Serão apenas nove meses no comando técnico, um curto tempo para que Levir Culpi dê ao Fluminense um futebol de time grande. Há anos não é assim. Há anos é o “anti-jogo”, proposta de contra-ataque de Muricy e Abel que predomina.
Inegavelmente, a conquista dos Brasileiros, de 2010 e de 2012, foi com base na atuação individual de jogadores de ponta, bancados pela Unimed e não pelo modelo tático, que se resume em, como dizem os portugueses, “estacionar um ônibus” na grande área de defesa.
Abro um parêntese só para lembrar que Roberto Di Matteo foi campeão europeu com o Chelsea, utilizando essa proposta de jogo, típica do futebol italiano, o mesmo futebol idolatrado e copiado pela maioria dos técnicos brasileiros. Mesmo campeão, Di Matteo continua sendo um treinador mediano para o mercado.
Jurgen Klopp, ao contrário, foi vice-campeão com um Borussia destemido e subiu de patamar. Por quê? Futebol é resultado? Todo o esporte é, mas para alcançar os resultados, é preciso atuar bem, porque somente assim você os terá a longo prazo.
Se o time joga um futebol previsível, chato, retranqueiro, como o Fluminense, que posiciona oito ou nove jogadores no campo defensivo, esse time desfalece. Além disso, deixa de ser atrativo, perde mercado, audiência, até mesmo do seu próprio torcedor que não aguenta a mesmice. E, inevitavelmente, num curto período, não conquistará mais os resultados, se positivos, que enganaram no início (vide Enderson Moreira).
O jogo receoso de anos, de técnicos receosos, refletia tão somente o perfil também receoso da diretoria. O perfil defendido por muitos, inclusive pelo Fred, caducou como o time. Nos últimos meses vencemos menos de um terço dos jogos. Uma calamidade. Graças a isso, o letárgico Peter Siemsen foi obrigado a agir.
Diretoria trocada, com um presidente a nove meses do fim de seu mandato e logo que técnico estava disponível no mercado? Levir Culpi. Um dos últimos dos moicanos, um dos poucos que resistiu ao pragmatismo defensivista que a sua geração abraçou e implementou no futebol brasileiro.
Além de Levir, só Cuca e Tite (repaginado), talvez Dorival, dão aos times brasileiros a cara de futebol brasileiro, jogado no lixo para imitar a correria dos ingleses e o defensivismo dos italianos. O novo treinador terá poucas semanas para dar ao Fluminense o que ele tem, mas que o time não tem: ofensividade.
A tarefa é árdua. Os jogadores parecem estar catatônicos com o fracasso do método que conhecem, a retranca. Anestesiados, eles terão que receber com entusiasmo uma injeção de adrenalina para superar o medo de jogar futebol, de agredir o adversário, de se impor em campo.
Não mais um técnico só preocupado em fechar espaços defensivos, pois também levamos gols à rodo jogando assim (não me deixem esquecer disso, hein?!). Mas, sobretudo, um técnico que se preocupe com a criação e em atacar. Ganhar de 4×3 é melhor que empatar de 0x0, amigo. E quando brinca sobre “preparem os remedinhos”, é isso que Levir quer dizer.
Num elenco em que o melhor está justamente na criação, com Cícero, Diego Souza e Gustavo Scarpa, que conta com dois finalizadores acima da média nacional, Fred e Magno Alves, e tem jogadores de velocidade como Osvaldo e Felipe Amorim (não citei Marcos Jr de propósito), os cinco escolhidos por Levir podem se completar.
Cinco? Claro! Espero um time grande, como falei. Digo, espero um time equilibrado. Isto significa que quero cinco jogadores defensivos e cinco ofensivos, que haja pressão sobre a saída de bola do adversário, ainda no campo de ataque. Isso desgasta bem menos fisicamente e induz o time contrário ao erro.
Levir Culpi tem características e toda a capacidade para montar um time que joga um futebol de qualidade. Ele tem um bom elenco e uma torcida ávida por boas atuações, que já descobriu que o joguinho “por uma bola” tem prazo de validade e não condiz com o tamanho do Fluminense.
Levir também tem carisma e seriedade, não é de panelas e se algo estiver errado não pensará duas vezes: colocará a boca no trombone ou no microfone. É o valor da independência que ele conquistou em sua carreira como técnico aliada à certeza do Levir, ex-jogador, de saber que só um comando assim ganha o respeito e o comprometimento de um elenco.
Comando de respeito é algo que mais tem faltado no Fluminense nos últimos anos, coisa que o Levir tem e tentará nos dar. Por tudo isso, se a torcida abraçar o novo treinador, terá um conjunto de fatores que poderá reconstruir o time, o alçando ao topo com bases firmes. Quanto mais cedo ele conseguir colar os cacos de um time esfacelado, melhor.
Que Levir dê liga. Se der, certamente, fará o Fluminense disputar títulos, cravando seu nome no coração da torcida. Os primeiros remédios a serem separados deverão ter uma pancada de neurotransmissores de alegria e esperança, para que voltemos a ter prazer em acompanhar nosso time.
TOQUES RÁPIDOS
– Por onde anda Danielzinho? Titularíssimo num momento. Reserva, noutro. E, ultimamente, nem servindo para entrar de vez em quando. Mistério…
– Não sei qual time Levir conseguirá montar, mas suspeito que, pelo seu estilo, veremos mais Osvaldo e Felipe Amorim no time.
– Boa sorte, Levir! Vamos ser feliz!
Abraços,
Panorama Tricolor
@Panoramatri @CrysBrunoFlu
Imagem: CB / PRA
Arrasou, Dra. Crys!
Nos estranhos dias de hoje, falar de ofensividade causa arrepios em profissionais do futebol brasileiro e na própria torcida.
Está certo o Levir em recomendar os remédios, se o time vai agora jogar em função de fazer gols. Desacostumamos de sentir o melhor do esporte. Rivotril, il, il, il!!! 😛