As fúrias
O lindo Maracanã lotado e todo vermelho para Espanha e Chile, numa cantoria só. Os campeões do mundo com a corda no pescoço depois da goleada sofrida para a Holanda, os chilenos em busca de uma vitória consagradora e a classificação para as oitavas.
A partida começou com ritmo alucinante. Os chilenos voando em campo, ocupando todos os espaços, Isla, Vidal, Medel e Vargas voando – este fez o golão depois de receber da direita, tirar Casillas com um toquinho e fuzilar no melhor estilo artilheiro. Atônita, a Espanha parecia ainda sob os efeitos dos 5 x 1 contra na primeira rodada. Total domínio dos vizinhos no primeiro tempo. Xabi Alonso – irreconhecível – teve uma boa chance e só. O goleiro Bravo, muito seguro, defendeu um cruzamento. Aí o Chile, bem esperto, aproveitou e fez o segundo, num chutaço do Aránguiz depois da falta e do rebote do Casillas. A coisa ficou preta para a Fúria. Diego Costa nem viu a cor da bola. Só Iniesta se salvou.
A julgar pela velocidade alucinante da disputa, a decisão do jogo ficaria para as substituições naturalmente esperadas. A Espanha colocou Koke para o segundo tempo em lugar de Xabi, realmente mal e com cartão amarelo. E voltou mostrando vontade, mais rápida e ofensiva, ainda que insuficiente para desfazer o desastre. Perdeu um gol feito com Busquets no rebote de Bravo e a bicicleta que virou cruzamento.
Del Bosque fez a tentativa final: Fernando Torres em lugar de Diego Costa. No Chile, Aránguiz tinha tentado ficar em campo depois de se machucar, mas não aguentou: veio Gutiérrez. Com direito a gritos incessantes de olé e da eliminação espanhola, a torcida chilena foi à loucura quando Isla interceptou por cima do travessão o chute da esquerda de Mena.
No terço final, o Chile absoluto em campo passou a tocar a bola e administrar o resultado diante de uma Espanha muito distante do título mundial de 2010, marcada pelo sarrafo de Sergio Ramos, ainda que Iniesta tenha colocado uma linda bola no ângulo esquerdo para a bela defesa de Bravo. Ah, touradas em Madrid. No fim, seis minutos de acréscimo – podiam ser duas horas que o quadro espanhol não se reverteria. E pensar nos que riram de Pelé quando ele disse do favoritismo chileno…
Todo Carnaval tem seu fim. Os atuais campeões do mundo deixam a Copa antes do justo e razoável, mas o treinador Muricy tem uma frase irretocável: “A bola pune!”. Iniesta merecia bem mais. Ou talvez a hora de pensar no que pode ter sido a supervalorização da efêmera era espanhola. Já Neruda e Allende são a festa em pessoa em algum lugar dos mundos. Viva Chile!
Panorama Tricolor
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Imagem: Marô Sussekind