A sorte está lançada, Fluminense (por Paulo-Roberto Andel)

Lá vem mais uma decisão. Um jogo decisivo.

Não, não é o maior da história do Fluminense, façam-me o favor. É um dos grandes jogos deste ano. É importante.

São quatro da manhã e tudo é Fluminense. No Rio e no Brasil há Fluminense por todas as partes. Somos milhões de pessoas espalhadas pelo Brasil em prédios de luxo, bairros nobres, casas humildes, barracos, favelas, conjuntos habitacionais, calçadas tristes, cortiços e por aí vai.

Assim sendo, haverá um turbilhão de Fluminense dentro do Maracanã e outro fora dele, espalhado pelo continente Brasil.

São quatro da manhã e um garoto tricolor já está espremido num trem rumo à Central do Brasil, levando sua mochila humilde, sua marmita e o sonho da vitória do seu time.

Vinte e quatro horas atrás, o Flavão pegou o carro e se mandou de São Paulo para cá. Estará firme e forte na Sul. Juntos, já vimos coisas de chorar e arrepiar.

Na pequena parte que me cabe, pequeníssima, eu acabei de tomar um gole forte de Mineirinho bem gelado e imediatamente fui remetido a 1981, quando visitava minha mãe num hospital em Niterói e meu pai me pagava um refrigerante na padaria da esquina. A Alameda São Boaventura era cheia de cartazes de shows do cantor Marcelo. Naquele tempo não vendia Mineirinho no Rio. Eu sonhava com a alta da minha mãe e me distraía com Afonsinho, Deley e Mário. Os garotos de agora têm Ganso, Arias e Cano.

O Luizinho, que voltou a gostar de tudo, estava no clube ontem. Ir às Laranjeiras traz de volta a música de Tom e Chico: é desconcertante rever o grande amor.

São quatro horas da manhã e tudo é Fluminense. Precisamos acabar com essa história de não ter a Libertadores. Nesta quinta há um grande passo em jogo.

A linda torcedora que faz sucesso no Instagram está completamente transtornada pensando no Fluminense.

Todos estamos. O garotinho que vende balas nas ruas do Centro, o senhor aposentado que fica sentado num bar perto da Nova Petrobras, o diretor executivo duma grande corporação local, o jornaleiro esperto da Rio Branco.

São quatro horas e o Fluminense precisa vencer o Olimpia de goleada. Precisamos estar preparados para tudo, e tudo é tudo mesmo.

Esse dia vai custar a passar. Enquanto isso, vamos suspender tudo por hoje: é proibido ficar doente, morrer, cometer suicídio ou coisa que o valha. Tudo é Fluminense. Só o amor pelo Tricolor constrói.

E tome mais Chico: minha cabeça rolando no Maracanã. O Vinício vai estar na Tupi. O Mazella estará conosco. O Jácome vai berrar com tudo na rádio.

Percebam que, diante de toda essa multidão tricolor, a individualidade é inútil e desprezível. Não existe nada maior do que o Fluminense nesta quinta-feira, nada, nem jogador, nem dirigente, nem funcionário patife, nada, absolutamente nada. Juntos, somos um escudão e isso é o mais importante de tudo.

Aproveito para falar que conto muito com João Carlos, Seu Pinheiro, meu pai, Assis, Washington, Jair Marinho, Altair, Heleno e Alberto Lazzaroni, todos eles aqui do lado porque os nossos mortos estão vivos demais.

Vai dar tudo certo. Tem que dar.

2 Comments

  1. Emocionante demais, li com lágrimas nos olhos desde a primeira linha. Seremos!

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