A primeira vez a gente nunca esquece (por Aloisio Senra)

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Tricolores de sangue grená, hoje é dia 15 de dezembro. Esta data tem me trazido muita saudade desde 2010, ano em que fomos campeões e no qual, infelizmente, meu pai faleceu, uma semana após seu aniversário, que seria comemorado hoje. Seu nome era também Aloisio, também com sobrenome Senra, mas diferenciando-se de mim em seu nome do meio, que era Doria, enquanto herdei o Soares de minha mãe. Meu pai faria hoje 62 anos.

Cresci numa família dominada por tricolores, e logo cedo tive uma excelente influência. Porém, meu pai disputava a minha atenção com meu avô, que queria me ver vascaíno. Chegou a me dar uma camisa cruzmaltina de pano, que o tempo se encarregou de transportar ao chão. As primeiras lembranças que tenho são de jogos de futebol reprisados pela TVE, jogos do Fluminense, é claro. Conheci o Casal 20 ainda muito pequeno, mas lembro vagamente de várias dessas partidas que assistia ao lado dele. O programa “Stadium” era atração certa no domingo.

Porém, meu pai nunca foi muito de ir a estádios. Ele tinha receio das brigas de torcida e, como os clássicos eram mais frequentes àquela época, as brigas também permaneciam na memória com mais evidência. Tive que perturbá-lo bastante ao longo dos anos para que ele me levasse, pedido que foi atendido quando eu tinha 9 anos, em 8 de Abril 1990. E não foi qualquer jogo, foi especial – foi um Fla-Flu, pela Taça Rio daquele ano. Eu não tinha ideia se o jogo era importante para as nossas pretensões. Ainda pensava como criança.

Nunca vou me esquecer da primeira vez que adentrei o outrora templo sagrado do futebol mundial, o “Maraca de cimento” que as gerações mais jovens só poderão ver em gravações. Aquela quantidade de gente que fervilhava e fazia o estádio tremer. As vozes em uníssono gritando “nense, nense, nense”, de um modo tão agradável quanto inverossímil. A explosão de pó branco que nos banhava como se fôssemos deuses. Se eu já gostava do Fluminense, não apaixonar-se foi impossível após esse dia.

E, para meu deleite infantil, mal começou o primeiro tempo e… gol do Fluminense! Donizete. Minha mente jamais apagou o autor do gol e, devido a isso, pude pesquisar mais sobre o jogo depois de velho. Não lembro do jogo inteiro, infelizmente, mas as impressões sensoriais que ficaram foram internalizadas e, depois desse dia, jamais apagadas. Ali, ao lado de meu pai, eu assumia definitivamente o manto tricolor.

Na saída do estádio, só lembro de ouvir a primeira música que realmente me impressionou como torcedor, a ponto de eu nunca mais esquecê-la: “Sorria, sorria… é tempo de sorrir, sorria… sorria pra chuchu, que o campeão é o Flu, e o resto…”; o resto deixo para o conhecimento de arquibancada de cada um completar. A euforia daquelas pessoas vibrando com uma vitória do Fluminense me fez sentir, pela primeira vez, como parte de um grupo, já que eu era uma criança destacada na escola.

Na volta para casa teve briga de torcidas, algo tristemente normal quando o Flamengo perdia, e lembro de meu pai correr comigo até a estação de trem – e andamos bastante, para fugir da confusão. Naquele dia, a estação de São Cristóvão parecia melancólica. O pós-jogo, apesar da vitória, era solitário e até meio triste, e só entendi isso muitos anos depois: era a saudade do que eu havia vivido. Após descermos na estação Penha Circular, andamos até em casa, uns bons dois quilômetros. E esta foi uma das únicas vezes que meu pai me levou ao estádio.

Queria poder hoje agradecê-lo por ter me deixado o “ser tricolor” como herança, pois todos os valores positivos que hoje associo ao Fluminense estão nele embutidos. Isso certamente me tornou uma pessoa melhor, um homem melhor. Nunca o esquecerei, pai, pois parte do que você foi mora em mim.

Desejo a todos os leitores do Panorama Tricolor e da minha coluna boas festas e que 2016 lhes traga prosperidade, alegria, amor, harmonia e paz. Abraços tricolores.

FLUMINENSE 1 x 0 FLAMENGO
Local: Maracanã (Rio de Janeiro)
Juiz: Pedro Carlos Bregalda
Renda: Cr$ 5.134.000
Público: 53.464
Gol: Donizete, 7 do 1º tempo.
Cartão amarelo: Edu e Luciano
FLUMINENSE: Ricardo Pinto, Alexandre Torres, Válber e Edgar; Marquinhos, Dacroce, Donizete, Renato e Luciano; Sérgio Araújo e Rinaldo (Andriolli). Técnico: Paulo Emílio.
FLAMENGO: Zé Carlos, Mário Carlos, Júnior, André Cruz e Leonardo; Aílton, Edu (Bujica) e Marcelinho; Renato, Gaúcho e Zinho. Técnico: Valdir Espinosa.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: as

assis 1984 montagem

2 Comments

  1. Herdei o amor pelo Fluminense de minha mãe. Eu a levei ao Maraca pela primeira vez. Meu primeiro e único FlaXFlu, prefiro nem comentar!!! Feliz Natal! Um 2016 maravilhoso a todos!

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