Certas lições (por Paulo-Roberto Andel)

fiel fla-flu 11 de agosto

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O Fla-Flu voltou ao seu habitat natural: o Maracanã. Sem a velha geral, sem o grande público que um clássico dessa monta merece, num Dia dos Pais onde pessoas com camisas dos dois times circulavam em volta do estádio com tranquilidade – felizmente. O resultado final não foi bom, menos pela derrota e seu placar do que os significados contidos. Flamengo 3 x 2, nenhum centenário perdido mas um gosto amargo. Ah, meu Helio e sua lembrança de Cristóvão e Paulo Goulart: onde ele mora? Nas arquibancadas, amigos queridos, amores, velhos conhecidos, os fiéis, os admiráveis maníacos. Uma menininha era carregada pela mão, o pai feliz, ela trazia uma bonequinha linda consigo, pensei em coisas de conforto e paixão, feito aquele amor irremediavelmente vivo que bate em nossos corações diariamente. O amor de uma bonequinha!

2

Não foi fácil ver o Fluminense completamente dominado por um adversário que, mesmo dotado de um time muito inferior, empolgava com velocidade e marcação implacáveis. Eram dois jogadores na bola contra qualquer um nosso. Eram cinco ou seis em contragolpes fulminantes enquanto ficávamos atônitos, pasmos. Foi a vitória da vontade contra a apatia.

Era algo como se jogar uma partida de veteranos contra juniores em espera profissional.

Não deu nem para o começo.

Nem o golaço de Sobis, em sua centésima partida com nossa camisa, serviu de luz no fim do túnel. O garoto Eduardo entrou congelado. Felipe, craque, falhou no primeiro gol e não se pode esperar dele que arme e defenda – parece fundamental que tenha uma cobertura em volta. A defesa? Mais um dia de pavor. Felizmente Cavalieri voltou ao auge, mas sozinho não conseguiria impedir o pior: quase defendeu o chute de Elias, praticamente pegou um pênalti a seguir e mostrou serviço no segundo tempo. Mas não quero concentrar os comentários num nome somente: o conjunto todo foi muito mal e fez a pior apresentação desde o início da Era Luxemburgo – das piores do ano, aliás. De salvação, apenas certo momento em que cobramos um escanteio atrás do outro, o goleiro Felipe fazia saracoteios diferentes e ficamos no quase.

O Fluminense vinha em ritmo de bossa-nova, o Flamengo era Flea no baixo e Jack White na guitarra. Um furacão. Fizemos um a zero, eles viraram com toda a calma do mundo. Hernane fez um gol de letra ou calcanhar ou o que o valha, e isso dá ideia da nossa desnutrição técnica na zaga. Mal ajeitávamos a bola em nossa intermediária, eles já tinham dez jogadores leoninos atrás da linha da bola. Queriam ganhar desde o primeiro segundo do jogo.

A esperança estava no intervalo. Nosso treinador tem a fama – justa – de mexer numa única peça e mudar o panorama do jogo. Era a chance, mas ela não veio.

3

Assim como Abel não era e nem será nenhum vilão da fase tricolor, Luxemburgo não conseguiu a reação ontem por causa de detalhes simples, mas que têm pesado nas coisas do Fluminense.

Estamos parados, cansados.

Sem a velocidade de ligação entre defesa e ataque, as chances são escassas.

Futebol exige soluções de improviso dentro do campo: o fator-surpresa, o drible, a jogada desconcertante. Quem pode fazer isso no time hoje é Fred, mas sua velocidade-padrão é outra e nem é o caso: ontem, coitado, mal recebeu um passe que fosse.

Não havia nomes ontem para surpreender. Nossa velocidade era Wellington Nem em 2012. Ainda não estreamos no ano neste quesito.

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No segundo tempo, a pasmaceira continuou. Aos poucos, Vanderlei fez as mexidas, mas nenhuma delas deu tempero de reação – e talvez ele mesmo soubesse disso, dadas as peças que dispunha.

Quando a placa da esperança subiu para a entrada de Wagner, aí a minha desesperança abriu os braços e disse: “Eu estou aqui, eu sou a tua derrota e quero namorar contigo”.

Mas reitero: não quero falar de um nome somente. O que Wagner tem mostrado é o possível – e muito pouco para o titular de um time que pretende disputar títulos. Nada contra Diguinho, pelo contrário, até melhora o passe, mas também é uma solução datada.

5

Então sofremos o terceiro gol. Fred, desesperado, estava no buraco da zaga tentando defender, ajudar. E se cometeu um equívoco, foi porque não se fez de rogado, não aceitou com passividade o caos vivido em nosso miolo. Segundos e segundos sem ninguém chegar. Sofremos dois gols de Hernane, ninguém mais sofrerá.

