Depois do fiasco, os passos de Abel (por Vitão)

Após o fiasco tático ocorrido na derrota para o Olimpia, que culminou na desclassificação na Libertadores, a torcida se perguntava quais seriam os próximos passos de Abel Braga. Diante do limitado rival paraguaio, o 5-4-1 de Abel reiterou todas as suas deficiências e a sua inutilidade. Defesa exposta, muito volante para pouco futebol, alas que não sobem e não defendem e os atacantes isolados pelo espaçamento escandaloso entre os setores. O tal 3-4-3, que pela postura vira 5-4-1 é, como muitos dizem, um esquema alienígena no sentido de que não existe qualquer propósito tático plausível para sua utilização. Três zagueiros e quatro no meio é absurdo? Não. A culpa não é do desenho tático. Mas, quando você escala esses quatro meias como faz Abel, é retirada da equipe a possibilidade de ter volume de jogo ofensivo. No meio, são dois volantes com um espaço enorme para cobrir e ninguém para evoluir. Os alas ficam muito abertos para fazerem o famoso “secretário de lateral” ao perderem a bola e acabam ocupando o mesmo espaço dos pontas. Assim, o corredor central continua desabitado.

Antes do jogo contra o Botafogo, Abel indicou estar na dúvida entre usar o 3-4-3 ou o 4-1-4-1. Caso optasse novamente pelo esquema fracassado da eliminação de quarta, Manoel entraria como terceiro zagueiro na vaga de Felipe Melo, que se recupera de uma pancada. Na frente, Árias ganharia a vaga de Luiz Henrique, que também sentiu dores. Caso optasse pelo 4-1-4-1, Wellington entraria na vaga de Felipe Melo para fazer o primeiro volante. A trinca de meio provavelmente seria completada com André e Martinelli. As duas opções eram ruins pelo simples fato de que as duas formatações não possuíam talento para o meio de campo. Se o time já está descompactado e espaçado nas fases do jogo por incompetência do péssimo trabalho do treinador, que pelo menos fossem escalados os melhores tecnicamente para que o Fluminense conseguisse jogar. Porém, para o desespero do torcedor, mais uma vez ele optou pelo 5-4-1 que não tem meio campo. Mesmo diante de um rival fragilizado que conta com um técnico interino, essa foi a escalação escolhida por Abel Braga:

Novamente um show de horrores. Mais uma vez, Abel contou com a sorte de não tomar um ou dois gols no primeiro tempo. O Fluminense simplesmente abdicou de jogar na etapa inicial, como fizera nos noventa minutos lamentáveis contra o Olimpia no Paraguai. André e Martinelli estavam alinhados e isolados, recebendo de costas e sem ter para quem tocar. Os alas se confundiam com os pontas enquanto o meio parecia uma clareira, afinal, não havia ninguém para ao menos iniciar a distribuição primária da bola na transição ofensiva. O pior de tudo é que o treinador Tricolor parecia satisfeito com o futebol extremamente pobre que seu time praticava, tanto que não fez nenhuma alteração para o início da etapa derradeira. E assim foram mais vinte e dois minutos de um anti jogo sonolento e inexplicável. De um lado, o Botafogo fragilizado tentando na correria ao menos competir. Do outro, o Fluminense cheio de meias bons de bola no banco com zagueiros sem técnica tentando criar algo na base do bicão.

Foi preciso muito tempo para Abel enxergar o óbvio e fazer o básico. Após setenta minutos sem jogar futebol, somente aos vinte e dois da etapa final, entraram Yago, Nonato e Ganso nas vagas de Calegari, Martinelli e David Braz. Poucos minutos depois, Matheus Martins entrou na vaga de Willian Bigode. Estava desfeito o 5-4-1 ou, como bem diz meu amigo Edgar, o 5-2-0-3 do Abelão. O meio ficou com André de primeiro volante, Nonato de segundo e Ganso de terceiro. No ataque, Martins ficou mais agudo pela esquerda e Árias partiu para uma conexão pela direita com Ganso e Yago, que entrou como lateral. Ganso foi fundamental não só pela técnica e pelos passes. Ele desacelerou a correria que o adversário queria impor, ditando o ritmo que o Flu necessitava para controlar a partida com técnica e no campo de ataque. Nonato também entrou muito bem na vaga de Martinelli que saiu exausto de tanto correr errado e Yago preencheu a lateral direita até então desabitada por um Calegari sem qualquer inspiração. Abaixo o 4-1-4-1 escalado aos 25’ da etapa final.

No momento que desmontou o fatídico esquema com três zagueiros e colocou quem sabe tratar a bola, Abel proporcionou ao Flu a possibilidade de jogar. Rapidamente a equipe criou uma chance pela esquerda e logo depois saiu o gol da vitória. O jogo foi controlado com imposição técnica e não mais com zagueiros, volantes e excesso de covardia. Afastado da área e marcado mais de perto, o Botafogo perdeu ritmo e se distanciou do gol de Marcos Felipe, que mais uma vez salvou o Flu. A cada jogo que passa, aumenta o desafio de analisar taticamente um time que não tem propósito tático e que, por esse motivo, não apresenta qualquer evolução no quesito coletivo. Como diz um ilustre Tricolor, filho de um Conde, o Fluminense vive uma esquizofrenia orquestrada pela diretoria e replicada pelo nosso treinador. Mesmo depois de mais uma atuação com desempenho pífio por setenta minutos e com as alterações surtindo efeitos imediatos, Abel insiste em negar a realidade. Ainda teve a coragem de fazer na coletiva declarações como “o time titular é mais seguro” e “se eu tivesse na arquibancada estaria feliz”. Uma coisa eu posso te afirmar, caro Abel: a soberba, assim como a insanidade, precede a ruína. Salve o Tricolor!

1 Comments

Comments are closed.