Há coisas que só existem no futebol. Asa negra é a expressão utilizada para chamar uma equipe que, independentemente da qualidade técnica, tradição ou força causa sempre problemas quando joga com uma determinada equipe. E é esse o México quando joga contra o Brasil.

A antítese parece ser a essência do esporte bretão. Em campo, o pentacampeão mundial, um time recheado de estrelas internacionais e com o apoio incondicional do torcedor; do outro lado, uma equipe que trocou de treinador algumas vezes meses antes do torneio, com alguns bons talentos, que teve dificuldades para classificar-se para a Copa.

Tudo parecia encaminhar-se para mais uma vitória canarinho. Vencida a ansiedade da estreia, contra o adversário mais forte do grupo, a seleção podia apresentar-se solta, leve e talentosa, tudo o que os abastados torcedores nos estádios e o restante da população em frente às tevês espalhadas pelo país gostariam de ver. Mas, o futebol não se resolve com a lógica.

De repente o Brasil se viu dominando as ações no primeiro tempo, ainda que não jogasse bem. No oposto, um adversário aplicado na marcação, chegou a ensaiar um jogo mais franco contra o Gigante, porém optou pela cautela. E a metade inicial teve a seleção presa à marcação mexicana, rodando bola para achar espaços, mas sem a marca da criatividade nacional para encontrá-los.

Ainda assim, como há de serem as antíteses, o Brasil criou as melhores chances e consagrou o sempre seguro goleiro Ochoa. Uma parede mexicana ergueu-se por noventa minutos na meta tricolor. Intransponível, diga-se de passagem. Felipão tenta dar mais ofensividade, substitui e o segundo tempo teima nas antíteses.

Pois foi o México quem dominou as ações e jogou melhor na segunda etapa. Criou algumas situações perigosas e fez com que o Brasil não tivesse como jogar. Entretanto, mais uma vez, Ochoa operou milagres e garantiu que o zero não saísse do placar.

Algumas vitórias escondem problemas e, talvez, tenha acontecido com a canarinho. O Brasil mostrou que lhe faltam alternativas de jogo quando suas opções estão bem marcadas. Diferentemente do jogo contra a Croácia, Oscar esteve abaixo da crítica e Neymar nem de longe repetiu a partida contra os europeus do leste. Na dependência do talento individual, a seleção mostrou-se travada e sem saber o que fazer.

Na zaga, Thiago Silva só não leva o troféu de melhor em campo por conta do arqueiro adversário. Mas, sempre é preocupante quando um zagueiro é o destaque da equipe. O meio ressente-se de mais criatividade e opções. O time tem pouca ligação e parece mais preocupado em marcar o adversário que marcar contra o adversário. Assim, o ataque fica isolado e dependemos apenas das laterais. Marcelo caiu por demais para o meio para ajudar na criação e Bernard não conseguiu fazer as jogadas pela esquerda. Dani Alves não disse a que veio e a sombra de Maicon parece crescer sobre ele.

Ainda há tempo para corrigirem-se os defeitos. Não muito, pois a sequência de jogos é grande. Mas devemos nos preocupar, pois dentro em pouco começam os jogos decisivos. No final, o resultado em si, observando apenas a tabela, foi bom para ambas as equipes: para o México que conseguiu um ponto e jogará a próxima partida com a vantagem do empate para classificar-se e o Brasil que tem a mesma vantagem e ainda joga contra a seleção mais fraca do grupo. Caldo de galinha, para que não surjam novas asas negras em nosso caminho.

Panorama Tricolor

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