Duas da manhã de quinta-feira, 19 de agosto de 2021.
Um dos dias mais importantes da história do Fluminense, para o bem e para o mal.
Se vencermos o limitado Barcelona de Guaiaquil por um gol, voltaremos às semifinais da Libertadores depois de 13 anos, com direito a fazer dois dos maiores Fla x Flus da história – ainda que sem comparação com 1969, 1983, 1984 e principalmente 1995.
Sejamos sinceros: não jogamos nada há meio ano, nosso treinador é fraquíssimo, nossa direção é patética. Porém, chegamos. Sabe-se lá como, chegamos. Dificilmente o Flu fará uma partida diferente de seu padrão das últimas semanas. Mas pode ganhar. Parece improvável mas não é impossível, são grandezas distintas.
E se passar com o gol bizarro, modesto, esquálido, vem à frente uma de nossas maiores batatas quentes de todos os tempos. O rival bate em todo mundo, nos fez de paçoca na última decisão. Há quem diga, e muita gente boa diz, que o Fluminense periga levar duas sovas na semifinal, tamanha é a descrença em Roger Machado.
Do jeito que as coisas estão hoje, caso passe em Guaiaquil, é improvável que o Fluminense elimine o rival na Libertadores. Só não é impossível porque é futebol, único esporte onde um time mais fraco pode surrar um poderoso.
Improvável não é impossível, ressalte-se. E o Fluminense já fez das suas por aí com Nildo, Dirceu, Valtair, o saudoso Vander Luiz, Luciano. Só faltaram o Júnior Dutra e o Felippe Cardoso, mas aí já era demais.
As próximas horas são três cores de sentimentos, dramas, contradições, incertezas, críticas e o torcer, essa característica que foge de lógica e aquece o coração das pessoas. Torcer não é lógico, mas o futebol também não é lógico. E nós, que vivemos mais do que qualquer clube a glória e o ridículo, aí estamos para mais uma parada. Parte da torcida precisa entender que criticar não é torcer contra, mas exercer a lucidez. Torcida não é claque.
Tenho falado todo dia com Leo e Raul sobre o jogo. Pela primeira vez em minha vida, temo pelo pior quando é o Fluminense em campo. Mas estamos a quatro jogos da Libertadores e, no cenário atual do continente, é possível sonhar. Já entraram três brasileiros, nós disputamos a última vaga. Se passarmos, somos os mais fracos, mas aí sinceramente os disparates diminuem.
À essa altura dos fatos, não dá mais para acreditar somente em mística, camisa e tradição, mas também não dá para dizer que chegamos nisso ontem. A vida é risco.
Vamos ver no que dá. Que seja uma grande noite tricolor. O time, o treinador e a direção não oferecem ânimo, mas aí a gente segue Ary Barroso, abre as cortinas do passado e enche o coração de esperança, recordando os melhores anos de nossas vidas na arquibancada. Um golzinho, miserável que seja, o suficiente para a gente berrar e chorar de alegria. É assim que tem sido construída a história do nosso amor.
Se for glória ou ridículo, paciência, não temos escolha. Estão rolando os dados.