Amigos, amigas, talvez essa história tenha começado lá pelos idos de 2008. Para ser mais preciso, no inacreditável 2 de julho. Talvez tenha se iniciado no duelo da semana passada no Maracanã. Cabe a cada um tirar suas próprias conclusões, como é comum em roteiros espetaculares, em que a dúvida se mistura com a emoção, entre a busca do sentido e a humana experiência do simplesmente sentir.
Ao final da noite de quarta, apenas tínhamos a faculdade de sentir, entre berros, impropérios, abraços e lágrimas. O Roteirista não deixou faltar nada nessa trama inspirada, em que a plateia esteve atônita, hipnotizada, desfalecida, reanimada, eufórica e agradecida no final. Uma trama que não terminou ainda, que terá seu final, com data marcada, no dia 4 de novembro. No mesmo Maracanã do fatídico, porém não menos magistral, 2 de julho de 2008.
Passada a euforia, temperada com incredulidade, tentamos buscar sentido, explicações, lógica. Porque o Fluminense esteve por duas vezes no chão, praticamente liquidado, sem que pudéssemos enxergar uma saída. No Maracanã, depois de levarmos a virada com um homem a menos desde os 38 minutos da etapa inicial, jogando mal, fomos salvos de um desfecho desolador pelos pés do argentino iluminado.
É impossível escrever a história do Fluminense bicampeão estadual e finalista da Libertadores desse ano sem se atribuir o protagonismo a Germán Cano. O artilheiro do “um toque só”, que se reproduz no campo, assumindo novas atribuições, como no gol de empate do Flu na noite de ontem, quando assiste Jhon Kenedy de forma magistral. No gol da virada, não sei se as amigas e amigos repararam, ele sorri antes mesmo do arremate, como uma criança eufórica após receber o presente desejado. Porque sabe o iluminado que bola para ele na área, livre e de frente para o gol, é gol.
A primeira comemoração da noite veio com a escalação. Diniz decidiu fortalecer o meio de campo para acabar com a farra colorada presenciada no primeiro jogo. Tirou JK e escalou Alexsander. Quem poderia esperar que fosse caber ao “caçador de urubu” (houve um tempo em que esse era o Aldo, e literalmente) o protagonismo do jogo?
Voltemos, porém, à linearidade da narrativa. O Inter teve a primeira oportunidade logo no início do jogo. Fábio mandou a bola a escanteio. Fábio, o grande herói de inúmeras batalhas em 2023, tropeçou nos pés de Nino na sequência, quando se preparava para rebater a cobrança do escanteio. No chão, neutralizado, viu Mercado subir de cabeça e balançar as redes tricolores.
Um duro golpe, mas nada que se pudesse parecer com um nocaute. Ele quase veio na sequência, com Felipe Melo e Marcelo batidos com o mesmo drible, mas com Fábio se redimindo. O que veio depois foi o Fluminense tentando praticar sua própria arte, com associações, quase sempre pelo lado esquerdo, que esbarravam em atuação nada iluminada de Keno.
Vez ou outra, era o Inter quem se apossava da bola e fazia o tempo passar, provocando cólera nos corações tricolores. Ao final da primeira etapa, tudo que sabíamos era que algo precisava ser mudado. Diniz trouxe Martinelli para o jogo, tirando Huf Huf, e JK, promovendo a saída de Alexsander.
Quem andava pelo último fio de cabelo com o tal 4-2-4, lá estava ele de volta, infrutífero, um convite para o Inter liquidar o jogo. Ao longo da segunda etapa, enquanto o Fluminense mal ameaçara o gol colorado, Enner Valência teve três oportunidades de liquidar a fatura. Desperdiçou as três, deixando a impressão de que algo no ar nos dava a impressão de que estávamos experimentando uma impressão errada sobre o desfecho do magnífico roteiro.
Mal nos déramos conta de que já estávamos com cinco, e não mais quatro, atacantes em campo, graças à entrada de Yony Gonzáles no lugar de Guga. Ganso também saíra para a entrada de Lima. Estaríamos aqui agora a linchar mentalmente Fernando Diniz por tais delírios, não fosse o que estava por vir.
A jogada do gol de empate tem a assinatura do estilo Diniz de ser e jogar futebol. A bola sai de Fábio, passa de pé em pé, mas sempre verticalmente. Keno tenta espetar uma bola para Marcelo (sim, ele ainda estava em campo). O gênio dá um corta-luz e a bola chega aos pés de Germán Cano, com a defesa do Inter aberta, algo que não pode acontecer num jogo decisivo. Mais uma vez, com a faca e o queijo na mão, o Inter começava a entregar a rapadura, a exemplo do que acontecera no primeiro jogo, quando, tendo a chance de liquidar o Tricolor, decidiu se acomodar com o 2 a 1.
Cano tem paciência e categoria para escolher o passe perfeito, deixando JK na cara do goleiro. Uma cavada de pé trocado, a bola supera o goleiro colorado, mas Renê está na cobertura, mas a gente sabe que o Renê foi o escolhido pelo Gravatinha para ser obsediado. O lateral colorado entra com bola e tudo, empate decretado e, no ar, um suspense de abalar os nervos de um monge tibetano.
Não demora muito para que o Flu faça uma nova trama ao modo Diniz, já com Marlon em campo no lugar de Keno, para recompor o sistema defensivo. Estarrecida, a plateia vê a condução de bola de Nino. Sem receber o devido combate, já que o Inter parecia baratinado e sem saber bem como reagir ao golpe, Nino avança e faz passe magistral para André, escancarando a defesa colorada. André avança e aciona o argentino extraordinário, que dá um tapa de primeira para Yony González e corre para a área para a consagração final.
O lance transcorre em velocidade, mas com muita plasticidade. Yony também cruza de primeira. JK dá um leve toque de calcanhar na bola, que se oferece para ele, sempre ele, incrivelmente ele, bater impiedosamente no canto direito, sepultando os sonhos colorados e levando milhões de tricolores mundo afora ao delírio.
Fábio ainda faz grande defesa, evitando gol em cabeçada perigosa de Luiz Adriano. Em mais uma trama diabólica tricolor, JK arrancou livre para tentar driblar o goleiro e perder o gol, que não fez ou fará falta alguma.
Teremos um mês até a final para resgatarmos o grande futebol que praticamos até o primeiro quadrimestre desse ano. Com erros e acertos, como é a praxe da vida, seguimos caminhando. Agora é pensar no Brasileiro. Temos uma nova decisão no domingo contra o líder do campeonato. Que venham de volta as grandes exibições.
Saudações Tricolores!
E pensar que JK quase saiu a preço de banana, como tantos de Xerem. Falei aqui em casa, que eu preferia sacar Keno a JK, este não pode + ficar fora, que se pense e ache alguém pra sair, essa dupla com Cano vai dar muito caldo. Com o Boca, teremos que ter intensidade e ter cuidado com a tradicional carimba e truculência, na bola, eles não fazem frente. Rumo ao título, ST…..
Perfeitos: roteiro e crônica.