O sinal amarelo acendeu de forma intensa nas Laranjeiras. Uma sequência de maus resultados e de más apresentações. Desde a derrota para o Vasco, a equipe não mais se acertou em campo. Coincidentemente, desde a chegada de Ronaldinho Gaúcho.
É claro que isso satisfaz à boa parte da imprensa e de uma série de “antis”, que repetem a cantilena do “eu te disse”, sempre no mau agouro pelo sucesso de craques no tricolor. O time que entrou no campeonato sob a mira do descenso, apontado pela mídia como fraco não pode, impunemente, ficar brigando na parte de cima da tabela.
Entretanto, de fato, nossas últimas apresentações não justificavam nossa posição na tabela. Talvez porque tenhamos imaginado alcançar bem mais do que uma campanha digna, que nos fora prometida ao início do campeonato. De repente, estávamos lá em cima, vencendo jogos, guerreando por cada bola, suando os litros de dedicação.
O bom momento trouxe também a fragilidade do elenco que perdeu jogadores importantes, como Wagner e Kennedy – negociados – e Vinícius – por contusão, e que já vinha sendo reforçado com nomes conhecidos e carreiras longas. Pierre, Magno Alves e o próprio Ronaldinho. Enderson manteve o time no curso e nos fez acreditar que o céu era o limite.
O time jogava bem e, quando não jogava, doava-se como nunca, arrancando vitórias importantes para o cômputo geral. A cada partida vinha um desfalque, uma formação diferente e, novamente, a superação entrava em campo para conquistar vitórias invariavelmente sofridas. O time vinha bem não “apesar de ser limitado”, mas exatamente porque sabia que era limitado.
E é aí que a solução vira o problema. O time, desfalcado ou não, sente-se mais seguro e tranquilo quando vê Ronaldinho em campo. O vulto do craque. A imagem de alguém que vai resolver o jogo para nós em algum momento, em alguma bola parada. O toque do gênio que redimirá quaisquer noventa minutos mequetrefes.
Veja que, em momento algum, esse comportamento é aprovado ou estimulado por R10. Gaúcho está correndo, lutando, dando carrinho, abrindo espaços… Mas o time parece que se esqueceu de que deve continuar sendo guerreiro. Que deve atacar, tentar o gol, pressionar a saída de bola, marcar e sufocar seus adversários.
Parece que R10 aliviou os Guerreiros, tirou-lhes um pouco da pressão. Já não era mais necessário tanto do suor em cada partida. Não havia necessidade de finais ofegantes. Enquanto desacelera, o time sofre com o quebra-cabeça que tentar remontar Enderson, que sofre para achar o lugar mais confortável para Ronaldinho poder ser o messias que se espera.
É hora de sairmos do olimpo, voltarmos a colocar nossos pés no barro. R10 não nos salvará. Ele é mais um dos guerreiros que compõe esta equipe. Precisamos de mais ousadia, de mais vontade, de lembrar que não há nada ganho com nomes e nada se resolverá por sorrisos.
O meio da tabela já nos coloca com meta cumprida. Calcemos as sandálias da humildade e trabalhemos como operários, como coletivo, como comuns. Sem estrela para decidir. E é exatamente isso que fará as estrelas voltarem a brilhar. Porque o telefone não toca quando se está ao lado no aguardo da ligação. A torrada não pula sob a marcação cerrada do olhar.
Não esperemos R10 decidir. Façamos como ele tem feito e como sempre nós fizemos: lutar e acreditar. Sofrer para vencer. Quando o mundo não estiver mais com os holofotes em nós, a genialidade saberá sobressair. Afinal, a sorte ajuda a quem busca criar oportunidades. Será diferente no domingo, com aqueles quinze mil de sempre. Podem apostar.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: cleofas.com.br
Olhando pra cima da tabela e avaliando nossos adversários, ainda acredito no título, logicamente, melhorando em alguns pontos, principalmente na posição do Ronaldinho, destacado por você. Agora, precisamos dos nossos quinze mil de sempre e mais uns 15 mil de vez enquando. Não é clichê, juntos somos imbatíveis.
S.T
“o meio da tabela já nos coloca com meta cumprida”. Não entendi. Com essa folha salarial, o Fluminense tem é que disputar o título e não pretender ficar no meio da tabela. A garra diminuiu e isso influiu. Se voltarmos a brigar teremos chance de Libertadores, pois o título já dou como perdido. ST
Fernando,
No início da temporada, o medo e a incerteza pairavam sobre o Flu. As más línguas diziam de nossa falência e que brigaríamos para não cair.
Depois do carioca e com o elenco que tínhamos, as expectativas realistas nos projetavam pelo meio da tabela. Depois que o campeonato começou é que começamos a brigar lá em cima. Mas, de jeito algum, fomos favoritos no início do campeonato.
Por isso, a meta inicial era uma “campanha digna”, o que é pouco, evidentemente.
ST.
Excelente análise. O problema está justamente aí. Mas não podemos ignorar que ele também foi causado ou, melhor, reforçado pelo comportamento da direção (ou falta de) do clube. Muita conversa sobre venda de jogadores, retorno de marketing, pseudo planejamento, etc. Enfim, muito ôba-ôba e pouco comprometimento com os resultados do time.