosta de jogar com a bola, mostra calma e paciência para trocar passes e encontrar oportunidades. Cristóvão deve apostar com segurança no elenco como um todo, em um grupo em que não haja titulares e reservas, em estudar a melhor formação para surpreender o adversário. Walter, Sobis, Fred, Wagner, Diguinho, Jean, Cícero ou Valência. Três meias, três volantes, um centroavante, três zagueiros, não importa. Não há titulares ou reservas. Há um estilo de jogo adaptável às diversas (e adversas) situações em que devemos controlar a bola e saber o que fazer com ela.

Temos uma filosofia “tique-taca” à espanhola. Precisamos ousar ainda um pouquinho mais com mais rodízio na formação da equipe, buscando surpreender nossos adversários. Quem sabe buscar um pouco mais da velocidade que apresenta nosso rival Cruzeiro. Com humildade para ver as qualidades dos oponentes e aprender tudo aquilo que se faz por aí. Uma equipe organizada e focada para a conquista de títulos, isso permite que o talento que temos possa aparecer como diferencial, sem que dependamos exclusivamente da tarde feliz de um dos nossos para resolver o placar.

Que os outros fiquem mesmo na saudade.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: netvasco

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1 Comments

  1. é…,Cestari, quanto mais as coisas mudam, mas elas permanecem as mesmas.

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