Pés no chão (por Paulo Tibúrcio)

tiba green

“Nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, já dizia o provérbio, oposto ao que tem vivido o Fluminense nos últimos tempos. Começamos o ano passado nos sentindo no céu, após a conquista da Primeira Liga. Um time que, se não era espetacular, pelo menos apresentava alguma competitividade. Ainda conseguimos alguns lampejos no Campeonato Brasileiro, mas terminamos o ano amargando uma posição pífia, após uma sequência de derrotas. Voltamos à terra, iniciando o ano com poucas contratações, elenco inchado e poucas esperanças. Mas aí vem Abel, os Equatorianos, uma sequência invicta de três vitórias e novamente voltamos a olhar para o alto e pensar no céu, vislumbrando um ou, quem sabe, mais títulos. Será que justifica a nossa euforia pelo atual momento do Fluminense?

Não se pode negar que o time melhorou bastante em relação ao ano passado, tanto em postura como em qualidade técnica. A contratação de Abel Braga foi fundamental para isto e, mesmo com poucas contratações, a equipe subiu de produção. Orejuela e Sormoza dispensaram a fase de adaptação e já são titulares indiscutíveis. O setor de defesa, um dos principais vilões do ano passado, foi quase todo modificado. Henrique Dourado, este sim, encerrou seu período adaptação e passou a jogar melhor.

De qualquer forma, ainda não tivemos um adversário que tenha realmente colocado este novo time à prova. Jogamos contra o jovem time do Criciúma. Como foi a primeira partida de ambas as equipes, prevaleceu a técnica tricolor. Depois vencemos bem o rival Vasco da Gama. Valeu por ser um clássico, mas a Colina apresenta um time velho e pouco competitivo. Por último, jogamos contra o Resende, time de menor investimento, contra quem o Fluminense suou para vencer por um zero. Nos três jogos o Fluminense passou por alguns sustos e neste último jogo, chegou a receber uma certa pressão do Lobo-guará, descontado o calor saariano.

Não dá para prever o futuro, mas podemos analisar os aspectos internos (forças e fraquezas) e externos (ameaças e oportunidades) na tentativa de se chegar a um cenário possível. Lembrando que se trata de um ensaio, ou seja, análise livre a partir de poucas variáveis. Um planejamento mais consistente requer um maior aprofundamento com participação de mais pessoas para realizar uma análise SWOT* mais realista.

Do ponto de vista interno, vejo que os pontos fortes do time são o técnico Abel, a juventude do time e a melhora técnica, o que permite manter o time motivado e competitivo. Estas mudanças na equipe foram responsáveis pela empolgação da torcida. Por outro lado, aponto como fraqueza o elenco. Ainda temos carência, principalmente nas laterais, e faltam peças de reposição. A questão financeira delicada também deve ser levada em questão. Além disto, o time ainda precisa de tempo para melhorar o entrosamento.

Externamente, a grande oportunidade é a participação nos campeonatos e torneios. Também temos como vantagem um bom período para entrosar a equipe até o início do Campeonato Brasileiro, com algum jogo da Sul-Americana no meio do caminho. Como ameaças, alguns times se reforçando bem e os compromissos das seleções – seja a principal ou a sub-20, seja a brasileira ou a equatoriana – que irão desfalcar o Fluminense de jogadores importantes. Além disto, temos a situação dos estádios, que geram uma indefinição.

Acredito que o Fluminense vai estar bem neste início de temporada, mas chegará um momento em que os jogos ficarão mais complicados, quando o time será colocado à prova. Até lá, o time tem que estar entrosado. Temos que ter paciência e dar tempo para o Abel trabalhar, mesmo que isto signifique não conquistarmos o Carioca ou a Primeira Liga. É importante resolver as questões de patrocínio e fornecedor de material esportivo para reforçar o elenco, que ainda não é o ideal. Conseguir bons substitutos para suprir a ausência de jogadores que serão convocados. Preparar Edson Passos como solução inicial para receber os jogos, mas ter em mente que, dependendo de nosso desempenho nos campeonatos, precisaremos de um estádio maior. E concordo em priorizar a Sul-Americana. Não somente na intenção, mas realizar uma preparação consciente para esta disputa.

Também estou muito empolgado com o início do Fluminense, mas consciente de que ainda falta muito trabalho a ser feito para termos um ano acima das nuvens.

*Análise SWOT – É uma ferramenta para se analisar cenários com base em forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Oportunities) e ameaças (Threats)

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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