Fluminense de Munique. Bayern das Laranjeiras. A empolgação da torcida com as últimas apresentações do Flu mostram o quão volúvel é a paixão futebolística e o quanto é perto o céu do inferno. De vilões a heróis, de vadios a guerreiros e pouquíssimo tempo.

É evidente que não há como negar a subida de produção da equipe com o Comandante Cristóvão, transformou o Titanic em Santa Maria, Pinta e Nina e resolveu descobrir novos mundos no futebol. Essa mudança deve-se sobretudo à capacidade de leitura tática de nosso treinador. Com sua fala mansa, mas segura, consegue passar aos jogadores o plano tático imaginado para cada partida, para dar cara à equipe, para trilhar os caminhos da vitória.

Mais que qualquer coisa, parece que essa é a grande diferença. Não é que os atletas respeitam mais esse ou aquele treinador, seja pelo currículo fora dos gramados ou pelas conquistas dentro dele, os atletas sentem confiança quando percebem a existência de algo estruturado, de um norte a ser seguido. Acho que isso faltou a Renato: a linguagem boleira sucumbiu à inexistência de um planejamento tático consistente. E, quando deixados à deriva para que resolvam as partidas, os craques escondem suas falhas nos outros, gerando brigas e rixas de vaidades.

Cristóvão definiu o estilo de jogar do Fluminense como um estilo solidário e tem razão no que diz. Inspirado visivelmente no que há de moderno no futebol mundial, o Tricolor é o retrato da tendência: busca ficar com a posse de bola, troca passes com paciência e promove a movimentação dos jogadores. Entretanto, apesar de haver clareza no sistema adotado, ainda há de ressalvar-se que é um modelo ainda insípido.

Não somos o Bayern. Nem estamos próximos de sua qualidade tático-técnica. Falta velocidade na movimentação, com mais triangulações, algo que o tempo e o entrosamento pode nos fornecer. Essa troca de passes rápida e inteligente funciona bem com o quarteto ofensivo da equipe, já que a qualidade técnica é sensivelmente maior. Mesmo Wagner, sempre criticado nesta coluna, adaptou-se bem e, sem prender a bola, torna-se um jogador valioso. Sobis se adapta bem ao sistema, pois sempre teve como característica a movimentação. Fred e Conca dispensam comentários, apesar de merecer destaque a vontade com que compraram a ideia do esquema.

Fôssemos supersticiosos, apostaríamos no número dois. É ele a base de organização do esquema de Cristóvão. Dois zagueiros, dois laterais, dois volantes, dois meias, dois atacantes. Seis defendendo, quatro atacando, em tese. Muita gente parece ter esquecido os problemas de nossa zaga por conta de há três jogos não levarmos gols.

Há razões que explicam, mas não tranquilizam de todo. Com a proposta de ter mais a posse de bola, ficamos menos expostos. Mais movimentação impõe uma marcação desde o ataque, facilitando a tarefa da defesa. Nossos volantes sentiram-se bem no novo esquema: Jean tem a possibilidade de verticalizar as jogadas e aparecer como surpresa em tabelas com Wagner e Conca; e Valência mostra-se seguro jogando mais cautelosamente. Mesmo Diguinho quando acionado revelou-se voluntarioso e disposto a ajudar.

Desde há muito se sabe que a melhor defesa é o ataque, por isso o elogio ao sistema defensivo deve ser feito levando em conta a postura ofensiva do time. A zaga ainda não enfrentou grandes atacantes e terá algum trabalho contra o Palmeiras, apesar de não ser o derradeiro teste. Não acho que ficaremos intocados durante muito tempo – apesar da excelente retomada de Cavalieri –, creio que, ao aplicarmos a fórmula moderna em nosso padrão tático, viveremos fortes emoções: se por um lado a liberdade ao ataque faz nosso talento aparecer, do outro não teremos uma muralha inexpugnável e sofreremos gols contra adversários mais fortes.

A confiança, entretanto, não muda. Se impusermos nosso estilo de jogo contra as equipes de menor investimento e dominarmos as equipes de médio porte, sofreremos em alguns jogos contra os bons elencos, mas mantendo a eterna liderança de uma só semana. Ainda mais se embalado por milhares de vozes em nossos domínios.

Panorama Tricolor

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