Publicado originalmente em 29 de julho de 2013
A coisa está ruim. Bem ruim.
Em poucas rodadas o Fluminense despencou do G4 para a zona do rebaixamento, tendo alimentado hoje os humorísticos esportivos do Brasil.
Ficou ruim demais.
Mas nada que o Fluminense já não tenha superado n + (k – 1) vezes.
Para os desavisados, Abel era apenas o grandão que pegou o time na rabeira de 2011 e, “com sorte”, colocou o time na Libertadores. “Mais sorte ainda”, um estadual, o brasileiro de 2012, vitórias sensacionais, tropeços, humanidade. Acontece que Abel é muito mais do que isso.
Muito mais.
Quantos garotos apaixonados por um time de futebol conseguem um dia defendê-lo dentro de campo e na beira, como jogador e treinador? Poucos. Quase ninguém.
Abel era tão louco pelo Fluminense que o eterno presidente Horta o negociou com o Vasco para decolar sua carreira: é que zagueirão, outrora centroavante, chorava demais nas derrotas do Flu que o presidente se preocupava com aquilo – jogando noutro time, sem a paixão de criança, talvez fosse melhor. E foi. Abelão se firmou, foi da seleção brasileira e jogou na França.
Depois, virou treinador e penou: bateu na trave com títulos brasileiros, deu a volta no mundo e, vinte anos depois de sair dos gramados, voltou para o velho Flu de seu coração gigante. Um campeonato estadual inesquecível em 2005, a dor na final da Copa do Brasil, o fim de ano inesperado com a trapalhada do Sr. Horcades – perdemos todos os jogos e a vaga na Libertadores mais fácil de todos os tempos. Hora de sair, mas foi doído. Curiosamente, a saída proporcionou ao Abelão o auge de sua vida esportiva: campeão da Libertadores e mundial pelo Inter. Depois, petrodólares a valer.
Tudo o que é honesto um dia brota. Seis anos e meio depois, o Abelão surge em meio à tempestade deixada pelo Sr. Muricy Ramalho. Ganhava, perdia, ganhava, perdia, disputamos o brasileiro até a penúltima rodada, veio a carne-de-pescoço vascaína e o sonho acabou. Não, não. Ele foi adiado. Pouco tempo depois, lá estava o Flu dando baile no Vasco, no Botafogo, vencendo o Boca Juniors na Bombonera (apenas quatro times brasileiros fizeram isso na história), ganhando o Rio. A Libertadores ficou pelo caminho, mas o tão sonhado tetra do Brasil veio numa campanha fantástica que dificilmente será repetida em termos de números. E voltamos à Libertadores.
Então 2013 prometia. Mas ficou pelo caminho. Os sonhos não deram em nada, o que era namoro e depois casamento ficou com cara de divórcio. E, como tudo na vida, chega uma hora em que o ciclo se encerra. Acabou. Não deu. Hora de mudar. Na verdade, hora de adeus. E que adeus! Aos 61 anos, já milionário e realizado, Abel pode ter passado pelo Fluminense pela última vez.
Seria fácil utilizar estas linhas para criticar, xingar, ridicularizar, tudo bem no estilo imprensa mediana. Esse papel não me cabe. A reta não se explica por apenas um ponto.
O futebol tem sua dinâmica, exige rotatividade, é assim que as coisas acontecem. Depois de cinco derrotas, poucos seguram as pontas. Um dia ia acabar. Tudo muda no mundo, bem me disse uma linda mulher outro dia.
Mas o que que fica não é o fim e sim toda a história – e se ela fosse oca, Abel não seria o terceiro treinador com mais partidas à frente do Fluminense em 111 anos.
O que fica pra sempre é o Abelão que chorava no vestiário quando era garoto porque seu time de coração não conseguia vencer uma partida. O Abelão campeoníssimo em 2005 e 2012. O Abelão que mais parece um escudo grandão do Fluminense num treino ou jogo – e sempre será.
Vem aí um novo professor.