6

Os flamengos merecidamente gritaram a festa na favela a plenos pulmões. Há muito tempo não eram tão superiores a nós num confronto, mesmo quando venceram noutras ocasiões.

Sobis, lutador, ainda descontou no apito final. Foi o herói solitário, tem brigado com dignidade a cada partida em campo. Merece os parabéns.

7

Seis pontos no caminho em duas paradas barra-pesada: Corinthians aqui, Náutico lá.

A sete pontos do G4, apenas dois da terrível zona de rebaixamento e um terço do campeonato disputado, parece ser a hora de iniciar uma recuperação de vez ou passar mais três meses de agonia. Mais pela questão psicológica. Mudar o cenário é agora.

Haja o que houver, será preciso velocidade, juventude – na atitude -, ímpeto, tudo o que o Fluminense teve em 2009, no fim de 2011, em 2012 quase todo, mas não tem agora – neste momento, neste ponto, o que não quer dizer que não venha a ter.

Vanderlei Luxemburgo tem pela frente um desafio enorme. Tinha conseguido progressos nos jogos anteriores, viu o desabamento no Fla-Flu. Passa mais uma rodada, mais um dia se foi. O tempo não espera.

Estamos sob tensão. Mas não desisto de acreditar que o sol nascerá. Eu sempre estive do lado dos poetas.

Quarta-feira será difícil. Bem difícil.

Não é hora para amadores, fanfarrões, carpideiras rancorosas e megalômanos do caos. Vai quem tem que ir. Eis a velha sina: quem não atrapalhar já ajuda bastante.

Quando o time não vai bem em campo, a torcida serve de motor de arranque.

Os flamengos nos deram mais essa lição ontem.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: PRA

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6 Comments

  1. Daria uma bela crônica esportiva… imagem espetacular de Bolt com relâmpago http://migre.me/fJaAz Ah…Armando Nogueira, Nelson Rodrigues, que falta fazem…
    PS: Postei esse lamento aqui em primeiro lugar pq nesse momento é bom desopilar um pouco do fatídico Fla-Flu e em segundo lugar pq sinceramente acho que vc tem um grande talento para a crônica esportiva, só não sei se existiria inspiração para além do nosso Flu…

    1. Andel: Muito obrigado pela tua generosidade literária para comigo, Anjos. Sou novo aqui. Uma opinião tão abalizada talvez me ajude a encontrar outros caminhos da literatura off-futebol. Fico honrado, pois. Penso em outras palavras.

  2. Caro Andel,

    Preciso na análise.

    Porém, me faltam palavras e saúde para comentar sobre o Fluminense. Completo desânimo com o que temos passado ao longo desta temporada.

    Só nos resta torcer para acabarmos o mais dignamente possível.

    Não creio em vaga para Libertadores (até agora – oitavo mês do ano – não tenho motivos para tal), muito menos em título. Será um pouco complicado vaga para Sul-americana. Oro para chegarmos logo aos 45 pontos e poder celebrar o Natal em paz.

    Que as escamas dos olhos de nosso diretoria caiam o mais rapidamente possível e percebam que precisamos de mudanças para 2014.

    Não podemos dar mole com o Conca…

    ST, Luiz.

  3. Foi pavoroso. E, pela primeira vez em muito tempo, há UNANIMIDADE numa derrota. Não ouvi nenhum torcedor, não li nenhuma crônica, reportagem ou entrevista em que alguém tenha alegado que “pelo menos o Flu…”, ou “o juiz…”, ou “a bola não entrou…”. Todos viram que foi uma partida lamentável, ridícula e inaceitável. Todos estão muito P. Um time campeão carioca e brasileiro não pode passar 9 clássicos seguidos em branco, e com 6 derrotas enfileiradas. E nas 2 últimas fomos uma espécie de Spider contra Weidmans…ficamos cambaleando com as mãos para baixo enquanto o adversário nos baixava o sarrafo.

    O time entrou de férias após a apoteose em Presidente Prudente. E ainda não voltou. Agonia à vista, infelizmente.

    Na 4ª estarei lá. Começa a luta pela Série A. Que coisa triste para o campeonato em que temos de volta o Maracanã (ou o que sobrou dele).

    ST.

  4. Jogou pedrinhas. Fico com vontade de desculpar, entender, afinal estava cheiod e reservas, mas nosso principal jogador estava lá e no ano passado o time não caia de produção com os reservas. Está faltando mesmo é motivação.

    1. Andel: Difícil crer que jogadores com salários na casa das centenas de milhares de reais estejam apenas desmotivados.

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