Amigos, amigas, eu estava aqui brincando de corte e colagem com os fragmentos do vexame da tarde de ontem, de modo que só na madrugada começo a escrever, em nada surpreso ou desapontado com o que aconteceu.
Você só fica surpreso com alguma coisa quando ela não é esperada, assim como só fica desapontado se você tinha uma ótima expectativa que foi frustrada. Nenhuma dessas situações aconteceu. Uma derrota vexatória estava escrita, apenas procurando por sua data, seu protagonista e por uma ocasião em que Marcos Felipe não estivesse disposto a salvar o time, aliás, muito pelo contrário.
A promissora sequência de quatro partidas seguidas no Rio de Janeiro já foi pelo ralo. Em duas partidas, somente um ponto. Nas últimas três partidas, duas derrotas e um empate. O Fluminense cai para a 11ª colocação, com apenas 10 pontos. Podemos terminar a rodada, apenas a oitava rodada, a uma distância de 10 pontos do líder, caso o Bragantino, em casa, confirme seu favoritismo diante do Ceará, curiosamente, e isso é assunto para dar pano para manga, que eliminamos na Copa do Brasil.
Mas eu vou preferir começar pelo jogo do último domingo, em que o Fluminense fez uma partida que me deixou muito esperançoso, porque foi a primeira vez que eu vi Roger quebrar aquela velha lógica de: bola no pé do adversário, chutão pra frente, jovens ponteiros correndo atrás dos laterais adversários, quinze minutos de pressão no adversário e oitenta e cinco de sufoco.
O que faz Roger em relação à escalação daquele time? Ora, sai Abel, suspenso, e retorna Fred. Até aí, faz algum sentido. Embora percamos em imposição física, ganhamos em qualidade técnica, ainda mais com um time que mostra que tem capacidade de tirar a velocidade do jogo com a bola no pé e sem ela quando de seu interesse.
Mas aí, amigos, amigas, ele tira do time o Ganso, que era justamente o jogador que dava sustentação aquele jogo. Coloca o Nenê, que faz outra função na vida e deixa o Cazares, um jogador nitidamente fora de forma atuando ao lado de Nenê e Fred, dois jogadores de quase quarenta anos.
Qualquer técnico em qualquer lugar ou time profissional do mundo que vem com uma escalação dessas é demitido antes do time entrar em campo. Como é que você dá uma vantagem física imensa dessas ao adversário?
Só que Roger não queria perder totalmente a dinâmica do jogo contra o Corinthians. Então, ele sai com sua mais nova ideia. Desloca Nenê para o lado esquerdo, mantém Cazares no lado direito e centraliza Gabriel Teixeira para fazer o papel exercido por Ganso no jogo contra o Corinthians. Vamos lá que seja especulação demais, mas dá a impressão de que é uma forma de evitar comparações entre Ganso e Nenê, justo quando Ganso tinha feito boa partida contra o Corinthians.
E o que foi que o Fluminense fez em campo com essa escalação esdrúxula? Passou quase 20 minutos amassando o Athletico. E qual a novidade? Nenhuma. Você está vendo aquela escalação e você sabe que aquilo não vai durar muito. E ainda tivemos a sorte de fazer o gol logo aos 2 minutos, com um cruzamento lindo de Cazares e uma cabeçada certeira de Fred. Nenê quase marca o segundo em uma infiltração pela esquerda, quando o time ainda dominava o Athletico. Não tinha nem 20 minutos de partida e foi o último lance de perigo do Fluminense em todo o jogo. Amigas, amigos, eu disse: EM TODO O JOGO.
E o que acontece, então? Falhas e mais falhas. Falhas de todos os tipos e gols do Athletico de todo jeito. Fizeram cinco para valer quatro. Mas olhe que Roger volta para o segundo tempo com o mesmo time e continua jogando mal. Roger, depois de intermináveis 22 minutos de jogo, decide realizar trocas e se supera. Ele tira Yago para colocar Paulo Henrique Ganso. Eu acho que não precisa comentar, precisa?
Roger coloca, também, Kayky no lugar de Cazares, deixando Nenê e Fred em campo. Após o jogo, na entrevista coletiva, ele reconhece que as substituições não surtiram efeito. Elas teriam surtido efeito, Roger, seu cara de pau, se você tivesse tirado o Nenê, não o Yago, para a entrada do Ganso, deslocando o Gabriel de volta para a esquerda e colocando o Kayky mais na direita, mas a graça é inventar moda.
É claro que o Fluminense não melhorou nada, mas o técnico do Athletico também fizera duas substituições para acelerar o jogo. E foi como aconteceu naquela derrota para o Atlético-GO. Foi só o Athletico acelerar e verticalizar o jogo, que o Fluminense, com a marcação fragilizada, entregou o relógio, a carteira, o celular e o cordão. E como Marcos Felipe, assim como Nino, estava mais para quinta coluna do que para salvador da pátria, dessa vez as bolas entraram e o placar refletiu o que aconteceu em campo.
Mas antes do final você tem mais uma cartada triunfal de Roger, que me tira da algibeira Mateus Martins e João Neto. Isso foi depois do terceiro gol, quando resolveu tirar do time Nenê e Gabriel, quando era para ter tirado Nenê e Fred. Resultado: ficamos com dois centroavantes, dois ponteiros e Ganso e Martinelli tendo que tentar armar o time e ainda correr atrás do time do Athletico. Termos sofrido só mais um gol, diante dessa loucura, foi lucro.
Tem alguma lição para a gente tirar desse jogo? Eu acho que o vexame foi excelente para o Fluminense, até lembrando aquele vexame diante do Corinthians no ano passado, que acabou sendo nossa última derrota no campeonato. É claro que eu não estou aqui comemorando derrota, mesmo que seja para o bem, mas a oportunidade que ela representa às vésperas de um Fla-Flu e às portas das oitavas da Libertadores e da Copa do Brasil.
Eu destoo da maioria, que afirma que o Roger não tem qualidade, não é técnico, é um estúpido ou qualquer coisa assim. Eu acho que o Roger tem qualidade e já mostrou isso nesse trabalho. Roger sabe o que fazer para o Fluminense ser um time muito melhor do que isso que estamos vendo. Existe um Fluminense muito melhor do que esse esperando para jogar, e o esboço dele é o time que enfrentou o Corinthians.
Agora, o Fluminense não pode ser o time que vive correndo para não chegar. É no futebol e nas finanças, onde o cara reclama que não tem dinheiro para montar times mais competitivos, mas paga R$ 2 milhões por mês para quatro jogadores veteranos, vende jovens promessas para cobrir o rombo no fluxo de caixa, diz que é o caminho para resolver o problema da dívida e a dívida continua aumentando.
Quando eu digo que o vexame é excelente, porque ele expõe a realidade, faz cair o véu, eu não estou querendo dizer que a oportunidade será aproveitada. Ao contrário, eu já estou me preparando para não assistir ao Fla-Flu no domingo, porque eu tenho certeza de que vou começar a me aborrecer já na hora que eu vir a escalação.
O importante é percebermos que os resultados começaram a refletir o que verdadeiramente tem sido o Fluminense na temporada, porque o rei está nu e tem gente que continua insistindo em não querer ver.
Saudações Tricolores!