Ou o espírito do Fluminense
Uma análise minimamente mais apurada demonstra que o Fluminense vive um recente desalinho que há de ser corrigido: a distância entre o time da tabela de classificação no Brasileiro e o time no gramado.
Há muitas explicações e interpretações para a situação, mas a que me parece mais razoável é simples: preparado para jogar com um time de alta marcação e menor criatividade, de uma hora para outra Enderson perdeu o encaixe com a chegada dos novos reforços. Assim sendo, será preciso algum tempo para que o onze se acerte novamente. Todavia, mesmo com atuações claudicantes, o Flu está no topo da tabela e ainda joga por um empate semana que vem pela Copa do Brasil. Mas é bom melhorar, porque ninguém fica no G4 apenas com o nome.
Parte da turma saiu preocupada com o que viu na quinta diante do modesto Paysandu. E faz todo o sentido. Sem varrer a sujeira para debaixo do tapete, apenas espero que as coisas se ajustem nas quatro linhas. Quando o goleiro é o melhor em campo e dirigente aparece mais do que os craques, sinal claro de necessidade de remontar o eterno quebra-cabeça do futebol. Claro que a vitória sempre ajuda: se o Renato não acerta aquele petardo, hoje o assunto pelas bocas seria o da crise desgovernada. Neste domingo, uma boa atuação diante do Joinville ajuda a consolidar o caminho. Que ninguém se esqueça da pedreira que foi o jogo do turno, com Vinicius desafogando o Flu no finalzinho da partida.
Meu assunto preferido de hoje é Magno Alves. Na quinta-feira no Maracanã, torcedores de N esferas do clube – que viviam a chamá-lo de “velho” e “acabado” para o futebol – tiveram o efêmero bom senso de gritar a plenos pulmões o nome do artilheiro na hora do 1 a 0. O mesmo não tinha acontecido no momento de sua entrada em campo, substituindo Fred. Houve quem tivesse que engoli-lo a seco, demonstrando inicialmente um silêncio com os primeiros passos do artilheiro na grama.
Perto dos 40 anos de idade, ninguém em sã consciência imaginava que Magno viesse resolver o problema do ataque o Fluminense – problema este que sequer existe com a simples presença de Fred em campo. Mas podia ajudar muito, dentro de suas possibilidades. Sabe fazer gols, sabe passar e compensa a perda natural de velocidade com o posicionamento em campo. Foi muito útil nesta vitória e poderá sê-lo no decorrer deste ano. É fácil ser o substituto de Fred? Não.
Na hora do gol, voou esplendidamente. E comemorou com uma vontade, uma garra, uma emoção, um sentimento que contagiou a todos. Para quem estava perto do campo, foi de arrepiar. Sua atitude não pode ser desprezada por questiúnculas dos tempos da Revista do Rádio, quando Emilinha Borba era maior do que Marlene e vice-versa.
Mais do que o gol, Magno Alves contra o Paysandu mostrou outras vertentes: a do artilheiro da tempestade, justamente ele que fez tantos gols em um momento difícil da nossa história; a do batalhador dedicado; a do sujeito que veste a camisa do Fluminense com o compromisso da entrega plena, absoluta. Ele não fez o gol da vitória, mas foi o maior premiado com o golaço de Renato no lance derradeiro da partida. Magno não merecia outro resultado que fosse o triunfo diante do bravo time paraense, mesmo em situação adversa.
Júlio César foi o melhor em campo, com defesas monumentais. Renato decidiu o jogo com um chute que desafia definições. Mas aqui destaquei Magno Alves porque ele incorporou um elemento fundamental nessa partida – o espírito do Fluminense, que os mais velhos tão bem sabem do que se trata. O veterano atacante é um herói de guerra. Não pode ser tratado com nada que não seja proveniente de respeito.
O Magnata merece tudo. Quando ele pulou feito criança depois da cabeçada vitoriosa, eu lembrei do querido e saudoso Ézio, do inesquecível Washington e do espetacular Cláudio Adão – todos estes assim como Fred, atualmente, e Romário, Coração Valente, Rafael Moura, Tuta e outros nomes, formam um grupo de artilheiros que ajudou a escrever o livro dos dias tricolores nos últimos 30 ou quase 40 anos. Não é uma história de agora, não começou outro dia.
O Fluminense não se cansa de desafiar paradigmas. Magno Alves também. A eles, sempre agradeço.
Não contem comigo para o desfile no bloco dos ingratos – este, um verdadeiro estorvo.
Panorama Tricolor
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Imagem: Júlio Cesar Guimarães/Lancepress
“Não contem comigo para o desfile no bloco dos ingratos”. Show!