Há quinze anos da ‘Farra dos ingressos’, episódio muito infeliz da história Tricolor, duplamente, pois além do desvio e impressões aos milhares de ingressos falsos, feito pela própria empresa que emitia os originais, o Fluminense não conseguiu ser campeão da Libertadores para um Maracanã abarrotado de gente, certamente mais de cento e vinte mil torcedores dentro do estádio, sob névoa de pó de arroz e muita apreensão.
O episódio que ficou na memória de quem tentou comprar ingresso, conseguindo ou não depois, figurará entre os mais lamentáveis e decepcionantes da história do Fluminense. Deveria ser um dia mágico, de glória, mas para muitos foi um inferno.
Particularmente, cheguei de madrugada na bilheteria e aguardei a abertura das vendas. Mesmo sendo sócio, não queria perder a chance de comprar, e fui com a missão de comprar de outros amigos que moravam em São Paulo-SP, assim como eu. Que nada: minutos após a abertura das vendas, todos os ingressos foram anunciados como esgotados.
Isso faltando duas semanas para a partida, pois antes deveríamos visitar a LDU no Casa Blanca, no Equador. Partida esta que assisti no bar Arco-Íris, icônico reduto boêmio na Lapa. Perdemos por quatro a dois, um jogo trágico, mas que em nada abalou a confiança de ir ver o Flu, meu grande amor, desde as arquibancadas do Maracanã.
A saga pelo ingresso foi longa, árdua e cansativa. Por fim, através de um amigo integrante à época de uma famosa Torcida Organizada, consegui adquirir os ingressos, para mim e meus amigos que haviam me confiado a encomenda. Era o início e fim dos problemas, isso porque começaram as notícias de que parte desses ingressos poderiam ser falsos, chegando um jornal de grande circulação a publicar, a pedido da empresa que emitiu os bilhetes, a foto do ‘original’ e do que supostamente seria o falso. Pasmem, os dois ou mais modelos de ingresso foram emitidos pela mesma empresa, no que até Paulo Guedes, atual Ministro da Economia, desse desgoverno, ficaria espantado, tamanha a sagacidade de colocar granadas nos bolsos aliados.
Resumindo este episódio, os tais ingressos que poderiam ser falsos, foram apreendidos aos montes com cambistas aliados, a fim de fazer um mise-en-scène para as câmeras e passar nos telejornais a fim de acalmar a opinião pública. Tudo balela, pois sabíamos todos, que do próprio clube saiu a facilitação daquele comércio paralelo, assim como de tempos idos, dos ouros e pratas que saíram das Américas rumo ao velho e explorador continente europeu.
Hoje, com a gestão que se auto propaga a mais transparente de todas, causando inveja a qualquer vidraceiro e ainda se autoproclama a que cultiva os melhores hábitos de austeridade e compliance, vem conseguindo ser incapaz de atender o mínimo desejado a quem se torna sócio, que é ter acesso ao seu ingresso, sem que para isso precise ser feito de trouxa. No primeiro jogo de grande apelo, pois será a despedida oficial dos gramados de Fred, ídolo da geração Unimed Tricolor, inúmeros problemas vivenciados, sofridos e relatados pela torcida, para a simples compra de seus ingressos no sistema que já vem funcionando normalmente.
As escusas do clube nesse caso, são de que a plataforma que atende ao torcedor para vendas não suportou a quantidade de acessos simultâneos e travou. Estranha que recentemente houve migração de servidor, alegado pelo clube, que este novo suportaria o que o Fluminense necessitaria. Cabe lembrar também que recentemente o Fluminense lançou uma atualização em seus planos de sócios, realizando inclusive a migração automática de seus associados ao novo plano paralelo, fazendo lembrar a mudança de nome do Minha Casa Minha Vida para Casa Verde e Amarela e também do Bolsa Família (esse já era um renome) para Auxílio Brasil. Coisas da política politiqueira à brasileira.
Curiosamente, mesmo com a página de compras de ingressos, em fila preferencial de sócios com plano prioritário nesse tipo de caso, pipocaram aqui, ali, acolá e mais adiante, muitos revendedores de ingresso, cotando valores surreais, já prevendo a escassez desse recurso inusitado, que é o ingresso para ver o Fred dar tchau. Lembrei até de Brigitte Bardot, acenando com a mão em um filme muito antigo.
Acabo de pesquisar e ver que o Fluminense anuncia que passou dos quarenta e sete mil associados. Seria para justificar a compra de ingressos para este jogo, ou será mesmo um resultado brilhante do Marketing de Bittencourt? Cheguei até a lembrar da constante homônima: quem tem seis, tem cinco, quem tem cinco tem quatro, quem tem quatro não têm nenhum. Brilhante.
Desejo sinceramente que nenhum sócio-torcedor, aludido com a promessa de ter privilégio sobre os não sócios na compra de ingressos, deixe de conseguir retirar seu bilhete. Mesmo esse que vos escreve segue sendo contra essas artimanhas de gestão. E que seja apenas desconfiança que haverá nova ‘farra’, pois seria desastroso saber que, esse movimento também nos faria lembrar de outra: a “Farra dos guardanapos”, que inclusive tem livro de mesmo nome, contando os bastidores do chamado: último baile da Era Cabral, em que o então governador (hoje preso) do RJ, bancou festa em local requintado para os seus em um dos principais restaurantes da Europa, em que havia até um mágico para entreter o grupo, incluindo os comensais.
Coincidências? Eu acho que não.