Talvez nos recuperemos logo, ganhemos jogos e grandes partidas. Nossa torcida vai cantar e vibrar. O caminho é sempre assim.
Agora, venha quem vier, ninguém ganha da imagem tricolor do Abel. Pode ser mais vitorioso, pode ser mais talentoso – é fato -, pode ser o que for.
É que carisma não se compra.
Amor, nem pensar.
Abelão, até hoje tenho você como becão numa caixa de botões que minha linda mãe me deu. Isso faz 35 anos e continua hoje.
Obrigado por tudo.
Obrigado por ser humano e falível, longe da pachorra dos tecnocratas ocos, dos sabichões e dos perfeitinhos mofados do futebol.
Obrigado por ter honrado as cores do Fluminense sempre, mesmo quando errou. A dignidade precisa estar sempre acima da frieza dos resultados.
Obrigado por ter feito parte da minha infância, juventude e tudo o que aconteceu nesta passagem.
Obrigado.
Abraço do fã. A gente se vê.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: Marcus Vinicius Caldeira
Infelizmente chegou a hora do Abel sair. Mas, temos que reconhecer a sua dignidade de caráter, honestidade e desejo de acertar. As coisas já não vinham bem desde o final do ano passado, mas a festa do tetra nos cegou e a diretoria apostou errado. Abel continuou fiel aos seus princípios e insistiu num esquema que não dava mais certo. Demorou a cair a ficha e ele falhou.
Mas, e nós, não falhamos também, não esgotamos as nossas possibilidades vez por outra? Mais sublime do que festejar um título é compreender, perdoar e, sobretudo, ter gratidão.
Desejo o melhor para o Abel, que não vai ficar desempregado por nem um dia, pois tem propostas de todos os lados. Nós ficamos órfãos e precisamos tocar pra frente, encontrar nosso equilíbrio e lutar para o fantasma do rebaixamento não bater de novo na nossa porta. Um pena, uma grande lástima.
Pô, respeito demais o Abel, pessoa fina, educada, ética, autêntica.
Mas acho que, tal qual o Horta teve que cortar na própria carne nos anos 70, nossa diretoria teve que tomar essa atitude amarga.
Abel é “humano, demasiado humano” e muitos (inclusive os jogadores folgados) confundem isso com paternalismo. A lição que ele deu há uns 2 meses no episódio Michael só atesta a grandeza de seus valores morais.
Infelizmente, futebol não é uma disputa jogada apenas nos terrenos da justiça, da honra mas sim da dura realidade dos resultados onde eficiência/eficácia são determinantes.
Até por uma questão de preservação da imagem desse ídolo acho que a diretoria tem a obrigação de fazer com que sua saída seja feita de uma forma digna por tudo que ele representa para a história das Laranjeiras. Contudo, diante da falta de êxito desportivo que se arrasta desde o início deste ano, não havia outra medida a ser tomada de imediato.
A despeito da raiva pelos péssimos resultados, mal planejamento e escalações/substituições equivocadas, eu concordo com vc.
Se tem um treinador que trabalhou com dedicação e paixão pelo Fluzão este foi o Abel.
Ainda fico me perguntando, com a vinda de um novo técnico (Profexô ?) as contratações também virão?
Não adianta trocar o técnico e continuar com Deco praticando um futebol de solteiro x casados, Edinho na mesma toada do companheiro luso-brasileiro e com uma zaga medíocre.
Talvez tenha faltado ao Abel, por parte da diretoria a blindagem necessária para barrar alguns “medalhões”.
Lembro que em 2005 havia um racha entre os jogadores da unimed e os mulekes de xérem.
Depois de uma derrota para o Campinense (seu não me engano), Abel barrou Preto Casagrande, e pôs Arouca e Diego Souza (recém saídos da base) como titulares.
Peito para uma reformulação creio que Abel tem ou tinha, mas faltou, ao meu ver, um apoio semelhante ao que o Tenório deu ao Cuca em 2009.
No mais… Obrigado Abelão por tudo !!!
ST