Dividiam o único pão que era possível comprar para tomar o café da manhã, que não tinha café.
Amavam-se cada vez mais, digamos que proporcionalmente à pobreza.
Aliás, o que mais tinham para dividir era a pobreza e para dar, o amor.
Eram feios, mal vestidos, mal cuidados, porém sorriam de felicidade cada vez que se viam.
O momento mais importante do dia era o reencontro à noite quando chegavam do trabalho.
Como era bom ter o outro, pensavam. Sabiam que nada os separaria.
Assim como este casal, aprendi a amar o Fluminense na adversidade, abaixo da linha da pobreza, na humilhação dos seguidos anos de rebaixamentos.
Amei cada jogador, por mais perna-de-pau que fosse.
Ouvi piadas (ainda as ouço) e mesmo assim não me cansava de insistir para que meu pai me levasse aos estádios.
Era um amor bandido, desses de casais que gostam de brigar, só para que se amem ainda mais no apagar das luzes.
Minha relação com o Fluminense nunca foi de amor em segredo.
Éramos vistos aos beijos em ruas, praças e principalmente nas rampas e arquibancadas do Maracanã. Esse sim era nosso “motel” predileto.
Onde nos conhecemos e beijamos pela primeira vez.
O casal que divide o pão não sabe por que se ama. Nunca se fizeram essa pergunta.
Que tipo de afinidades ou admirações os atraem um ao outro? São assim e pronto.
A felicidade que exala deles é invejada por aqueles que vivem de aparências.
Os que compartilham um amor verdadeiro e incondicional prezam pela relação “na alegria e na tristeza”, pois sabem que acima de tudo sempre terão um ao outro.
Ernesto Xavier
Panorama Tricolor
@PanoramaTri