Fluminense: alegorias e adereços da campanha à reeleição (por Aloisio Senra)

Tricolores de sangue grená, é muito chato ser repetitivo. Mais ainda, ser o “estraga-prazeres” da onda nirvânica que parte da torcida parece estar curtindo. Faço parte do distinto grupo que, hoje, convencionou-se chamar de “chatos”. Pessimistas, torcedores anticlube, você escolhe a denominação que mais lhe agradar. Uma narrativa começou a ser vendida para uma parcela da torcida e que se espalha e se renova a cada entrevista coletiva, a cada “apresentação” em powerpoint. Essa narrativa é a exaltação da conquista humilde, da vitória jogando um futebol tenebroso, da campanha honrosa sem título. E de que tá tudo bem ser assim. Não obstante, essa é uma narrativa extremamente perigosa. O conformismo e o apoio incondicional servem bem a ditadores ou dirigentes com perfil autoritário, que são incapazes de reconhecer seus erros e propor melhorias. Os erros foram dos outros. Os problemas, da gestão passada, da pandemia, do escambau. “Eu ganhei, nós empatamos, eles perderam” é o lema perfeito da gestão Bittencourt. Ao contrário do encantador de trouxas, contudo, meu compromisso é apenas com a verdade.

E a verdade não é tão fácil de engolir, tampouco de se conseguir. A criação de narrativas distorce a busca objetiva pelos fatos. O malabarismo com os números desvia a atenção de uma realidade digna de pena. Mas não se enganem. Mário Bittencourt não fala para os torcedores do Fluminense. Ele fala para os torcedores do Fluham. Quem lê a minha coluna há algum tempo já entendeu meu ponto. Então, torcedor do Flu, não caia no engodo que ele tenta te vender. Quando tudo parece muito perfeitinho no discurso, já sabe, tem algo estranho no ar. Questione, busque outras fontes, converse, inteire-se e forme a sua opinião. Mas lembre-se que o gestor do Fluminense é advogado, e dos bons. A profissão dele é te convencer com palavras que ele está certo, mas não necessariamente ele mente o tempo todo. Omitir fatos e dados, colocar algumas verdades no meio, além de outras “meias-verdades”, faz parte. Ninguém disse que o jogo político era simples. Só não tínhamos vivenciado ainda um presidente que está em campanha para a próxima eleição desde que foi eleito.

Mas… voltando ao time em campo, que é o que de fato interessa, aparentemente o time do “coito interrompido” de Diniz deixou sequelas e, quando temos o time da “ejaculação precoce” de agora, ele parece a oitava maravilha do mundo. A gente vê que as críticas da galera que pede apoio irrestrito e comemoração destas vitórias não se sustentam com uma análise simples. Criticar o que tá errado quando vencemos é ter bom senso. Criticar o que tá errado quando perdemos é oportunismo. Comentar resultado é fácil. Não precisa ver os jogos, basta ficar sabendo dos placares e, conforme o resultado, elogiar ou criticar. Vejam os dois últimos, por exemplo. Só empatamos com o Bragantino porque eles foram ineficientes e nós tivemos a felicidade em duas jogadas isoladas já perto do fim do jogo. Não seria mentira nenhuma se tivessem feito quatro ou cinco gols. Contra o Santos, então, isso ficou ainda mais acentuado. O Santos dominou a maior parte do jogo, deu um mole e fizemos o gol. Os últimos quinze minutos finais foram vergonhosos. Fluminense se retrancou como time pequeno. Sorte que era o Diniz do outro lado.

O Fluminense está nas oitavas de final da Libertadores, nas oitavas de final da Copa do Brasil e em quinto lugar no Brasileirão, invicto depois de quatro rodadas. Tem rezado na cartilha da competição, empatando fora e vencendo em casa. Mas para quem assiste aos jogos de fato, é quase um milagre estarmos nessa posição privilegiada nas três competições. Até aqui, fez um bom jogo contra o River Plate no Monumental de Nuñez, o qual estava sem sua força máxima, fez também o melhor jogo da temporada contra o Bragantino na partida de ida da Copa do Brasil, que no final foi o que lhe valeu a classificação, e também atuou bem (embora de forma reativa ao extremo) contra o São Paulo na estreia do Brasileirão, em que pese Nenê ter perdido o pênalti que nos daria a vitória. Três. É muito pouco. Se formos listar as atuações sofríveis e irritantes, possivelmente passarão de dez. Dizem que é com esse antifutebol, aos trancos e barrancos, que seremos campeões de alguma coisa na temporada. Espero que, no fim de tudo, Roger prove que é o gênio e eu, o idiota. Vou comemorar da mesma maneira. Precisamos ser campeões.

Curtas:

– Vamos pegar o líder da competição com um técnico que tem dado nós táticos em um monte de gente. Estou falando do Fortaleza, que enfrentaremos no Castelão nesse domingo. Considerando o que o Fluminense (não) tem jogado, fico satisfeito com um empate. A vitória seria sensacional.

– O recado que Roger mandou para Wellington poderia ser colocado em prática. Sem Martinelli no próximo jogo da Libertadores, não quero nem imaginar a presença de Wellington contra o Cerro. Que André entre bem (como Calegari entrou no último jogo) e mostre que o que falamos há tempos é realmente o certo: a base tem mais qualidade que boa parte dos que foram contratados.

– E como desgraça pouca é bobagem, vamos na quarta-feira pegar um dos times mais nojentos do campeonato atualmente, o Atlético-GO. Eles brincaram de roda com a equipe do Corinthians recentemente, tirando-os da Copa do Brasil e ganhando também deles em Itaquera pelo Brasileiro. Também ganharam do São Paulo. Certamente veremos mais um pouco de Rogerball em Goiás e acho que vem outro empate na conta. Novamente, uma vitória seria perfeita.

– Palpites para os próximos jogos: Fortaleza 1 x 1 Fluminense; Atlético-GO 0 x 0 Fluminense.

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