O assunto já deu no saco mas, como continua a repercutir, ofereço minha humilde opinião a respeito.
O torcedor é soberano e pronto. Basta que não cometa crimes.
Há mais de 90 anos, as arquibancadas brasileiras têm a função de alegria do povo e catarse popular. Nelas, o torcedor riu, chorou, comemorou, sofreu e viveu. Sempre foi assim, dos pequenos aos grandes clubes.
Dá vontade de rir de quem acha que a torcida deve ser uma claque sem personalidade, abanando o rabo para eventuais sandices de jogadores, treinadores e dirigentes. Talvez os mais jovens não saibam, mas quem tem mais de 40 anos sabe o que era o Maracanã com 120, 140 mil pessoas e até mais. É patético, é risível e ridículo. Certamente houve evolução, principalmente em relação ao machismo, mas basta perguntar a qualquer ator da época se havia ou não pressão da própria torcida.
Para os que desconhecem a história contemporânea do Fluminense, é importante lembrar que, em pelo menos três conquistas, a pressão e cobrança da torcida – com muitos protestos e vaias – foi decisiva para a reação tricolor rumo aos títulos, nas temporadas de 1980, 1983 e 1995.
Nos últimos tempos, em nome de uma pretensa união para a conquista de títulos, alguns tricolores começaram a se achar mais importantes do que o Fluminense e sua torcida coletivamente, ansiando pela troca desta por uma plateia conformada em qualquer situação. É um ideário também patético, mas não menos do que a ridícula mitificação de jogadores que não construíram nada pelo clube.
Domingo passado, tivemos mais um exemplo grotesco. Com seu tradicional desequilíbrio psicológico, Felipe Melo só faltou pular no setor Oeste para agredir um torcedor que o xingava, por ter caído sentado pela décima vez na temporada e quase dado um gol para o adversário, na ocasião salvo por Nino. Contou com a assessoria tresloucada de Manoel. Depois de ter ido com a bunda à grama, o jogador de cavanhaque estilo caprino perdeu os latidos de sua torcida pessoal na arquibancada, um recado claro.
Não fosse o Fluminense com sua estranha generosidade financeira e seu planejamento extraterrestre, Felipe Melo já seria de fato o que é de direito: um ex-jogador. Dispensado pelo Palmeiras antes do Mundial, meses depois chegou a ser motivo de piada em rede nacional ao ser mencionado indiretamente por Abel Ferreira, treinador alviverde, no programa de entrevistas Roda Viva. Na cabeça de Abel não faz sentido queimar uma jovem promessa para pagar um salário estratosférico a um veterano que sequer foi craque.
Aos tricolores que não aceitam críticas porque o Fluminense está bem, uma simples lembrança: o time planejado para a temporada tinha Cris Silva, Felipe Melo, Wellington, Fred e Willian Bigode como titulares. Até o treinador era outro.
Não tinha Cano, nem Arias, nem Luiz Henrique (que faz falta), nem Ganso. Só…
O celebrado momento atual não pode ser creditado a nenhum planejamento estratégico inicial, mas ao destino: veio o contestado Fernando Diniz, os resultados apareceram e, aos poucos, as peças problemáticas perderam a titularidade.
O badalado time da gestão foi humilhado na pré-Libertadores e na Sul-americana. O time alternativo arrancou para o título carioca e explica as boas campanhas no Brasileirão e na Copa do Brasil.
Contudo, independentemente disso, Felipe Melo não atrapalha o Fluminense apenas por sua agressividade estapafúrdia e sem limites, até que um dia sua arrogância encontre um murro na cara por aí. Acontece que sua contratação empena o Fluminense. Lento e sem capacidade de recuperação, precisa ser sempre “socorrido” em campo, coberto por André e eventuais companheiros enquanto Manoel e Nino se esfalfam para suprir a avenida Caio Paulista. Enquanto a bola está entrando, os menos exigentes toleram ou ignoram tudo. O problema é se acontecer algum acidente pela estrada. Mais: para Felipe Melo jogar, o Fluminense entortou André, barrou Martinelli, encostou Yago Felipe e deu um chega pra lá em Wallace, isso sem falar em Calegari. Alguém sabe dizer qual craque tricolor já proporcionou situação semelhante para ser escalado? Nenhum, quanto mais um jogador medíocre.
O torcedor é soberano. Bem lembrou André Horta, nosso companheiro de equipe com larga experiência profissional em diversos clubes e na CBF: “Jogador, treinador e dirigente não devem bater boca nem desrespeitar a torcida. Mostrem seu trabalho e só”. Em condições normais, Felipe Melo e Manoel seriam no mínimo advertidos. Acontece que há muito tempo o Fluminense não tem uma gestão normal.
Particularmente, este escritor não é adepto de vaias ou xingamentos mas, com meio século de arquibancadas regulares, não reconhece autoridade em ninguém que queira determinar como o torcedor deve torcer. Cada um responde por seus atos. Isso não o impede de torcer pelo fim do ciclo de Felipe Melo no Fluminense, por um simples motivo: escutar os latidos na arquibancada é uma espécie de terceira divisão, coisa que o tricolor não merece, definitivamente.