Cresci lendo e ouvindo histórias de jogos gloriosos do Fluminense. Todas elas acabaram por trazer, para mim, uma aura mística ao time. Algo que para uma criança faz muito sentido, pois ela vive absorta em fantasias, heróis, mágica… Com o tempo fui me aproximando cada vez mais do time, acompanhando os jogos de perto e percebi que nada daquilo era fruto de mentes inventivas e sim a mais pura realidade. O Fluminense é fantástico. Criaturas sobrenaturais habitam Laranjeiras e seguem o clube onde quer que ele esteja. Contando para algum desavisado, esse se impressionará com a dramaticidade de nossas vitórias e até derrotas. Ninguém passa incólume pelo Tricolor. Ele deixa uma marca em todos nós.
A bola que sairia pela linha de fundo encontrou a barriga de certo gaúcho pelo caminho e fez o gol mais espetacular da História do Fluminense, aos 41 minutos do segundo tempo, da final de um campeonato.
Um Fla-Flu no início do século passado que era disputado ao lado da bela Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio seguiu o ditado “bola pro mato, que o jogo é de campeonato”. Só que a bola era jogada na direção da lagoa sempre que estava na posse dos tricolores. O resultado do momento daria o título para nós. Não existiam bolas extras naquela época. Portanto, toda vez que a bola estava conosco, bico pra água. Tinham em todo momento que correr para resgatar a redonda e trazê-la de volta para o jogo. Isso cansou o adversário psicologicamente e fez o tempo passar. Campeonato nosso!
Certo jogador que hoje não anda muito bem das pernas, em 2009 teve um corte profundo na testa que o fez sangrar muito. O mais correto seria a substituição, mas ele, guerreiro que é, resolveu voltar com a cabeça toda enfaixada. Perdíamos por 1 a 0 e o sonho de chegarmos à final da Copa Sul-americana estava indo pelo ralo. Aos 45, a bola sobrou na área para quem? Para ele. Gol e classificação assegurada.
O jogador Washington, mais conhecido como Coração Valente, não marcava um gol havia 8 jogos. Um jejum incomum em sua carreira. Nas quartas de final da Libertadores de 2008, ele entrou em campo decidido a mudar o retrospecto. E mudou. Dois gols. O primeiro e o último. O derradeiro aos 48 do segundo tempo em uma cabeçada espetacular no ângulo, vencendo o maior ídolo da história do São Paulo, o goleiro Rogério Ceni. Eu estava ajoelhado nas arquibancadas do Maracanã e vi o gol com lágrimas nos olhos.
Foi o sobrenatural que fez tudo isso. A alma do Fluminense está predestinada para a glória sofredora.
Panorama Tricolor
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