Cristóvão (por Paulo-Roberto Andel)

cristóvão

Justamente num momento tão difícil para o Fluminense, talvez seja também a hora de corrigir um erro histórico se tudo der certo. Ou vários.

Há 35 anos, tínhamos um jogadoraço jovem, tímido, vindo da (do) Bahia, de poucas palavras e que nunca teve a devida titularidade, pelos mais variados motivos. Apesar de ter sido campeão em 1980 pelo Flu, pouca gente se lembra. Depois ele correu o mundo, jogou em grandes equipes, outras nem tanto, carregando a elegância e sutileza de sempre.

E foi no Fluminense onde ele fez um de seus melhores amigos, nosso eterno ídolo Ricardo (Gomes). Trabalhou conosco, foi auxiliar em 2004, pouca gente sabe.

Muitos anos depois, Ricardo teve um terrível problema de saúde à beira do campo quando dirigia o Vasco e precisou ser afastado.

Lá veio o garoto baiano, então um homem já maduro, para segurar a barra de levar o Vasco à frente no ano de 2011. Chegou até a Libertadores, tendo antes nos castigado com aquele 2 x 1 no Engenhão. Ali perdemos a chance do tetra, que felizmente viria no ano seguinte.

Ah, 2013: o mundo contra nós, o inferno sob nossas cabeças, uma virada incrível na Fonte Nova abarrotada e um mar de lágrimas – ainda não sabíamos da Flamenguesa e pensamos ter sucumbido. Do outro lado, à beira do campo, o nosso craque que sempre fugiu. Vencemos em campo, perdemos nas manchetes, viramos o jogo para colocar as verdades no lugar.

Falo de Cristóvão (Borges), meu craque da infância, botão de meu time, herói de uma das maiores vitórias na história do Fla-Flu – leia-se 14/10/1979.

A fala mansa e o jeito ponderado têm um quê de finesse, de classe, coisa do Fluminense mesmo.

É uma aposta. E tem risco, óbvio. Não existe uma sem o outro.

Mas o fato é que ele não fica longe de seus contemporâneos, às vezes tão badalados no mundo das manchetes esportivas, alguns com empáfia, outros com mau-humor, outros ainda com deboche, todos com seus milionários salários e resultados discutíveis. Falam demais, gritam demais, gesticulam demais e… nem sempre o teatro vira vida real.

Cristóvão não é nada disso. É diferente.

Difícil saber o que pode acontecer justamente em função da aposta, da paciência da torcida, da necessidade de mudar os rumos do Fluminense e de não ser um nome prestigiado midiaticamente feito seus antecessores.

Mas que eu torço muito para que a continuação daquele golaço inesquecível em Cantarele agora seja escrita à beira do campo, é fato.

Aqui começa minha torcida pela reparação do erro histórico que comentei (os outros eu falo depois): Cristóvão era para ter cumprido uma trajetória de gala no Fluminense nos anos 80. Tinha muita bola a credenciá-lo para isso. Mas acabou não acontecendo como devido.

Trinta e cinco anos depois, no meio de uma tempestade parecida quanto aquela de 1979, é literalmente um começar de novo.

Pode ser que, para os que creem, seja o velho ditado de que Deus escreve certo pelas linhas tortas.

Em tempos que o Brasil reencontra-se com mazelas de sua história e tenta repará-las, quem sabe essa parceria do Fluminense com Cristóvão não vingue como todos nós gostaríamos, mesmo que poucos acreditem?

Sim, é uma aposta. Simples. Humilde. Até capaz de causar risos nos mais rasos intelectualmente – eles riem de tudo porque é mais fácil do que refletir.

Nada como a simplicidade e a humildade como resposta aos egocêntricos donos do mundo.

Não vai ser nada fácil. O Fluminense precisa de diálogo, oxigenação, renovação e resultados. Pressão. Cobrança diária. Contudo, sabe-se lá porque, pensei na chegada de Nelsinho em 1980. Quase ninguém acreditava: ele substituía Zagalo, que deixou o Flu porque “queria ser campeão”…

Oxalá o carnaval aconteça.

Bem-vindo, craque Cristóvão, sem sobrenome porque você é da casa. Bem-vindo, botão querido.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: netvasco

1 Comments

  1. A Torcida do Flu, cantou assim:
    ” Cristóvão que dança é essa
    que deixa o Manguito Todo Mole”
    Esta canção tb foi copiada pelo
    bacalhau!!

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