Um dos assuntos mais polêmicos no Fluminense é o aproveitamento da base no futebol profissional do clube.
Na semana passada, mais uma vez, uma negociação cercada de dúvidas por todos os lados, envolveu mais um jogador da base.
Se buscarmos nos últimos 20 anos, talvez seja o Flu o maior formador e exportador de jogadores no futebol brasileiro.
A grande discussão que se trava é, além da falta de transparência, quanto ao retorno esportivo e financeiro obtido pelo clube com a revelação desses jogadores, bem como suas vendas constantes para o mercado.
Chegamos a ter vários jogadores que saíram diretamente das categorias de base para clubes do exterior, sem nunca terem vestido a camisa do clube como profissionais.
Justiça seja feita, não é apenas no Fluminense que ocorre esse problema, e nem o fato caracteriza que o trabalho desenvolvido seja ruim, pelo contrário.
O bom trabalho de campo desenvolvido nesses anos é que alicerça a grande produção de bons jogadores em Xerém e, talvez, ainda mantenha o Fluminense respirando por aparelhos.
Mas não basta apenas produzir e lançar jogadores no mercado. É preciso, e necessário por questão de sobrevivência, fazer de Xerém uma plataforma de negócios.
Mais que títulos, Xerém deve ser nosso indutor para um ciclo virtuoso que permita ao Fluminense e seus torcedores não temer pela perenidade desse clube centenário.
A base, como plataforma de negócios, deve ser vista sob dois prismas:
a) Retorno sobre o investimento realizado, que é medido pelo desempenho do atleta na equipe profissional. É o que chamamos de retorno esportivo;
b) Retorno financeiro, medido pelo valor recebido quando da transferência do atleta.
Dificilmente no Brasil um jogador consegue trazer ao clube retorno simultâneo nesses dois aspectos.
Isso se dá face à terrível situação financeira da maioria dos nossos clubes, endividados além da sua capacidade financeira, sem recursos para reinvestimento seja em material humano, seja em aparelhamento dos centros de treinamento.
Estrangulados em sua capacidade de arrecadação e asfixiados em sua capacidade de pagamento resta aos clubes vender suas “joias” a preço de banana, na bacia das almas, por valores irrisórios, ficando nas mãos dos empresários e mercadores do futebol.
O olhar dos clubes para sua base se dá como um “cheque especial” onde ele poderá utilizar para saldar seus compromissos urgentes, sair do sufoco momentâneo e recomeçar o ciclo vicioso.
Poucos buscam ou têm condições de reinvestir os valores alcançados com as negociações em melhorias de gestão que, em um futuro, possam permitir que esses jovens atletas produzam os retornos esportivos e financeiros esperados, realimentando a “fábrica de jogadores”.
Precisamos passar do discurso sobre nossa grandeza, tão exaltado nas redes, para ações concretas de busca por mudanças estruturais no clube.
Os grandes temas estão aí. Transformação da base em plataforma de negócios, mudança e modernização do estatuto, permitir votação online, permitir verdadeiramente ao sócio futebol participar da política do clube, debater sobre a viabilidade do clube empresa, discutir a necessidade de apartar o clube social do futebol, afora muitos outros tópicos.
Não será com política paroquial de beira de piscina e discurso de rede social que levaremos o Fluminense ao seu segundo centenário.
Não á toa, os grupos se sucedem à frente do poder no clube e mantém o modus operandi que, há anos, nos afunda nesse lamaçal movediço em que nos encontramos.
Faltam dois anos para novas eleições e, nesses primeiros 18 meses, a gestão atual nadou de braçadas diante da incompetência imobilista de quem se diz oposição.
Excesso de blá, blá, blá e pouca ação, mais que eternizar os feudos tricolores, matarão a galinha dos ovos de ouro.