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E não é que parecia começar tudo bem? Com um chutaço de Cícero, um belo gol de Richarlisson na arrancada pela direita e batendo na diagonal, mais outro gol perdido pelo mesmo atacante pelo outro lado – com passe do argentino Aquino -, o Fluminense impôs autoridade nos primeiros vinte minutos. Começou defendendo, saiu na boa, abriu o marcador e voltou a esperar para dar o bote. Quase uma homenagem ao falecido presidente Sylvio Kelly.
Parecia.
E aí pecou: um ataque, dois ataques, uma tabela e Sobis – que não marcava há três meses – fez um golaço, sem chance para Júlio César. Um a um. Logo depois, nosso goleiro fez um defesaço em chute de longe, colocando para escanteio. Outro chutaço do De Arrascaeta. Do nosso lado, Richarlisson saiu machucado e mais uma banana na mão do interminável Magno Alves.
Um escanteio, dois escanteios. Só dava os azuis. Aquino tomou uma pancada digna de cartão amarelo, o árbitro quis dar uma de superstar. Depois não entendem porque as pessoas ficam cheias do futebol. Ficamos mal, acuados, sem dinamismo. Aí foi o próprio Aquino quem recebeu o amarelo depois de uma entrada em Sobis.
Para fechar o primeiro tempo, a virada cruzeirense: um cruzamento forte da esquerda depois de Wellington Silva comer mosca, William quase levou um susto mas acertou a cabeçada no ângulo esquerdo de Júlio César. Golão.
Treze finalizações do Cruzeiro contra cinco do Flu, um termômetro da primeira etapa. E um belo começo tricolor que, mais uma vez, desmoronou.
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Em cinco minutos do começo do segundo tempo, o Cruzeiro disparou a goleada, liquidou o jogo e ofereceu ao Fluminense uma única alternativa: evitar um vexame histórico.
Passes errados, falta de coesão, a ameaça de substituições extraterrestres, apatia dentro do campo e à beira dele.
No fim, o duro alívio: escapar de levar cinco, seis ou sete. Acabou barato.
Este resultado pavoroso nem é o caos em termos de tabela, embora ninguém em sã consciência possa cravar uma classificação à Libertadores quando, num momento crucial, vemos uma partida medonha como a deste domingo. Mas revela toda a nossa fragilidade.
É difícil até comentar.
Vi no segundo tempo de hoje uma atuação daquelas de anos de rebaixamento ou quase. Temos os pontos, estamos assegurados na Série A, mas o Fluminense não é time pequeno.
No final, até Sobis tentou o gol do meio de campo. Parecia um coletivo.
A última bola do jogo premiou o esforço de Magno Alves na cabeçada, que honra a camisa do Fluminense do começo ao fim. Obrigado, Magnata!
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Se o futuro é comemorar edificações, extratos bancários, viver à base de infrutíferas guerrilhas eletrônicas ou, tenebrosamente, discutir se Henrique Dourado é mais “reforço” do que Wellington Paulista, ou de quem é a culpa por Danilinho, Artur, João Filipe, Marcelinho das Arábias ou a casa do cacete, o que resta ao torcedor médio do Fluminense é uma profunda reflexão sobre seu senso crítico e o presente que estamos vivendo, ou temos vivido desde aquele formidável 3 a 2 sobre o Palmeiras em 2012, descontando-se a efêmera chama da Primeira Liga neste ano. Porque se a lucidez não prevalecer, o que agora é ruim poderá ficar muito pior.
Tudo que o Fluminense não precisa em 2017 é de realismo lunático ou megalomania oca.
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É muito estranho ver o Sobis do outro lado. Parabéns à torcida celeste pelas faixas de justo protesto pela morte do seu torcedor.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: rap
As vezes ter as 3 cores que traduzem tradição gravadas na alma dói, com dói.
ST