Quero aqui primeiramente lembrar de minha infância e a relação com o futebol, com o Fluminense e com a paixão. Não há como precisar bem quando e como começou, mas diferente da maioria que é levado ao estádio por seus pais ou tios, no meu caso acabou sendo o contrário, como já contei em outro texto recente por aqui.
O Fluminense habitava minha casa e minha rotina desde muito cedo, tendo meu pai como torcedor incólume e entusiasta das três cores, através de leituras e programas esportivos, na TV e no Rádio, e mesmo tendo tios e avós torcedores do rival, havia uma palavra consistente em meu convívio, chamada: RESPEITO. Muito representada em minha avó Dulcinéa, que mesmo flamenguista, me orientava a torcer para o Fluminense desde cedo, pois dizia ela: você precisa acompanhar o seu pai. Ou então minha mãe, que se dizia ser Fluminense mesmo não sendo a fim de me motivar.
Além do pai, um tio muito parceiro, o Zé Carlos e também outro, Paulinho, formavam junto com o CAAC (meu pai) o trio Tricolor da família, responsável por influenciar a um sobrinho deles, meu primo Marquinhos, que teve a honra e o privilégio de ser levado ao Maraca por eles para assistir as equipes que atuavam por vitórias e por títulos. Essa sorte eu não tive.
Tempos difíceis os quais me tornei torcedor e amante do Fluminense, em meio a muito zum-zum-zum da época em que tentaram exterminar o Fluminense, interna e externamente. Ser Tricolor, já na minha idade, nos idos da década de 1990, era um ato de rebeldia e de resistência. Era um ato de CORAGEM.
E assim me formei, vendo rivais sendo campeões, familiares pressionando a torcer para um Botafogo, com o simples motivo de nele um ente da família atuar: Ricardo Cruz, goleiro, mas também irmão de um zagueiro que envergara as três cores: Alexandre Cruz, que durante muitos encontros de família era meu argumento para sobrepor aos assédios da parentada que me atormentava a torcer pelo alvinegro que jogava em Marechal Hermes, subúrbio da Central, que havia, e ainda há, fartura de comida popular em suas calçadas e um famoso parque de diversões para uma criança suburbana, o Parque de Marechal.
Hoje tem faltado vivências para criar um filho Tricolor nesse mundo, as crianças costumam se apegar mais ao lúdico do que aos argumentos racionais e improvisados. Sabedor de que talvez eu faça parte de uma parcela ínfima que conseguiu ceder às tentações dos encantos, me mantive Fluminense por princípios, isso não é e nem deve ser igual para todos.
E não falo só dos resultados em campo, esses, aprendemos que no futebol podem variar, avariar e aviar. Mas digo o como o Fluminense se comporta, como ele é ‘vendido’ e o como ele vem sendo ‘comprado’ por grande parte da sociedade e até por seus mais desafortunados torcedores.
É muito difícil convencer só com palavras doces e histórias dionisíacas acerca de um FLU que não existe mais. E não nos adianta transferir a responsabilidade aos filhos e crianças que queremos torcedores e dizer-lhes: “você nem olhou pras coisas que admiro”.
Ou o FLU muda, ou mudamos o Fluminense. É desse modo que vejo a única e verdadeira maneira de proporcionar um legado às próximas gerações, aqui representadas por meus filhonenses: Ariel, Ayrà, Nara e Akin. Que eles possam viver um Fluminense, que mesmo maltratado, pilhado e esquartejado, ainda conseguiu me proporcionar emoções, sensações, conquistas e me ajuda em horas em que parece que nada existe nesse mundo feito para mim.