Aquela canção da Rita (por Paulo-Roberto Andel)

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Para quem começou o ano de 2014 sendo agredido e apedrejado, tanto nas manchetes quanto nas ruas propriamente ditas, nada mau ver o Fluminense como líder do Carioca e chegando ao Clássico Vovô com sete vitórias consecutivas, repetindo a façanha de 2009 que já alimentou livros.

Naturalmente, cabe o argumento de que as competições estaduais não se nivelam às nacionais. Entretanto, dois pontos merecem análise: tirando um ou outro, dá pra dizer que o bom Macaé de anteontem é pior do que Ponte Preta, Portuguesa, Coritiba, Náutico e outros respeitáveis times do ano passado? Dos melhores onzes em dezembro de 2013, quais deles brilham intensamente neste começo de ano? Em futebol, as coisas mudam rápido demais.

Que tal aquela canção da Rita Lee? Nem luxo, nem lixo.

Nem passionalidade exacerbada, nem pessimismo funéreo.

O Fluminense novamente é um time em construção. Ainda falta muita coisa para retomarmos o protagonismo absoluto. Mas algumas sutilezas são visíveis a olho nu.

A volta avassaladora de Conca, derrubando as preocupações de quem imaginava-o três anos mais velho e mais lento – eu incluído e felizmente quebrando a cara. Depois de dois anos de bons treinos no futebol chinês, Conca faz sua melhor temporada de verão no Brasil. Voa em todos os jogos. Parece um sub-23.

Cavalieri é a frieza, a calma, a concentração gelada de quem não se abala. Fez defesas monumentais neste Carioca. Parece encaminhado para a fase de 2012.

Fred, de acordo com as estimativas FlaPress, estava fora dos campos e da Copa. Voltou, fez grandes jogadas, acabou com o jejum e tem tudo para um ano apoteótico.

Dada a espinha dorsal acima, você tem um Carlinhos de volta, um Diguinho muito bem, um Jean em progresso, um Valencia com firmeza.

Precisa falar do Walter?

A obra em progresso pode dar um belo prédio. Será preciso ter paciência para o acabamento. Mas fica claro, claríssimo, que o Flu 2014 já é muito diferente do Flu 2013, principalmente na atitude.

Os críticos de Renato ainda não puderam vociferar. Seis anos mais maduro, o treinador que é um escudo de glórias do Flu à beira do gramado ainda mantém o espírito de boleirão, mas está diferente. Prestemos atenção.

Quando o Flu promete ir bem, as manchetes ficam à míngua. Vem dieta firme por aí. Difícil de explicar num modelo, mas perceptível no ar.

Se amanhã ou depois, este relato otimista der um Carioca, uma Copa do Brasil e/ou o sonhado penta, queiram dar crédito à vanguarda desta coluna. Ah: quem achar que eu estou comemorando previamente, favor reler.

Nem luxo, nem lixo. Mas a vida é hoje. Dá-lhe, Rita!

2

Todo Tricolor que se preze precisa estar domingo no Maracanã. E cedo, às 14 horas, em frente ao Bar dos Esportes, para protestar contra os jornalistas criminosos da ESPN Brasil.

Não é hora de dizer que o assunto já deu no saco. No primeiro tropeço do Flu, eles voltarão com tudo e você pulará no teto de raiva. Então, a hora de se mexer é agora.

3

A turba deu grita por conta do comentário de Edinho, atual analista de jogos na TV Fla.

Em sua visão, o eterno ídolo, dos maiores jogadores da história do Fluminense – e que, como treinador, levou dois times fracos do Flu à disputa de títulos em 1991 e 1993 -, equivocou-se em apontar falta de Fred sobre o zagueiro na jogada do gol do Macaé quarta-feira passada.

Eu mesmo, na primeira imagem, confundi-me a respeito. Na segunda, não.

No próprio intervalo, Edinho recuou em sua posição. Fred deu o totozinho, acontece, é do jogo, todo mundo faz.

A meu ver, a grita foi exagerada. Só compreensível, no entanto, pelos nervos tricolores à flor da pele depois de meses de massacre midiático.

