Tricolores de sangue grená, é evidente que a queda precoce na Sula ainda reverbera fortemente entre a torcida. Arrisco-me a dizer que, apesar da chuva, da transmissão em TV fechada, do horário em que muitos tricolores ainda estão trabalhando e, é claro, do dia da realização da partida, antes do pagamento da maior parte dos brasileiros cair em suas contas bancárias, a principal razão para o esvaziamento da partida contra o Botafogo-PB pela segunda fase da Copa do Brasil foi a teimosia de Odair, que nos eliminou da competição continental. Já falei isso por aqui antes: o torcedor sabe que aquela competição era a única realmente importante em que tínhamos boas chances de título no ano. Desde 2016, ano em que faturamos a Primeira Liga, não ganhamos nada de minimamente relevante. Já são quatro anos. Se excluirmos essa competição, lá se vão longos oito anos sem taças. É tempo demais para um time glorioso como o Fluminense, acostumado a conquistar títulos, passar em branco. Isso se reflete, é claro, na paciência da torcida.
Desde que começamos nosso ordálio pós-Brasileirão, em 2013, a tolerância da torcida tem diminuído. A verdade é que o período de 2007 a 2012 nos “acostumou mal”, em que pese o sufoco contra o rebaixamento em 2008 e 2009. Mas, ao menos, havia uma expectativa positiva para os anos vindouros. O time era bom, tínhamos grana e a Libertadores parecia uma questão de tempo. A politicagem tricolor, os desmandos dos gestores do Fluminense e o excesso de vaidade do patrocinador à época conseguiu o que se pensava impossível, que era destruir o bom momento e nos devolver ao desespero. De lá pra cá, ainda tivemos alguns brilharecos, chegando a semifinais de Copa do Brasil e de Copa Sul-Americana, mas não passou disso. Com a espanholização (e talvez agora, alemanhização) do futebol brasileiro a todo vapor, os tiros que podemos dar têm se tornado mais escassos e, por isso mesmo, há a necessidade de serem mais precisos. Uma dessas balas de prata é a Copa Sul-Americana, a qual Odair jogou no lixo. O que resta agora é torcer pelo improvável, caso queiramos um título em 2020.
É claro que nossa camisa pesa. É indubitável que, se terminarmos o Carioca com o maior número de pontos que os molambos, por exemplo, e eles ganharem a Taça Rio, faremos a final contra eles. Podemos também acabar vencendo a Taça Rio e fazendo a final contra eles de qualquer maneira. O regulamento bizarro do campeonato estadual permite que possamos tentar decidir contra eles, a grana deles, o momento deles, e os 14 de sempre em campo, além dos torcedores de ocasião do VAR. Mas não se enganem… se formos campeões, será uma zebra. Não pela nossa história, mas pelo momento deles. Na Copa do Brasil podemos avançar até certo ponto. Se encontrarmos com eles, é aquilo… é mata-mata, tudo pode acontecer. Mas, também, será improvável um título nosso. E no Brasileiro eu diria que é, hoje, impossível, a menos que alguma reviravolta aconteça, brigarmos pela taça. Gostaria de poder ser otimista e dizer que temos chances, mas aí já é sair da realidade. Uma vaga para a pré-Libertadores provavelmente será a nossa luta.
Isto posto, é necessário que a torcida volte a tentar se animar com o time. Odair parece que finalmente enxergou o óbvio e espetou Hudson e Yago no time titular, entendeu que Marcos Paulo não pode ser reserva e, aparentemente, está preterindo os pernas-de-pau na equipe. Vamos encarar o Resende neste domingo, às 18h, no Maracanã. Se jogar a Taça Rio contra pequenos não é o maior motivador da equipe, não esqueçam que teremos a chance de passar energias positivas ao time para o confronto principal da semana, o jogo contra o Figueirense no Orlando Scarpelli pela terceira fase da Copa do Brasil, a acontecer na próxima quarta-feira. Trazer um bom placar é essencial, como sempre, ainda que não exista mais gol qualificado na competição. Também será importante para convocarmos mais torcedores a comparecer contra o Vasco, clássico a ocorrer no sábado que é fulcral para as nossas pretensões. Uma vitória dará moral e tranquilidade. O empate nos mantém vivos pela liderança geral do Carioca, essencial devido ao regulamento. Três vitórias nos próximos sete dias nos colocarão em uma posição excelente nos campeonatos que disputamos. Vamos em busca delas.
Curtas:
– Nem falei muito sobre o jogo contra o Botafogo-PB, porque em realidade fomos soberanos nessa partida. Os 2 a 0 ficaram barato, em que pese a equipe paraibana possuir algumas virtudes. A arbitragem nesse jogo foi terrível também, e ainda bem que não precisamos do gol anulado para nada. Marcos Paulo e Nenê, como sempre, muito decisivos.
– Marcos Paulo é craque. Só talvez ainda não saiba disso. Falta um pouco de amadurecimento, mas é impressionante a estabilidade dele em idade tão precoce. João Pedro apresentava instabilidade bem maior, apesar de também ser um baita jogador. Ele não. Será, com alguma facilidade, o substituto de Cristiano Ronaldo na seleção portuguesa se mantiver a cabeça no lugar. Tem futuro e, quando sair do Flu, precisa ser a maior venda da história do clube.
– Já Nenê tem feito, até aqui, um ano exuberante e irretocável. Todavia, não podemos nos iludir com isso. Quem consegue analisar o time além da superfície verá que Nenê não possui função tática nenhuma na equipe. O que o segura no time titular é o desempenho acima da média e o fôlego que ainda possui. Quando isso minguar – se minguar, o que é provável devido à maratona de jogos a partir do Brasileiro -, será que ele conseguirá se manter intocável?
– Esse, para mim, é o maior problema de Odair. Taticamente, a equipe fica mais equilibrada com Ganso, mas é impossível sacar Nenê da equipe agora. Acho que ele precisa conversar com os dois e obter a formação ideal a cada jogo. Entrar com um ou com outro dependendo do perfil do adversário e da necessidade do time me parece a saída mais inteligente.
– RIP Jair Marinho. Não o vi jogar, por razões óbvias (nem era nascido), mas não desvalorizo a história dos ídolos do Fluminense e campeões mundiais pelo Brasil. Fará falta. Meus sentimentos à família.
– Fico triste pela lesão de Digão, mas esperançoso que Odair abandone sua predileção pelo zagueiro e finalmente escale a zaga que, no meu entender, é a titular: Matheus Ferraz e Nino. Digão é um bom reserva. Mantê-lo na equipe porque é o capitão é um erro. Contrariar a torcida é um erro maior ainda.
– Palpites para as próximas partidas: Fluminense 4 x 0 Resende; Figueirense 1 x 3 Fluminense; Vasco 1 x 2 Fluminense.
Panorama Tricolor
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