A semana foi conturbada nas Laranjeiras. Demitiu-se o treinador, formou-se um clima de tensão entre clube e patrocinador, dividiram-se as opiniões da torcida e o elenco parece – só parece – estar alheio a este turbilhão. Já dizia o velho ditado que em casa onde há pouco pão, todos reclamam, ninguém tem razão. Mas até que ponto faltava pão no laranjal?
Em primeiro lugar, cabe analisar a demissão de Renato Gaúcho, estopim de toda a crise. E isso tem de ser feito desde seu início, com sua contratação. Naquele momento já houve um impasse entre a presidência do Flu e da Unimed, o que demonstra que o quadro é menos técnico e mais político. Parece-me que a queda de braço vencida pelo patrocinador no começo do ano não foi bem digerida pela diretoria, que só aguardava uma oportunidade para demonstrar força.
Obviamente, todos esperávamos mais do trabalho do Renato no comando. Eu mesmo, apesar de não achar que seria o nome ideal, imaginava uma boa passagem, dado seu amadurecimento profissional e alguns bons resultados obtidos em outras equipes. Dos males, achei que Renato fosse o menor. Infelizmente, o histórico Rei do Rio voltou a apresentar velhos defeitos, como demonstrar pouca energia em consertar os erros e atrapalhar-se taticamente na organização da equipe.
Nosso estadual não foi dos melhores. Não vou colocar aqui apenas a questão do jogo contra o Vasco. Afinal, clássicos têm mais componentes que apenas os táticos, mas ainda assim, Renato não conseguiu fazer o elenco vibrar e dedicar-se ao máximo nas semifinais – um problema que se arrasta desde o ano passado. Cambaleamos sem apresentar um bom futebol mesmo contra os pequenos do Rio e não parecíamos caminhar para uma solução.
Entretanto, na questão pontual do Renato, não sei se deixaria até o jogo da volta contra o Horizonte. Um risco político, sem dúvida, que gera incerteza para uma partida importante na temporada e na qual deveremos reverter um difícil placar, ainda que contra uma equipe tecnicamente inferior. Mas, ainda assim, entendo a posição da diretoria em dar tempo ao novo treinador de preparar a equipe para o real desafio do ano: o Brasileirão.
E aí entra a forma. Há muito a Unimed já deixou de ter uma relação puramente comercial com o Fluminense. Apesar de que a empresa, nesses quinze anos de parceria, tenha saído de uma posição pouco conhecida no mercado para desbancar os gigantes da área e tomar a liderança nacional em plano de saúde. A Unimed ganha no investimento de propaganda (no qual tem o maior retorno de exposição do país) e ganha na venda dos jogadores que lhe pertence (Thiago Neves deu alguns milhões de lucro a mais à empresa).
Ao longo do tempo, o Flu sentiu-se confortável com esse apadrinhamento que exigia mais que exposição, mas interferência na contratação e presença na negociação. Daí a virar uma simples imposição do que se fazer na política do clube foi um pulo. O pior é que a torcida comprou o mecenato e transfiguramos Celso Barros de empresário a pai tricolor. Não questiono – de forma alguma – a paixão que ele tem pelas três cores, mas, caso queira comandar o futebol tricolor, basta candidatar-se a presidência do clube e exercê-la com a mesma paixão.
O problema é que o tempo fez nascer a dependência, já que sucessivas administrações não resolviam as questões econômicas e financeiras do clube enquanto gozavam dos recursos “quase infinitos” da Unimed. Peter assumiu querendo solucionar esses problemas, o que já gera uma ansiedade ou ameaça pois a dependência econômica é o que possibilita a interferência política.
Até certo ponto, Peter conseguiu encaminhar algumas questões, mas nunca pareceu estar convicto de que deveria romper a parceria. Muito se especulou, mas no final, as coisas voltavam mais ou menos à mesma situação anterior. Em que pese que a torneira da Unimed tenha jorrado menos nos últimos tempos ou ficado mais difícil de ser aberta. Até que o caso Renato foi a gota d’água ou a falta da gota d’água.
Espero apenas que haja menos impulsividade e mais racionalidade. Que tenhamos um planejamento e cartas na manga para colocar cartas na mesa e jogar o jogo sem blefes. Em especial, que se jogue limpo com a torcida. Nós tricolores não estamos para apoiar o Peter ou o Celso, mas para apoiar incondicionalmente o Fluminense. Vamos voltar à era dos Timinhos? Avisem-nos, nós compraremos a briga. Temos um novo patrocinador em vista? Deixem claro a opção que apoiaremos.
O que não pode haver é a indecisão sobre o que se vai fazer, a falta de clareza sobre o futuro e acompanhar versões pela imprensa. Não quero a mágoa de Celso Barros em forma de ameaças como se fosse apenas mais um lance no tabuleiro de xadrez político tricolor. Isso divide a torcida e enfraquece o grupo. Esperemos Cristóvão e seu trabalho. Observemos Celso, Peter e seus movimentos. O respeito às três cores é o único compromisso do qual não abrimos mão.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Rods comenta:
“Espero apenas que haja menos impulsividade e mais racionalidade. Que tenhamos um planejamento e cartas na manga para colocar cartas na mesa e jogar o jogo sem blefes. Em especial, que se jogue limpo com a torcida. Nós tricolores não estamos para apoiar o Peter ou o Celso, mas para apoiar incondicionalmente o Fluminense. Vamos voltar à era dos Timinhos? Avisem-nos, nós compraremos a briga. Temos um novo patrocinador em vista? Deixem claro a opção que apoiaremos.”
Onde posso assinar embaixo, Sir Walace?
Perfeito!
ST!