Por mais que ame o Flu, Edinho é pago pelo maldito canal para comentar jogos e lances, não para defender o Tricolor – isso, ele fez e muito bem quando era profissional dentro das quatro linhas e à beira delas. Errou, acertou, a função é essa.

Deu sua opinião, demos a nossa em oposição. Estado democrático de direito, com os devidos contraditórios.

Errar num lance ou outro não é motivo para destratar o ídolo, ao menos para os que conhecem sua trajetória.

Edinho tinha todos os motivos para ter mágoa do Fluminense, quando foi expulso do clube (injustamente) em 1989. Mas não tem. Ele sabe de tudo o que fez e dos Tricolores com 45 anos ou mais. Com menos de vinte anos, já tinha usado braçadeira de capitão. Craque da Máquina. Com menos de vinte e cinco, era o líder dos campeões de 1980. Forte personalidade, nunca correu da raia. Se hoje critica o peso de Walter, há uma explicação natural: foi o jogador de melhor preparo físico na seleção brasileira de 1982. Como Tricolor, quer o melhor – e por isso talvez pareça tão incisivo.

Já ouvi gritas semelhantes em relação a Gerson e José Carlos Araújo, verdadeiras sandices nas redes sociais a respeito – entrevistei os dois e tenho noção do que é o Tricolor em suas vidas. Outro dia mesmo vaiaram o Fred. Paulo Victor, herói da baliza, saiu escorraçado das Laranjeiras em 1988. O eterno Romerito, finalmente valorizado em tempos recentes, foi embora discretamente para o Equador também em 1989. Há torcedores que viram em Ricardo Gomes apenas um mau técnico, ignorando uma história fantástica. Branco é um eterno herói do Flu; no entanto, isso não o impediu de, em 1995, dizer em manchete que os torcedores do Fluminense deveriam comprar lencinhos brancos para o choro em 25/06/1995 – o que, todos sabemos, não deu certo. Já teve gente que quis escorraçar Nelson Rodrigues quando, já no fim da vida, posou numa foto com uma camisa do Flamengo ao lado de Zico, numa clara homenagem ao seu querido irmão Mário Filho.

O fato do sujeito ser ídolo não lhe dá imunidade constitucional, como acreditam os jornalistas marrons. Mas daí a achar que Edinho, por exemplo, é um FlaPress significa no mínimo uso desproporcional da força.

Ele não é um RMPZ, um Jucka, um Anteroso ou o patético MC Pereira. Esses sim merecem grita, protestos, processos e manifestações.

Sugiro humildemente que a raiva contra Edinho seja canalizada para o ato de domingo, atingindo os verdadeiros – e justos – alvos.

4

Ainda não tive tempo para agradecer a milhares de Tricolores que deram muita força ao livro “Pagar o quê?”; assim sendo, beijos e abraços a quem de direito.

Amigos queridos, meninas lindas, pessoas generosas no trato e nas palavras.

Gente de todo o Brasil.

“Pagar o quê?” é um livraço e tenho orgulho de estar nele, seja por mérito, persistência e/ou sorte.

Vem mais coisa por aí.

Obrigado ao Fluzão por tudo.

Mas não agradeço somente a milhares de pessoas legais.

É preciso valorizar também a importância de despeitados, recalcados e invejosos, geralmente incomodados com o trabalho dos outros por simples falta de talento próprio – caso contrário, bastaria fazerem melhor do que seus detratados (o que jamais conseguirão por motivos evidentes). São três ou quatro. Merecem 30 segundos de fama. Rio deles: quanto mais recalque mostram, mais produzo. São fundamentais. Adoro imaginá-los p$%#tos da vida numa ocasião em que diversos torcedores oferecem generosos elogios ao meu ofício.

Pedras que rolam não criam limo.

Babacões são pedras esmeraldinas.

Tenho mais o que escrever.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem:PRA

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23/02 – Maracanã, antes de Fluminense x Botafogo

1 Comments

  1. Parabens Andel! Como sempre, direto ao ponto, e com estilo! Dá orgulho ser tricolor por poder dividir a mesma paixão com caras como vc! Abç e ST!

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